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Retomada das altas coberturas vacinais depende de melhor gestão de dados para políticas públicas, diz Ministério da Saúde

Programa Nacional de Imunizações trabalha em ajustes de seu sistema de informação para atingir mais a ponta e conseguir agir contra queda nas coberturas


Publicado em: 27/10/2023

Com a meta de retomar os altos índices de vacinação no Brasil, em queda desde 2016, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) elencou uma prioridade zero: ajustar seu sistema de informação com o intuito de aprimorar políticas públicas, especialmente em relação à vacinação de crianças e adolescentes. 

A meta foi discutida no 5º Fórum de Políticas Públicas da Saúde na Infância, promovido pela Fundação José Luiz Egydio Setúbal e sediado no Instituto Butantan. Especialistas do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), entre outras entidades públicas e privadas, abordaram os principais problemas estruturais que impedem essa retomada e deram exemplos de gestões municipais que conseguiram dirimi-los e reduzir a queda nas coberturas.

“Não há como fazer política pública neste país sem informação. Precisamos que todas as esferas de gestão do PNI tenham disponíveis o dado correto e em tempo oportuno, senão os gestores perdem tempo de ação. A prioridade zero do PNI é o sistema de informação”, disse a coordenadora-geral de Insumos e Rede de Frio do Departamento de Imunizações e Doenças Imunopreviníveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Thayssa Fonseca. “O nosso foco é parar a tendência de queda e começar a ver a subida nas coberturas de vacinação nos próximos anos. Mas, em primeiro lugar, é concentrar as ações no sistema de informação de dados.”

A coordenadora-geral de Insumos e Rede de Frio do Departamento de Imunizações e Doenças Imunopreviníveis, Thayssa Fonseca, em evento sediado no Butantan

 

Corrida contra o tempo

O Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI) forma um conjunto de sistemas que registra, por faixa etária, as doses de imunobiológicos aplicadas e calcula a cobertura vacinal por unidade básica, município, regional da Secretaria Estadual de Saúde, estado e país. 

Criado em 2010, o SIPNI passa por constantes atualizações, embora ainda enfrente o desafio de conseguir unir as informações de todas as unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Falta de computadores, de rede de internet e de pessoal capacitado são apenas alguns dos problemas que impactam na vacinação no país, somados a dificuldades logísticas e estruturais de toda ordem. 

Além disso, gestões municipais e estaduais trabalham com sistemas informatizados próprios nos quais são preenchidos os dados de vacinação. Somente depois é que eles são preenchidos no SIPNI, o que nem sempre acontece com celeridade ou da forma correta.

“É uma corrida contra o tempo, porque precisamos fazer com que essas coberturas aumentem, mas como fazer isso sem os dados repassados de forma eficiente, segura? O planejamento de compras, de evitar perdas, assim como todo o movimento da cadeia de suprimentos batem no sistema de informação. Os gestores precisam dos relatórios e nós também”, ressaltou Thayssa.

Apagão de dados

Diante do apagão de dados, o PNI se juntou a esferas de gestão estaduais e municipais para diminuir estes gargalos no uso de uma ferramenta de microplanejamento indicada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O Microplanning tem quatro eixos principais: ajudar os municípios a diagnosticar sua situação vacinal; planejar ações de capacitação e melhorias estruturais; captar mais imunizantes se necessário; e, por fim, monitorar e supervisionar o que foi feito e avaliar o que ainda precisa de ajustes. Dentro dessa estratégia está o Projeto Gota, focado em levar vacinas para locais remotos, que deve chegar em mais localidades.

“A vacinação acontece no município, não pode ser apenas uma diretriz do Ministério da Saúde. Precisávamos apoiar os municípios com uma ferramenta, algo que pudesse ser treinado, capacitado e reproduzido. Dentro dessa ação já capacitamos 700 profissionais de diferentes estados e municípios”, disse Thayssa.

Dentro da estratégia de capacitação está ainda educar profissionais de saúde sobre a importância da imunização e fazer treinamentos de reciclagem sobre a introdução de novas vacinas no calendário vacinal. 

“Temos gaps de conhecimento entre os próprios profissionais de saúde na imunização e por isso precisamos retomar estes temas, falar sobre a importância da vacinação, de como isso se coloca dentro da saúde pública e seus impactos. Mas os municípios são autônomos para fazerem suas diretrizes”, afirma.

Thayssa Fonseca em debate com  Luciana Phebo, da Unicef, e Brigina Kemp, representante do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde

A soma de gestores com uma visão mais explícita do que precisa ser ajustado com profissionais capacitados deve trazer bons resultados em médio prazo, segundo a coordenadora.

“A nossa intenção é parar a queda das coberturas vacinais. O PNI precisa ser realista, é um problema muito complexo, que implica no acesso ao imunizante disponível. Já estamos vendo um aumento nas coberturas de HPV e de ACWY, focadas em adolescentes, mas em relação às crianças, principalmente as menores de um ano, que têm mais demanda por vacinas, a gente espera conseguir identificar a parada da queda, embora saibamos que são ações de médio prazo, que dependem de capacitação, planejamento e disponibilidade de imunobiológicos”, refletiu. 

 

Reportagens: Camila Neumam

Fotos: Renato Rodrigues