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Onde eu consigo o soro para picada de animais peçonhentos? Antivenenos produzidos pelo Butantan são distribuídos pelo SUS

Soros que tratam acidentes com picadas de cobra, escorpião, aranha e lagartas podem ser encontrados em unidades de referência em todo o Brasil; veja lista de hospitais


Publicado em: 30/07/2024

É na hora da picada de aranha, cobra, escorpião ou lagarta que fazemos esta pergunta: onde eu consigo o soro antiveneno? A indicação médica é procurar o serviço de saúde mais próximo do local do acidente, de preferência com o animal armazenado em algum recipiente fechado ou uma foto nítida dele para ajudar no diagnóstico. Se não houver soro disponível neste local, o paciente deverá ser transferido para uma unidade de referência, onde receberá o tratamento. 

O Instituto Butantan é o maior produtor de soros antiveneno do país, mas não fornece soros diretamente para a população. Os soros antiveneno produzidos no Brasil são distribuídos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Podem estar disponíveis em hospitais públicos, filantrópicos ou privados, desde que seja garantido o tratamento sem custo ao paciente. O Butantan é sede de um deles, o Hospital Vital Brazil (HVB), referência em atendimento de picadas com animais peçonhentos.

Veja a lista de hospitais de referência no Brasil.

O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado de São Paulo (CIEVS) também disponibiliza um mapa com a localização dos hospitais de referência em São Paulo. Veja aqui.

“Nós temos a clareza que os soros antiveneno produzidos pelo Instituto Butantan devem estar acessíveis às populações que necessitam. À medida que contribuímos para aumentar essa acessibilidade, estamos cumprindo a nossa missão, que é estar a serviço da vida”, afirma a diretora técnica de produção de soros do Instituto Butantan, Fan Hui Wen.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os acidentes ofídicos afetam mais de 5 milhões de pessoas no mundo. Destes, até 2,7 milhões adoecem e quase 140 mil evoluem a óbito. Estes acidentes também podem deixar sequelas físicas e psicológicas. As picadas de cobra acarretam três vezes mais amputações e outras deficiências permanentes anualmente, que incluiu o ofidismo no rol de doenças tropicais negligenciadas.

No Brasil e na América Latina, os envenenamentos por serpente são um sério problema de saúde pública. Esses animais foram notificados como responsáveis por quase 30 mil registros no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) em 2022. Os estados que mais notificaram acidentes ofídicos foram Pará, com 5.695 (19,28%), Bahia, com 3.002 (10,16%) e Minas Gerais, com 2.880 (9,75%), segundo dados do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde.
 

Soro contra a toxina botulínica é produzido no Instituto Butantan


Maior produtor de soro do Brasil

O Butantan produz 8 tipos de soros contra picadas de cobras, escorpiões e lagartas (lonomias), além de soros para tratamento do botulismo, raiva, tétano e difteria, totalizando 12 tipos diferentes de soros. A linha de produção dos soros antiveneno do Instituto é certificada em Boas Práticas de Fabricação (BPF) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

O Butantan é o único produtor brasileiro que possui essa certificação e, por isso, também o único qualificado, no momento, para fornecer soros antiveneno ao SUS. A cada ano, são encaminhados cerca de 600 mil frascos ao Ministério da Saúde, que repassa aos estados, que transferem aos municípios. 

“Os soros que produzimos são enviados para um centro de armazenamento e distribuição do Ministério da Saúde em Guarulhos, ao lado do aeroporto Internacional, em São Paulo, cujo transportes e armazenamento é feito de modo a garantir que os produtos permaneçam refrigerados”, esclarece Fan.

A produção de soros antiveneno do Butantan remonta à sua fundação, quando o médico e sanitarista Vital Brazil (1865-1950) produziu os primeiros lotes e descobriu a especificidade do soro antiofídico no início do século XX. Pouco depois, ele também iniciou a produção do do soro antitetânico e do soro antidiftérico. O soro contra picadas de aranha, e o soro antiescorpiônico vieram em seguida. 

Os estudos de Vital comprovaram a eficácia dos soros antiveneno na neutralização do veneno do animal peçonhento injetado na circulação sanguínea, e ao evitar a evolução do envenenamento, que causa sequelas ou mesmo o óbito. Comprovou a eficácia dos antivenenos mantendo correspondência com profissionais de saúde do interior do país, para onde o soro antifofídico era enviado, solicitando a essas informações sobre a evolução dos pacientes que receberam os antivenenos.

No ano passado, o Butantan assinou um acordo com o Ministério da Saúde para o investimento de R$ 315 milhões, sendo que parte deste valor será usado na finalização da planta de soros liofilizados no parque industrial do Instituto.

Saiba mais sobre o processo de produção dos soros do Butantan.

 

O antiveneno que trata pacientes picados por jararaca é distribuído pelo SUS

 

Distribuição dos soros

Os soros antiveneno chegam aos estados e municípios considerando a situação epidemiológica dos agravos para os quais o Butantan dispõe dos soros específicos, seja para acidentes por animais peçonhentos, doenças infecciosas (como difteria, tétano e botulismo) ou nas situações em que há indicação do soro antirrábico na profilaxia pós-exposição ao vírus rábico, e os quantitativos de frascos são distribuídos para cada unidade federal que se incumbe de descentralizar a disponibilidade para os municípios. Estes, por sua vez, definem quais os serviços de saúde onde esses soros devem estar acessíveis. 

Outro ponto importante levado em conta na distribuição são os estoques de imunobiológicos disponíveis estadual e nacionalmente, bem como os cronogramas de entrega a serem realizados pelos laboratórios produtores. A análise destes fatores é feita pela Coordenação Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial (CGVZ), órgão do Ministério da Saúde.

Os estados devem utilizar o Sistema de Informação de Insumos Estratégicos (SIES), do Ministério da Saúde, para solicitação de pedidos de imunológicos de rotina e complementares. As autorizações das solicitações estaduais de imunobiológicos são realizadas no SIES e inseridas no Sistema de Administração de Material (SISMAT).

Segundo o Informe de Distribuição de Imunobiológico aos Estados, divulgado pelo Departamento de Imunização e Doenças Imunopreveníveis do Ministério da Saúde em julho de 2023, é importante que os estados e municípios aloquem os soros de forma estratégica, principalmente nas áreas onde há maior risco de acidentes. 

“Reforça-se a necessidade do cumprimento dos protocolos de prescrição, a ampla divulgação do uso racional dos soros, rigoroso monitoramento dos estoques no nível estadual e municipal, assim como a alocação desses imunobiológicos de forma estratégica em áreas de maior risco de acidentes e óbitos”, descreve o documento.

Os serviços de saúde estaduais e municipais devem capacitar os profissionais de saúde para realizar o diagnóstico e tratamento em tempo oportuno. A logística de distribuição deve, ainda, evitar o desabastecimento dos soros, mantendo a rede de assistência devidamente preparada para possíveis situações emergenciais de transferências de pacientes e/ou remanejamento de imunobiológicos de forma oportuna. Além disso, o Ministério da Saúde recomenda que “ações educativas em relação ao risco de acidentes, primeiros socorros e medidas de controle individual e ambiental devem ser intensificadas”. 

 

Exemplares dos primeiros frascos de soro antiofídico produzidos no Instituto Butantan


Armazenamento e prazo de validade

Os soros antiveneno são produtos que devem ser armazenados adequadamente para que suas características imunogênicas sejam mantidas até o momento da administração. Para isso, é preciso contar com uma rede de frio, que envolve manter os imunobiológicos em condições adequadas de transporte, armazenamento e distribuição. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) exige que todas as unidades federadas de saúde possuam rede de frio estruturada para o recebimento dos imunobiológicos de rotina. 

Outro ponto importante é a gestão de estoque, que envolve o prazo de validade dos imunobiológicos. Os soros têm validade de 36 meses a partir da data de fabricação, exceto o soro antibotulínico AB que tem validade de 24 meses. Em quaisquer instâncias, recomenda-se otimizar a gestão do estoque armazenado nos Centros de Distribuição federal, estaduais ou municipais, fazendo com que itens com prazo de validade mais curto sejam distribuídos e utilizados antes de itens com prazo de validade mais longo – salvo raras exceções.  

“Ter uma boa distribuição de soros e profissionais de saúde bem treinados são componentes essenciais para o sucesso do controle do envenenamento por picadas de cobra no Brasil. Além do fornecimento do produto, acreditamos que o modelo descentralizado de vigilância e distribuição dos soros, do qual o Butantan é partícipe, é uma forma de outros países alcançarem ou desenvolverem suas próprias curvas de aprendizado, considerando seus aspectos locais e culturais”, conclui Fan.

 

Reportagem: Camila Neumam

Fotos: Comunicação Butantan