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Reduzir disparidades e garantir a representatividade das mulheres é essencial para a sociedade e a ciência

De acordo com a ONU, apenas 28% dos pesquisadores do mundo são do sexo feminino; expectativas sociais e modelos pré-moldados de pensamento fazem com que o grupo seja sub-representado


Publicado em: 05/09/2023

Foi em 1924, mais de duas décadas após a criação do Instituto Butantan, que as mulheres começaram a ser admitidas na organização. A data marcou a entrada da primeira colaboradora, Josepha Navas Fontes, contratada para atuar como bibliotecária. Algum tempo depois, em 1931, Jandyra Planet do Amaral foi a primeira mulher a integrar a área científica do instituto. Formada pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, atual Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, ela começou como estagiária e chegou ao cargo de diretora geral. Desde então, as mulheres têm contribuído ativamente para que o Butantan possa pesquisar, fabricar e fornecer produtos e serviços para a saúde de toda a população brasileira.

 

Meta mundial

Garantir a presença das mulheres em todas as áreas da sociedade, em especial nas de ciência, tecnologia e inovação, tem se mostrado essencial para o desenvolvimento de soluções que impactam e beneficiam a humanidade como um todo. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a igualdade de gênero é um direito humano fundamental e parte integrante da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável

 

De acordo com as Nações Unidas, apenas 28% das pesquisadoras do mundo são mulheres

 

Entretanto, as mulheres ainda seguem sub-representadas devido à influência de expectativas sociais e modelos de pensamento presentes em todos os estratos da sociedade. A ciência, a academia e os cargos de alta gestão, assim como outras áreas de elevado nível intelectual, ainda não são vistos pela maioria das pessoas como um lugar de pertencimento das mulheres. Um exemplo é o famoso Prêmio Nobel, que reconhece os principais expoentes das áreas de literatura, medicina, física, química, economia e paz. Desde 1901, 894 homens, 27 organizações e apenas 60 mulheres foram laureadas com o prêmio – entre elas estão a ativista Malala Yousafzai e a física e química Marie Curie (1867-1934), até hoje a única pessoa a ter ganhado dois prêmios em áreas científicas diferentes.

 

Com experiência internacional, Fernanda Boulos está à frente da área de Ensaios Clínicos do Butantan desde 2022

 

“Olhar esses espaços como pertinentes às mulheres ainda é algo que exige desconstrução. Tanto delas, em acreditar que podem fazer parte, como dos homens, que tradicionalmente sempre estiveram ali”, diz a diretora médica de Ensaios Clínicos do Butantan, Fernanda Castro Boulos. “É importante que eles entendam que não estão perdendo com a chegada delas”, completa.

Hoje, apenas 28% dos pesquisadores de todo o mundo são mulheres, segundo a ONU. No Butantan, elas representam cerca de 70% do corpo científico – dado que coloca a instituição à frente de muitos de seus concorrentes da indústria farmacêutica. Entretanto, caminhos ainda precisam ser percorridos rumo a uma equidade de gênero plena. 

 

A diretora Patrícia Meneguello é responsável por uma das maiores áreas do Butantan

 

Capacitadas para ocupar qualquer posição

Apesar de, hoje, boa parte dos homens terem mais consciência sobre a importância das mulheres no ambiente corporativo, os níveis de maturidade variam de acordo com o segmento de atuação. 

Para a diretora de Qualidade e Assuntos Regulatórios do Butantan, Patricia Meneguello, que já foi a única mulher em uma equipe de mais de 200 homens, a realidade do Instituto ainda é exceção. “Foi muito difícil ter sido a primeira mulher a furar a bolha. Mas aquilo me motivou e, posteriormente, abriu caminho para muitas outras”, lembra. Daí a importância da tão falada representatividade, não apenas para inspirar, mas para de fato consolidar uma rede de apoio institucional.

Com passagem pela área acadêmica e experiência internacional em alta liderança, Fernanda Boulos acredita que a construção e o sucesso de sua carreira foram ancorados na força das muitas mulheres que cruzaram o seu caminho. “Cheguei aqui já galgando em trilhas caminhadas. Mas ainda é um caminho estreito que a gente precisa ampliar e abrir para as próximas gerações”, reforça. Para ela, outro ponto que torna a jornada feminina ainda mais exaustiva é que a necessidade constante de aprovação tende a aumentar, conforme as posições crescem e as mulheres chegam a cargos de destaque.

 

Reportagem: Natasha Pinelli

Fotos: Comunicação Butantan