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Vespa-esmeralda e as baratas zumbis: conheça o inseto que parece ter saído de um filme de terror

A belíssima vespa Ampulex compressa injeta veneno em baratas para controlar sua mente e usá-las como abrigo e alimento para a prole


Publicado em: 14/02/2025

Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Shutterstock

 

Uma mistura de tons verdes e azuis metálicos dignos de pedras preciosas compõe a coloração da vespa-esmeralda (Ampulex compressa), também conhecida, não à toa, como vespa-joia. Originária da Ásia, ela pode ser encontrada hoje em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Por trás da aparência exuberante, esse inseto esconde um hábito que pode parecer um tanto asqueroso, mas é essencial para a propagação da espécie: ela transforma baratas em “zumbis” para abrigar e alimentar sua prole.

Mas calma! Isso não é um conto de terror. Há um motivo nobre por trás dessa prática esquisita: a fêmea da vespa-joia, como toda mãe, busca uma casa quentinha e alimentação garantida para seus descendentes. Para os insetos em geral, esse abrigo pode ser um buraco na terra, plantas e até água, como acontece com o mosquito da dengue. A única diferença é que a vespa-joia escolhe nada mais, nada menos do que o interior de baratas como lar dos seus ovos.



Para conquistar essa “casa própria”, a vespa usa seu fino e comprido ferrão para atingir o gânglio nervoso no tórax da barata, responsável por controlar o movimento das pernas dianteiras. Após o veneno fazer efeito, a vespa retorna para uma segunda picada – desta vez, na cabeça do animal, atingindo uma parte do cérebro que controla a reação de fuga.

A joia voadora aguarda as toxinas agirem para dar o golpe final: prende-se às antenas da barata, agora incapaz de fugir e reagir, e a conduz até uma toca segura. Então, coloca um de seus ovos dentro do novo lar – cada ovo é introduzido em uma barata diferente, ainda viva, para aumentar as chances de os filhotes prosperarem.


 

O ovo eclode após dois a três dias. A larva começa se nutrindo da hemolinfa (o “sangue” da barata) e depois invade o abdômen, onde está o maior estoque de gordura. Também invade as traqueias, o sistema respiratório da barata, para liberar ar para sua própria sobrevivência. Durante a preparação para se transformar em pupa, a larva devora os órgãos da barata, que enfim acaba morrendo. Somente quando emerge do casulo, após cerca de 40 dias, é que a vespa já adulta deixa sua casa para trás, pronta para seguir o ciclo reprodutivo.

Por viver em ambientes um tanto desagradáveis, como no lixo e no esgoto, a barata pode parecer uma péssima escolha de prato principal. Mas isso não é um problema para a larva da vespa-joia: ela secreta compostos antimicrobianos que ajudam a fazer uma espécie de limpeza no hospedeiro e eliminar bactérias ali presentes, transformando a barata em um verdadeiro banquete.

O hábito curioso da vespa-esmeralda foi descrito pela primeira vez em 1942 pelo cientista norte-americano Francis Williams. De lá para cá, estudos já mostraram que nem sempre a história acaba bem para a vespa: se estiver esperta e vigilante, a barata pode conseguir se defender, dando chutes na cabeça da inimiga com suas espinhosas patas traseiras.
 

Imagens: © Ken Catania/Vanderbilt University

 

Zumbis da vida real

O ato de colocar os ovos dentro de outro animal não é exclusivo da vespa-esmeralda: existem outros insetos parasitoides que possuem o mesmo comportamento. Vespas da família Pompilidae, por exemplo, conhecidas como caçadoras de aranhas, aproveitam o aracnídeo como abrigo e alimento para sua prole. Algumas espécies de vespas também podem ajudar no controle de pragas agrícolas, como a Polistes satan, que parasita lagartas comuns em plantações de cana-de-açúcar e de milho, tendo amplo impacto econômico.

Esse poder zumbificador também aparece de outras formas na natureza. Fungos do gênero Cordyceps, como o apresentado no jogo e na série The Last Of Us, têm a capacidade de infectar formigas com neurotoxinas, deixando-as desnorteadas e levando-as à morte. Depois, nasce na cabeça da formiga o chamado corpo frutífero, órgão reprodutor do fungo, que espalha micro esporos pelo ar para atingir outras vítimas. Mas fique tranquilo: esse fungo não é capaz de infectar humanos na vida real, somente na ficção.


Veja mais imagens da vespa-esmeralda em ação:

 

Imagens: Team Candiru

 

Referências:

Arvidson R, Landa V, Frankenberg S, Adams ME (2018). Life History of the Emerald Jewel Wasp Ampulex compressa. Journal of Hymenoptera Research 63: 1-13. https://doi.org/10.3897/jhr.63.21762

Gudrun Herzner, Anja Schlecht, Veronika Dollhofer, Joachim Ruther (2013). Larvae of the parasitoid wasp Ampulex compressa sanitize their host, the American cockroach, with a blend of antimicrobials. PNAS. https://doi.org/10.1073/pnas.1213384110

Kenneth C. Catania; Getting the Most Out of Your Zombie: Abdominal Sensors and Neural Manipulations Help Jewel Wasps Find the Roach’s Weak Spot. Brain Behav Evol 7 December 2020; 95 (3-4): 181–202. https://doi.org/10.1159/000511548


Essa matéria contou com a colaboração da pesquisadora Adriana Rios Lopes, do Laboratório de Bioquímica do Instituto Butantan