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Uma transformação que parece mágica: entenda o que é a metamorfose e os segredos por trás do ciclo de vida de alguns insetos

Borboletas, mariposas, formigas e besouros são alguns dos bichinhos que mudam drasticamente seu corpo entre uma fase e outra da vida; processo acaba evitando a competição por comida e contribui para manutenção das espécies


Publicado em: 17/01/2025

Reportagem: Natasha Pinelli
Fotos: Renato Rodrigues

 

A história é mais ou menos assim: uma pequena lagarta sai do ovo, come vorazmente como se não houvesse amanhã, e vai crescendo um pouquinho a cada dia até cair em um sono profundo. Passado algum tempo, a bichinha desperta completamente transformada. Exibindo formas e cores que nada lembram a larvinha que uma vez foi no passado, agora ela voa por aí, encantando como uma linda e exuberante borboleta.

Longe de ser resultado de uma poção mágica ou de um salpico de pó de pirlimpimpim, esse quase “renascimento” tem nome e acontece a todo momento na natureza: chama-se metamorfose, e diz respeito às mudanças drásticas que um animal pode passar ao longo do seu desenvolvimento, desde o nascimento até a fase adulta.

Apesar de ocorrer entre alguns tipos de anfíbios e até de peixes, essa transmutação completa é algo característico dos insetos e fundamental para a perpetuação das espécies que a praticam. Isso porque o fenômeno permite que o “mesmo” bicho tenha necessidades diferentes em fases distintas de sua vida, reduzindo a competição por recursos e aumentando as chances de sobrevivência – enquanto a larva de uma borboleta come folhas, sua versão adulta vai se alimentar de néctar, por exemplo.
 

 

Os diferentes tipos de metamorfose

O processo de metamorfose é tão comum entre os insetos que a classe divide-se de acordo com uma “escala de modificação”. Aquelas espécies que quase não mudam, ou seja, nascem em versões “mini” de suas formas adultas – algo parecido com o que acontece com os mamíferos – são chamadas de ametábolos. Um exemplo desse grupo é a traça de livro.

Já os que mudam um pouquinho, mas não por completo, são os hemimetábolos. Quando eclodem de seus ovos, eles têm formas parecidas ao seu estágio adulto (nessa fase, são batizados de “ninfas”) e, conforme se desenvolvem, vão adquirindo características-chave, como asas e órgão reprodutor. É o caso do gafanhoto, da cigarra, do grilo, do bicho-pau e do louva-a-deus.

Por fim, existem os holometábolos, que passam por enormes transformações não apenas em seu corpinho, mas também no conjunto de características e condições que permite sua sobrevivência no ambiente – como os padrões de alimentação e locomoção. Além das borboletas e mariposas, formigas, abelhas, moscas e besouros são alguns dos muitos insetos que atravessam a chamada “metamorfose verdadeira”. 

 


Detalhes de cada etapa

O ciclo de vida dos insetos que fazem a metamorfose completa é sempre o mesmo, independentemente da espécie, e envolve quatro fases principais: ovo, larva, pupa e adulto. 

Conhecida por suas grandes asas com manchas que lembram os olhos arregalados de uma coruja, a borboleta-coruja (Caligo beltrao) passa por um processo de desenvolvimento que pode durar, aproximadamente, entre cinco e seis meses. Tudo começa quando uma fêmea madura bota diversos ovos bem pequeninos em uma folha de bananeira – mais tarde, a planta vai justamente servir de alimento às futuras larvinhas. 

No segundo estágio da transformação, o objetivo das lagartas é um só: comer, comer e comer para poder crescer. Tanto estica-estica só acontece porque, nessa fase, as bichinhas têm a incrível capacidade de trocar de pele, o que permite aumentar rapidamente o tamanho do seu corpo. Na biologia, cada mudança é batizada de “ínstar” – lembre-se de que algumas lagartas podem machucar feio, por isso, controle seus dedinhos e nada de tocá-las!


 

Após a última troca de pele, a larva para de se alimentar e busca um lugar seguro e protegido, para entrar em paz em um “estado de dormência”. Começa então a fase de pupa, quando parece que o bichinho foi embalado a vácuo. Também conhecidas por crisálidas, as pupas podem ser “nuas” – caso das borboletas, que ficam penduradas por um pequeno fio de seda – ou protegidas por um casulo – como acontece com o bicho-da-seda e com alguns besouros. 

A partir de então, uma transformação completa e radical vai se desenrolar: os tecidos que dão forma ao corpo da larva serão totalmente reconstruídos. Nessa nova organização das células, surgem as asas, os órgãos reprodutores e outras características típicas dos adultos. O tempo que um inseto passa por essa transformação final pode variar bastante, indo de alguns dias até meses. 

Para deixar a pupa ou o casulo, o bicho – agora maduro – começa a secretar líquidos que ajudam a amolecer a estrutura na qual está envolto. Ao mesmo tempo, faz força para expandir suas asas, até que consiga romper as camadas de proteção. Daí em diante, se reproduzir é tudo o que mais importa para o inseto. Só assim a perpetuação da espécie estará garantida, e o processo de metamorfose terá, de fato, servido ao seu principal propósito.

 

Essa matéria contou com a contribuição e foi validada pelos biólogos e educadores do Museu Biológico Amanda Pereira Duarte e Bruno Schneider, e da bióloga e técnica do Laboratório de Coleções Zoológicas Natália Batista Khatourian.