Reportagem: Camila Neumam
Fotos: Comunicação Butantan
Fotomontagem: Manu Ferreira
A paixão pela ciência desde a infância, a vontade de trabalhar no Butantan e o reconhecimento pelo trabalho científico realizado no Instituto foram relatados em dezenas de reportagens do Portal do Butantan em 2024. Algumas delas mostram pesquisas premiadas, mas todas destacam a paixão pelo trabalho científico.
Conheça a retrospectiva deste ano com as histórias de pesquisadores e de jovens cientistas que fazem a missão do Butantan ser possível a cada dia: trabalhar a serviço da vida.
A diretora técnica de produção de soros do Instituto Butantan, Fan Hui Wen, fala sobre importância dos soros antiveneno em podcast da OMS
JANEIRO
Diretora do Butantan participa de podcast da OMS
A diretora técnica de produção de soros do Instituto Butantan, Fan Hui Wen, foi uma das convidadas do podcast Global Health Matters, produzido pelo Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais da Organização Mundial da Saúde (TDR/OMS). A iniciativa discute o combate a doenças tropicais negligenciadas, como os acidentes ofídicos, e faz parte das estratégias traçadas pela OMS para reduzir em 50% a mortalidade dos casos de envenenamento por picada de cobra e aumentar em 25% a disponibilidade de soros antivenenos em todo o mundo até 2030.
A pesquisadora Mônica Lopes Ferreira é responsável pela linha de pesquisa sobre peixes peçonhentos no Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantan (LETA)
Nascida em Maceió (AL), a pesquisadora Mônica Valdyrce dos Anjos Lopes Ferreira, de 56 anos, começou sua trajetória no Butantan durante um estágio com o imunologista Ivan Mota, diretor do Laboratório de Imunopatologia do Instituto nos anos 1990. Hoje ela é responsável pela linha de pesquisa sobre peixes peçonhentos e de um novo modelo animal de estudo: o zebrafish (Danio rerio), no Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantan (LETA).
FEVEREIRO
Graduada em Farmácia-Bioquímica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Solange Maria de Toledo Serrano, pesquisadora científica do Laboratório de Toxinologia Aplicada (LETA) do Butantan, percebeu logo nos primeiros meses após a faculdade que o laboratório clínico não era o seu lugar. Há 40 anos, saiu de Bauru, sua cidade natal, em busca de uma nova chance e bateu às portas do Instituto Butantan com a coragem de um sonho. Hoje, após se redescobrir no universo ofídico, ela lidera um grupo de pesquisa que é especialista na análise de toxinas de venenos de serpentes e seus efeitos.
O pesquisador científico Felipe Grazziotin é curador da Coleção Herpetológica Alphonse Richard Hoge do Butantan
MARÇO
O Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan iniciou um projeto voltado para o restauro e modernização do acervo herpetológico da instituição, que foi danificado em mais de 80% por um incêndio em maio de 2010. Batizado de Projeto ReCoBra – Recuperação das Coleções Herpetológicas Brasileiras, o programa pretende coletar, tomografar, sequenciar e repatriar digitalmente espécimes de serpentes de toda a América do Sul.
ABRIL
Com olhar sempre atento à saúde dos pequenos e grandes residentes do Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan, o biólogo Lucas Simões Lima é responsável por atividades bastante especiais, como montar “piscinas de bolinhas” e paredes escaláveis para cobras, estruturas que promovem o chamado enriquecimento ambiental. A técnica, com eficácia comprovada na literatura científica, consiste em simular situações da natureza dentro dos recintos e estimular as capacidades sociais, sensoriais, cognitivas e físicas dos animais. Vassouras, garrafas pet e argolas são alguns dos itens reaproveitados pelo biólogo.
O biólogo Lucas Simões Lima é tecnologista em manejo animal no Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan
Roxane Maria Fontes Piazza, de 64 anos, cresceu em Florianópolis (SC) em uma família ligada à ciência, na companhia de três irmãs e um irmão. A jovem curiosa não imaginava que, tempos depois, se tornaria pesquisadora no Instituto Butantan e referência em diagnóstico de doenças infecciosas. Hoje, é pesquisadora nível VI do Laboratório de Bacteriologia, que dirigiu entre 2005 e 2011 – e não se imagina fazendo outra coisa.
MAIO
A biomédica Camila Lima Neves fez iniciação científica, mestrado e doutorado no Laboratório de Fisiopatologia do Butantan, sob orientação da pesquisadora científica Sandra Coccuzzo, e foi contratada há dois anos como tecnologista de laboratório. Em suas pesquisas, estuda os efeitos anti-inflamatório, imunomodulador e antitumoral da crotoxina, toxina extraída do veneno da cascavel. No tempo livre, joga futebol e não economiza gols.
A biomédica Camila Lima Neves é tecnologista do Laboratório de Fisiopatologia do Butantan
JUNHO
A exposição fotográfica What does a scientist look like?, da editora Springer Nature, busca valorizar as diversas percepções da pesquisa científica. Uma das cientistas retratadas, apelidada de “encantadora de cobras”, representa o Brasil com orgulho: a bióloga Eletra de Souza, 32, doutoranda da Universidade de São Paulo (USP) que atua no Laboratório de Ecologia e Evolução (LEEV) do Instituto Butantan. Nos últimos anos, ela tem se dedicado a monitorar os movimentos de jararacas e jararacuçus na natureza e compreender o seu comportamento, com o objetivo de investigar estratégias para prevenir acidentes ofídicos em trabalhadores rurais – principal público afetado pelo problema, com 70% dos casos.
JULHO
Quem conheceu a pequena Gabriella da Cunha, que precisava de uma mãozinha do pai para vencer a timidez e fazer amizades, não imaginaria o futuro que a aguardava nos palcos – de teatro, de dança e, mais recentemente, do auditório de um dos maiores institutos de pesquisa do país. Aos 25 anos, a biomédica natural de Campinas (SP) pesquisa sobre um vírus de serpentes chamado chuvírus. Geralmente, ele aparece em coinfecção com o reptarenavírus, que causa doença grave em cobras como jiboias e sucuris e leva a perdas severas em coleções de serpentes ao redor do mundo.
A pesquisadora científica Luciana Cerqueira Leite foi nomeada para o Comitê Consultivo Científico da Coalizão para Promoção de Inovações em prol da Preparação para Epidemias
A pesquisadora científica do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan Luciana Cerqueira Leite foi nomeada para o Comitê Consultivo Científico da Coalizão para Promoção de Inovações em prol da Preparação para Epidemias (CEPI, na sigla em inglês). Formada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), doutora pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutora pelo Instituto Pasteur, na França, Luciana é hoje referência no desenvolvimento de vacinas. Ao longo de sua trajetória profissional, tem empenhado esforços no desenvolvimento de projetos importantes para a saúde pública, como uma vacina de BCG recombinante – uma possível alternativa mais efetiva no combate à tuberculose – e o da Onco rBCG – terapia utilizada no tratamento de câncer de bexiga.
AGOSTO
A bióloga e pós-doutoranda do Instituto Butantan Rafaella Sayuri Ioshino, 40, tem um carinho especial por insetos. Fez Ensino Médio em Goiânia e graduação em Biologia na Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, onde conseguiu uma bolsa de iniciação científica na parasitologia para estudar o Trypanosoma cruzi, protozoário que causa a doença de Chagas. No final da faculdade, procurou no site da Universidade de São Paulo (USP) uma oportunidade de mestrado na mesma área, mas algo diferente fez seus olhos brilharem: o Laboratório de Mosquitos Geneticamente Modificados. Atualmente ela trabalha analisando os mosquitos Aedes aegypti infectados por diferentes vírus sob supervisão da pesquisadora Maria Carolina Sabbaga, diretora do Laboratório de Ciclo Celular do Butantan.
A bióloga Rafaella Sayuri Ioshino estuda mosquitos Aedes aegypti infectados por diferentes vírus no Laboratório de Mosquitos Geneticamente Modificados do Butantan
SETEMBRO
Após isolamento na pandemia, fã de Bum Bum Tam Tam estuda remédio contra depressão no Butantan
O isolamento da pandemia impediu o estudante de Biotecnologia Kim Silva de Queiroz de ter aulas na faculdade, mas também o levou a sonhar em pesquisar algum fármaco contra a depressão. O sonho passou a ser estudar um remédio para a doença no Butantan, depois que ele assistiu ao clipe da música “Bum Bum Tan Tan” – uma paródia de McFioti que incentivava à vacinação com a CoronaVac, vacina feita pelo Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. O que era sonho virou realidade: hoje Kim faz iniciação científica no Laboratório de Farmacologia no Butantan sob orientação da pesquisadora científica Ana Leonor Abrahao Nencioni.
O estudante de Biotecnologia Kim Silva de Queiroz faz iniciação científica no Laboratório de Farmacologia do Butantan
No fundo de um quintal em Porto Alegre (RS), nas décadas de 1970 e 1980, crescia uma curiosa (e preciosa) coleção dos mais variados insetos e aracnídeos. O responsável pela coleta e cuidado dos bichos, então menino, deixava a mãe de cabelo em pé com o passatempo. Se aventurava no mato para admirar as peculiaridades da natureza, quando visitava os avós no interior, e comprava livros de zoologia para tentar dar nome ao que encontrava. E foi começando assim, com eterna curiosidade, que Antonio Domingos Brescovit se tornou pesquisador científico do Instituto Butantan e um dos maiores aracnólogos do mundo.
O pesquisador científico Antonio Domingos Brescovit é diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan
OUTUBRO
Com cabeça de jiboia e fosseta de víbora, o Ouroboros tatuado no braço de Leticia Corcino conta uma história: o símbolo da serpente que morde a própria cauda remete à eternidade, ao ciclo da vida. Para a bióloga recém-formada, representa a sua trajetória no Instituto Butantan – um sonho que começou aos 9 anos de idade, durante um passeio familiar, e se concretizou há pouco mais de dois anos com uma oportunidade de iniciação científica. De lá para cá, ela ajudou a validar um novo alvo para tratamento da esclerose múltipla, estudou moléculas de veneno contra a doença de Chagas e foi finalista no Prêmio Jovem Cientista, promovido pelo Instituto.
NOVEMBRO
Em meio a béquers, pipetas e tubos de ensaio, Svetoslav Nanev Slavov cresceu assistindo às aulas da avó materna, professora de Química em uma escola de Veliko Tarnovo, norte da Bulgária. Lá passou boa parte da infância, embora tenha nascido na cidade portuária de Varna. Foi assim, acredita ele, que acabou surgindo um cientista em uma família de engenheiros. Hoje, aos 43 anos, do outro lado do Atlântico, Svetoslav estuda vírus emergentes no Instituto Butantan e trabalha com diagnóstico de doenças infecciosas, tendo exercido papel fundamental na Rede de Laboratórios para Diagnóstico do SARS-CoV-2 durante a pandemia.
A tecnologista do biotério do Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan Fabíola Rodrigues é responsável pelo manejo e supervisão de jararacas e jararacuçus
Desde a infância, Fabíola Rodrigues sabia que queria trabalhar com animais silvestres – só não imaginava que a vida a levaria a se apaixonar por serpentes. Foi durante a graduação em Biologia que ela conheceu o estudo e manejo de ofídios, em uma palestra do médico veterinário Daniel Stuginski, do Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan. Hoje, ela trabalha lado a lado com Daniel, e é responsável pelo manejo e supervisão de jararacas e jararacuçus. É das serpentes que Fabíola cuida que sai a matéria-prima do soro antibotrópico, um dos mais antigos do Butantan e o tratamento antiofídico mais utilizado do Brasil.