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Pequeno e colorido, sapo-ponta-de-flecha “absorve” veneno dos insetos que come para se defender de predadores

De coloração laranja, amarela, vermelha ou azul, esse sapinho é nativo da Amazônia e fabrica o próprio veneno sem se intoxicar


Publicado em: 31/01/2024

Na natureza, a regra é clara: quanto mais colorido e chamativo, maior a ameaça. E com o sapo-ponta-de-flecha (Adelphobates galactonotus), nativo da Amazônia, não é diferente. Com 3 a 4 centímetros de tamanho, ele esbanja cores vibrantes que se destacam na sua pele preta e variam entre laranja, amarelo, vermelho e azul. A característica serve como um alerta para os predadores de que o animal é venenoso.

Mas, diferente de muitos outros anfíbios, esse sapo não é capaz de produzir o próprio veneno. Em vez disso, ele “sequestra” substâncias tóxicas (chamadas de alcaloides) dos insetos de que se alimenta, como formigas e cupins. A dieta desses bichos é composta por fungos que contêm alcaloides e, quando o sapo os ingere, ele acaba absorvendo essas toxinas e as depositando em tecidos especiais na sua pele. É assim que ele se defende de outros animais.

E tem mais: o sapinho consegue acumular grandes quantidades dessas substâncias sem se autointoxicar. 

Sou venenoso: minhas cores fortes servem de alerta para os predadores

 

O Adelphobates galactonotus é da família dos dendrobatídeos (Dendrobatidae), a mesma do sapo mais letal do mundo. Seu veneno é bem menos poderoso do que o de seu parente, mas afeta o sistema nervoso se ingerido em excesso. Em contato com humanos, não causa grandes problemas além de uma irritação na pele.

Com hábitos diurnos, o animal costuma viver longe de rios, em clareiras e zonas de terra firme da floresta amazônica, encontrando-se no chão ou em troncos de árvores caídos. Após o acasalamento, a fêmea deposita os ovos nas águas das bromélias. Por ser bem pequena, costuma colocar no máximo quatro ovos por postura.

E por que o nome “ponta de flecha”? Os anfíbios dessa família costumam ser usados por povos indígenas, que passam o veneno em suas flechas para ajudar na caça ou na defesa contra ataques de outras aldeias.

Outra curiosidade desse bichinho simpático é a grande variação de cores entre as populações da mesma espécie, característica chamada de polimorfismo. Entre todos os dendrobatídeos, são os Adelphobates galactonotus que possuem a maior variedade de colorações. Populações de cores diferentes são encontradas próximas umas das outras, em áreas com condições ambientais muito parecidas.

Endêmica do Brasil, a espécie pode ser encontrada ao sul do rio Amazonas, nos estados do Pará, Tocantins, Maranhão e norte do Mato Grosso.

Vale lembrar que os sapos-ponta-de-flecha moradores do Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan se alimentam somente de pequenas moscas. Por isso, não possuem veneno. O museu abriga duas populações distintas: são sete indivíduos amarelos e dois laranjas.

Você pode me encontrar ao sul do rio Amazonas, nos estados do Pará, Tocantins, Maranhão e norte do Mato Grosso

 

SAPO-PONTA-DE-FLECHA

Espécie: Adelphobates galactonotus, da família Dendrobatidae e do gênero Adelphobates

Onde habita: Amazônia, concentrando-se ao sul do Rio Amazonas

Características físicas: mede de 3 a 4 centímetros e possui cores que variam entre amarelo, laranja, vermelho e azul; pode ser preto com manchas coloridas ou colorido por inteiro

Alimentação: insetos como formigas, cupins e moscas

Curiosidades: é o anfíbio com a maior variedade de cores e “fabrica” o próprio veneno por meio da alimentação

 

Você pode visitar este e outros animais incríveis no Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan.

Povos indígenas passam o meu veneno em suas flechas para ajudar na caça ou na defesa contra ataques de outras aldeias

 

Esse texto foi produzido com a colaboração dos biólogos Adriana Mezini e Marcelo Stefano Bellini Lucas, do Museu Biológico do Instituto Butantan.

 

Reportagem: Aline Tavares

Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan