Reportagem: Camila Neumam
Fotos: Shutterstock
Quando se fala em polinização, o que vem à sua mente? Se for uma abelha espalhando um pozinho entre as flores, você está certo: as abelhas são os maiores polinizadores que existem. Mas saiba que, além delas, há vários outros animais que cumprem esse papel na natureza, como outros insetos, além de aves e mamíferos. Além disso, a polinização também acontece pela ação do vento e das águas, que carregam o pólen pela vegetação sem a presença de animais ou humanos. Existem ainda técnicas de polinização artificial, que é feita por humanos, chamada de polinização artificial.
Para entendermos melhor os processos naturais, o Portal do Butantan conversou com a técnica do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, Natália Batista Khatourian, que explica essas e outras questões sobre polinização.
A mosca-zangão-europeia (Eristalis tenax) é um exemplo de polinizadora
O pólen é um conjunto de minúsculos grãos, geralmente amarelos, que contêm os gametas masculinos das flores. A polinização é o processo de transferência do pólen das anteras (parte do órgão reprodutor masculino) para o estigma (parte do órgão reprodutor feminino) da flor.
Essa transferência pode ocorrer na mesma flor, o que é chamado de autopolinização, ou entre flores diferentes, conhecida como polinização cruzada.
É através da polinização que ocorre a fecundação dos óvulos existentes no estigma, possibilitando a formação de sementes e frutos. Em resumo, é a polinização que permite o surgimento de novas flores e plantas que dão origem a tantas frutas e vegetais deliciosos!
O beija-flor é um exemplo de ave polinizadora
A polinização feita por animais tem um nome: zoofilia. A maioria dos polinizadores são insetos, como as abelhas - que de fato são as que polinizam o maior número de espécies –, além de borboletas, vespas, mariposas, besouros, moscas, tripes e até formigas (Camponotus crassus), que se alimentam do pólen e do néctar das flores.
Alguns exemplos de borboletas polinizadoras: lagarta das palmeiras (Brassolis sophorae); borboleta-coruja (Caligo eurilochus); Prepona-branca-manchada (Archaeoprepona amphimachus) e borboleta azul (Morpho sp.), entre outras.
Algumas mariposas das famílias Sphingidae, Geometridae, Erebidae e do gênero Manduca sp; assim como os besouros das Famílias Scarabaeidae e Curculionidae, entre outros, também são capazes de polinizar. Até mesmo algumas moscas, especialmente a mosca-zangão-europeia (Eristalis tenax), têm essa capacidade.
Algumas aves também são polinizadoras. É o caso do beija-flor – a ave que mais poliniza espécies –, periquito, sanhaço, maritaca, entre outras. Até alguns mamíferos, como morcegos e lêmures polinizam ao se alimentar de frutos.
Cada tipo de polinização recebe um nome. A polinização por insetos é chamada de entomofilia (termo que vem de entomon, inseto em grego); a polinização por aves, recebe o nome de ornitofilia (palavra que deriva de órnis, ave em grego); a polinização por morcegos é denominada quiropterofilia (termo que vem da junção das palavras gregas cheir, que significa mão, e pteron, que quer dizer asa, porque o morcego é um mamífero que tem asas e dedos).
Geralmente os animais são atraídos pelas cores vibrantes e pelo odor característico das flores – propriedades que as plantas desenvolveram ao longo de sua evolução justamente para atrair polinizadores. Cada animal vai polinizar determinadas espécies de flor ou vegetação. Ao ir de flor em flor, ele carrega parte do pólen de uma para a outra, permitindo que se mantenha o ciclo de polinização e a reprodução de inúmeras espécies vegetais.
As abelhas são os insetos que mais polinizam espécies
A polinização também pode ocorrer sem uma ajudinha animal, processo chamado de polinização abiótica (que não envolve um ser vivo). Isso pode ocorrer de duas maneiras: pelo vento ou pela água. A polinização por vento é chamada de anemofilia e ocorre naturalmente, quando o vento transporta grãos microscópicos de pólen de uma flor ou agente vegetal para outra. Este tipo de polinização tende a ser mais eficaz em distâncias curtas, como em plantações de milho e trigo, entre pinheiros e cedros e em flores como o dente-de-leão.
Já a polinização por água é chamada de hidrofilia e ocorre entre plantas aquáticas que vivem em áreas alagadas, quando o pólen flutua pela superfície líquida até encontrar o estigma de outra planta. No órgão reprodutor feminino, o pólen germina, desenvolvendo tubos microscópicos e fecundando a planta. Este tipo de polinização não é o mais comum entre as plantas aquáticas, já que insetos também podem polinizar algumas dessas espécies.
A Morpho sp. é um exemplo de borboleta polinizadora
A polinização é essencial para ajudar a perpetuar espécies de plantas, o que, consequentemente, influencia na alimentação de muitos outros animais. A manutenção deste ciclo contribui também para garantir o enriquecimento ambiental do local onde ela acontece. Esse enriquecimento ocorre quando as espécies que habitam um determinado lugar vivem da melhor forma possível, ou seja, mantendo suas características e com condições adequadas de sobrevivência.
Um exemplo claro de desequilíbrio ecológico é quando não há presença de certos insetos em área de mata. Este pode ser um indicativo de que há pouco alimento para eles na região, ou seja, uma vegetação empobrecida.
Sendo assim, é muito importante evitar a degradação dos ecossistemas. Ao ver animais polinizadores, como abelhas, borboletas e até mesmo outros insetos que podem incomodar, não tente eliminá-los. Deixe-os fazerem o seu nobre trabalho, que nos garante, além de belas paisagens floridas, vegetais e frutas importantes para a alimentação e para a saúde das pessoas. Os polinizadores têm uma função muito nobre na natureza e cabe a nós ajudá-los neste processo.
Fontes adicionais:
Portal de Educação Ambiental do Estado de São Paulo
Embrapa