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Vacina da chikungunya do Butantan mantém produção de anticorpos em 98% dos imunizados após um ano de aplicação

Estudo clínico de fase 3 conduzido no Brasil em parceria com a farmacêutica Valneva acompanhou adolescentes vacinados durante 12 meses; imunizante mostrou-se seguro e eficaz


Publicado em: 21/01/2025

Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Renato Rodrigues e Andre Ricoy 

 

Novos dados divulgados nesta segunda (20) mostraram que a imunidade provocada pela vacina da chikungunya, desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica franco-austríaca Valneva, se sustenta após um ano da aplicação da dose única. Os resultados foram obtidos durante o ensaio clínico de fase 3 conduzido pelo Butantan com 750 adolescentes de 12 a 17 anos que vivem em áreas endêmicas da doença no Brasil. Ao final de 12 meses de acompanhamento, 98,3% dos jovens ainda produziam anticorpos contra o vírus.

Em setembro do ano passado, o Butantan publicou os primeiros resultados do estudo em adolescentes na The Lancet Infectious Diseases. No 28º dia após a vacinação, foi detectada produção de anticorpos em 100% dos voluntários com infecção prévia e 98,8% naqueles sem contato anterior com o vírus. Após seis meses, a proteção se manteve em 99,1% dos participantes.

A pesquisa vem sendo realizada desde 2022 e incluiu jovens que vivem em áreas endêmicas, ou seja, de grande circulação do vírus: São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR).

O efeito positivo em adolescentes corrobora os resultados do ensaio clínico de fase 3 em adultos feito nos Estados Unidos, que incluiu cerca de 4 mil voluntários de 18 a 65 anos. A imunogenicidade foi de 98,9% e se sustentou por pelo menos seis meses.
 


 

Os dados do estudo norte-americano baseiam o pedido encaminhado pela Valneva e Butantan à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro de 2023, para autorização de uso definitivo no Brasil do imunizante, primeiro do mundo contra a chikungunya. Ele já foi aprovado para utilização a partir dos 18 anos nos Estados Unidos, pela Food and Drug Administration (FDA), e na Europa, pela European Medicines Agency (EMA). Os dados da pesquisa nos brasileiros mais jovens deverão sustentar uma futura ampliação da faixa etária da solicitação feita à Anvisa – que prevê a aplicação do imunizante na população de 18 a 65 anos.

Tanto o estudo brasileiro como o norte-americano atestaram que a vacina da chikungunya é segura e bem tolerada entre adolescentes e adultos. Nenhum problema de segurança foi detectado pelo comitê independente e a maioria das reações adversas foi leve a moderada.
 

 

Risco de chikungunya aumenta no verão

A chikungunya é uma doença viral amplamente distribuída no mundo que pode causar dor crônica nas articulações. O vírus é transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite dengue e Zika. O inseto se prolifera mais durante o verão devido ao calor e ao grande volume das chuvas – por isso, a época requer atenção redobrada nas medidas de prevenção. A principal é eliminar toda água armazenada que pode se tornar um possível criadouro, como em vasos de plantas, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e em manutenção etc. Afinal, é na água parada que o mosquito deposita seus ovos.

Só no primeiro semestre de 2024, foram registrados 233 mil casos prováveis de chikungunya no Brasil, um aumento de 78,8% em relação ao mesmo período de 2023, segundo boletim do Ministério da Saúde. A região com maior incidência foi a Sudeste (200,2 casos por 100 mil habitantes), seguida das regiões Centro-Oeste (187,6 casos/100 mil habitantes) e Sul (108,6 casos/100 mil habitantes). Ao todo, no ano passado, foram 267 mil casos prováveis e 213 óbitos confirmados.

A infecção por chikungunya provoca febre alta (acima de 38,5°C), dor de cabeça, dor muscular, dor intensa nas articulações e manchas vermelhas no corpo. Em casos mais graves, pacientes podem desenvolver dor crônica nas articulações, que pode durar anos.

Saiba diferenciar os sintomas de dengue, chikungunya e Zika e conheça as possíveis complicações de cada doença