Uma pesquisa conduzida em São Paulo com indivíduos com alto risco de trombose, portadores de uma doença autoimune chamada síndrome antifosfolípide, mostrou que a CoronaVac é uma vacina segura e eficaz para esse público. O trabalho foi publicado na revista Lupus por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e coordenado pela pesquisadora e médica reumatologista Eloisa Bonfá, diretora clínica do Hospital das Clínicas da FMUSP.
Relatos recentes no exterior de casos de trombose em pessoas que haviam tomado vacinas de adenovírus chamaram a atenção da comunidade científica. Para avaliar esse risco no caso da CoronaVac, vacina de vírus inativado, os pesquisadores selecionaram 44 pacientes com síndrome antifosfolípide e 132 controles, com idade média de 46 anos. Todos os participantes receberam duas doses da CoronaVac.
Em relação à quantidade de anticorpos antifosfolípides em pacientes com a síndrome, não foi encontrada diferença significativa entre as amostras coletadas antes e depois da vacinação, mostrando que a CoronaVac é segura e não influencia na doença. Os voluntários foram acompanhados durante seis meses e nenhum evento trombótico foi observado nesse período.
“Indivíduos com a síndrome frequentemente apresentam comorbidades como hipertensão, obesidade e dislipidemia, que também podem favorecer eventos coagulantes, mas isso não aconteceu em nenhum caso”, reforçam os pesquisadores no artigo.
A vacina também se mostrou altamente imunogênica. Seis semanas após a segunda dose, ambos os grupos apresentaram soroconversão elevada e comparável, com produção de anticorpos IgG em 83,9% dos pacientes e 93,5% dos controles. Os pacientes também apresentaram alta positividade para anticorpos neutralizantes (77,4%), com atividade de 64,3%. Não foram observados efeitos adversos graves nem moderados.
Segundo os cientistas, os achados de segurança e imunogenicidade apoiam a recomendação da CoronaVac para os pacientes com síndrome antifosfolípide.
Eficácia da terceira dose em pacientes reumáticos
Essa pesquisa faz parte de um grande estudo prospectivo controlado de fase 4 feito com pacientes com doenças reumáticas autoimunes no Hospital das Clínicas da FMUSP. Outra pesquisa recente desse grupo mostrou que a terceira dose da CoronaVac promove resposta imune robusta nesses indivíduos, aumentando a produção de anticorpos IgG para 90% e a positividade de anticorpos neutralizantes para 81,4%.
*Este texto é uma colaboração do jornalista científico Peter Moon para o portal do Butantan