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Cientistas do Butantan identificam novo alvo para tratar infecções bacterianas da corrente sanguínea e evitar morte por sepse

Busca por alternativas de tratamento é importante devido à disseminação de bactérias com resistência a antibióticos


Publicado em: 24/06/2022

Um grupo de pesquisadores do Instituto Butantan identificou uma proteína produzida pela bactéria Escherichia coli, denominada Sat, que pode ser usada como um novo alvo para combater infecções – especialmente no contexto atual, com cada vez mais bactérias resistentes a antibióticos. Isso porque a Sat tem um papel importante para proteger a bactéria contra a resposta imune do organismo. Assim, é possível buscar novos compostos que inibam essa proteína para tratar a infecção, ajudando o sistema imune a combater a bactéria de forma mais eficiente. O estudo foi publicado na revista Frontiers in Immunology e é fruto do doutorado da pesquisadora Claudia Freire, sob coordenação dos pesquisadores do Laboratório de Bacteriologia, Waldir Elias e Angela Barbosa.

O trabalho analisou cepas da bactéria E. coli coletadas de pacientes com infecção na corrente sanguínea (bacteremia), obtidas do Hospital São Paulo em colaboração com a pesquisadora Rosa Maria Silva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Para terem sucesso causando infecção na corrente circulatória, as bactérias dispõem de vários fatores de virulência, ou seja, mecanismos que as ajudam a driblar o sistema imune do hospedeiro. Descobrimos que a proteína Sat é um desses fatores, já que estava presente em alta frequência nas cepas analisadas”, explica Waldir.

Em testes pré-clínicos, os cientistas compararam modelos animais infectados com a bactéria selvagem ou com uma bactéria modificada geneticamente (que não produzia a proteína Sat). O grupo infectado pela bactéria selvagem morreu em 48 horas. Já no segundo grupo, houve uma redução de 50% da letalidade, e mesmo os modelos animais que acabaram morrendo sobreviveram por mais tempo do que os do primeiro grupo.

Segundo Claudia, Sat é uma protease: uma enzima que quebra proteínas. Durante a infecção, a bactéria secreta essa enzima na corrente sanguínea, que consegue destruir as proteínas do sistema complemento (conjunto de proteínas do sistema imune que respondem rapidamente a uma infecção). Isso ajuda a bactéria a resistir às defesas do indivíduo. Com a infecção se agravando, a resposta imune se intensifica e pode sair do controle, causando danos ao próprio organismo. Essa condição, chamada de sepse, causa cerca de 300 mil mortes por ano no Brasil e mais de 6 milhões no mundo, de acordo com o Instituto Latino-Americano de Sepse e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Conhecer um dos principais fatores de virulência da bactéria E. coli é uma chave para buscar novos tratamentos para bacteremias, que podem ser aplicados logo no início da infecção, evitando que a doença se agrave e que o paciente evolua para sepse. O próximo passo da equipe é tentar identificar compostos que inibam a produção da proteína Sat na bactéria. “Além de prevenir a sepse, esses fármacos alternativos poderiam reduzir a necessidade de antibióticos e ajudar a combater a resistência bacteriana, que é outro grande problema de saúde pública”, destaca Waldir.