Nos últimos dois anos, o Butantan se tornou uma instituição de renome internacional e se consolidou como o instituto que enfrentou a pandemia de forma decisiva e eficiente, inclusive com a construção de uma nova fábrica de vacinas. Essa é a análise de seu presidente, Dimas Covas, sobre a finalização da obra civil do Centro Multipropósito de Produção de Vacinas (CPMV), nova fábrica na qual será possível produzir no Brasil, sem depender da importação de insumos, imunizantes de cinco plataformas vacinais diferentes, inclusive contra o vírus SARS-CoV-2.
“Essa fábrica é extremamente moderna em termos de produção de vacinas”, explica Dimas. “Ela tem uma grande capacidade de produzir pelo menos 100 milhões de doses por ano. Isso vai dar uma grande contribuição para o Brasil, tornando o país independente na confecção destes insumos”, completa ele.
O CPMV possui uma característica central que é, de forma simplificada, a capacidade de produzir vários tipos de vacinas, ou seja, é multipropósito. Em sua configuração atual, ele pode produzir a CoronaVac, a vacina da raiva, da hepatite e contra o zika vírus. Por ter essa dinâmica, a fábrica possui exigências de qualidade muito elevadas: alinhada aos princípios da Indústria 4.0, ela é totalmente automatizada, com todos os processos controlados digitalmente e com mínima interferência humana. Além disso, possui áreas de biossegurança de nível 3, imprescindíveis para a manipulação de vírus patogênicos. “Tudo isso faz dessa fábrica uma das mais modernas do mundo”, resume Dimas.
Outra vantagem é que, com o CPMV, o Brasil está apto a responder rapidamente a novas pandemias, com recursos do próprio país. Para o gerente de desenvolvimento industrial do Butantan, Adriano Ferreira, o Instituto estará apto para atender com celeridade as demandas que surgirem do governo federal para a população brasileira. “Temos uma fábrica em escala industrial para produzir IFA [Insumo Farmacêutico Ativo] e atender rapidamente a população brasileira e o Ministério da Saúde. Essa autossuficiência nacional não tem preço.”
A nova instalação faz parte de um parque industrial que conta, entre outras, com a fábrica de vacinas do vírus da influenza – sendo que o Butantan é o maior produtor de imunizantes contra a gripe do hemisfério sul – e a fábrica que produzirá futuramente as vacinas contra a dengue e a chikungunya (ambas estão na fase final de ensaios clínicos).
Um outro Butantan
A estratégia de ampliação do parque industrial do Instituto faz parte de um plano maior de internacionalização e modernização que vem desde 2018. “O Butantan se remodelou e se reinventou nesses últimos anos e, principalmente, enfrentou a crise da pandemia de forma muito eficiente e decisiva”, lembra Dimas Covas.
Entre as iniciativas do Instituto para o enfrentamento à Covid-19 estavam a produção da CoronaVac, a primeira vacina a ser distribuída no Brasil, o desenvolvimento da ButanVac, futuro imunizante que será inteiramente fabricado no país, a criação do soro anti-Covid, especialmente importante para o tratamento de pessoas que não podem ser vacinadas, a criação da Rede de Laboratórios para o Diagnóstico do SARS-CoV-2, que ajudou a zerar a fila de exames RT-PCR no estado de São Paulo, e a Rede de Alerta das Variantes do SARS-CoV-2, que acompanha as variantes mais circulantes do vírus nos municípios paulistas.
De acordo com Adriano Ferreira, hoje o Instituto está em um nível internacional equivalente ao das melhores indústrias farmacêuticas do mundo. “Nossos parceiros europeus, americanos e coreanos ficam encantados com o nível de excelência que o Butantan tem em produzir imunobiológicos. Eles têm uma segurança muito grande no corpo técnico, na diretoria, no Instituto como um todo.”
O próximo passo desse processo será a abertura do Parque da Ciência do Butantan. O local trará novos espaços e os tradicionais museus do Instituto revitalizados. “O parque do Butantan logo será aberto à visitação, e foi totalmente remodelado. Vai ser um espaço turístico importante”, afirma Dimas. “O principal avanço nesses cinco anos é que o Butantan é hoje um outro Butantan.”