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Grávidas também precisam se vacinar: entenda por que manter a carteira de vacinação em dia protege mãe e bebê

Imunização materna está atrelada à promoção da saúde infantil, contribuindo para o controle de doenças graves, como tétano, difteria e coqueluche, entre os recém-nascidos


Publicado em: 03/08/2023

Incentivar a vacinação durante o período gestacional é essencial por dois motivos: evita o alto risco de complicações atrelado a possíveis quadros de infecção em mulheres grávidas (como os provocados pelos vírus SARS-CoV-2 e influenza) e garante a proteção passiva do recém-nascido.

“Todos os anticorpos que uma mulher fabricou ao longo de sua vida são transmitidos para a criança via placenta e, posteriormente, por meio da amamentação. Por isso, quanto mais protegida ela estiver, consequentemente, o seu bebê também estará”, explica a gerente de Farmacovigilância do Butantan e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mayra Moura.

É só a partir dos 6 meses de vida, com os principais esquemas de imunização primária completos, que os pequenos estarão protegidos contra doenças como poliomielite, difteria, tétano e coqueluche por conta da sua própria vacinação. Previstas ao 1 ano, aos 15 meses e aos 4 anos de idade, as doses de reforço garantem uma proteção duradoura ao longo da vida.

 

O reforço da vacina dTpa, que protege contra diftéria, tétano e coqueluche, deve ser repetido a cada gestação

 

Calendário de vacinação

De acordo com o Programa Nacional de Imunizações (PNI), são três as vacinas recomendadas às grávidas: hepatite B recombinante; difteria e tétano (dT); e difteria, tétano e coqueluche (dTpa). Além dessas, deve-se administrar as vacinas contra influenza e Covid-19, conforme orientação das campanhas sazonais. 

“A hepatite B, por exemplo, é uma doença altamente contagiosa, sendo o contato entre a mãe infectada e o bebê na hora do parto uma das suas principais formas de transmissão”, afirma Mayra Moura. Caso a gestante não tenha sido vacinada durante a infância, é necessário iniciar ou completar o esquema composto por três doses – o imunizante pode ser administrado em qualquer momento da gestação. Devido à gravidade da doença, essa é a primeira vacina que o recém-nascido recebe, ainda nas suas primeiras 12 horas de vida.

Já a vacina dTpa, conhecida como tríplice bacteriana, protege a grávida e o bebê contra o tétano, a difteria e a coqueluche. As mulheres previamente imunizadas com pelo menos três doses contendo o componente tetânico devem receber uma dose de dTpa a partir da 20ª semana de gestação. Grávidas com apenas uma dose do componente tetânico precisam de uma dose de dT (difteria e tétano) e uma dose de dTpa, sendo essa última aplicada a partir da 20ª semana de gestação. Aquelas com histórico vacinal desconhecido devem iniciar o esquema, composto por duas doses de dT e uma dTpa.

“A coqueluche também pode ser bastante grave para o recém-nascido, daí a importância de aumentar o nível de anticorpos circulantes contra a doença no organismo da mãe, que acabará passando uma quantidade maior da substância para o seu bebê”, explica a gerente de Farmacovigilância do Butantan, que é enfermeira de formação. Por isso, o reforço da dTpa deve ser repetido a cada nova gestação.

Consideradas grupo prioritário de risco, as futuras mamães e puérperas (mulheres que estão no período de até 45 dias após o parto) também devem receber as vacinas contra a gripe e a Covid-19.

 

As puérperas também são grupo prioritário nas campanhas de vacinação contra gripe e Covid-19

 

Contraindicações

Durante a gravidez, não devem ser aplicadas as vacinas do HPV, varicela (catapora) e a tríplice viral (que protege do sarampo, caxumba e rubéola). Todas podem ser aplicadas normalmente durante o período do puerpério e amamentação.

Outro imunizante que demanda atenção é o da febre amarela, não indicado para as gestantes e lactantes com bebês menores de 6 meses. Entretanto, quando há potencial risco de infecção, a vacina pode ser recomendada em ambas situações, conforme orientação médica. No caso das mulheres que amamentam, a preconização é suspender o aleitamento ao longo de dez dias.

“Por mais que existam contraindicações pontuais, é nosso papel reforçar que todas as vacinas recomendadas às grávidas são extremamente seguras. Feitas com vírus e bactérias inativadas, elas não trazem nenhum risco à vida da gestante ou do bebê. Já os benefícios têm sido comprovados por anos, diante do controle de inúmeras doenças de importância médica”, observa Mayra Moura.

 

Aleitamento: proteção que passa de mãe para filho

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o leite materno é a primeira “vacina” do bebê e as crianças que são amamentadas ficam menos doentes quando comparadas com aquelas que não foram.

Produzido “sob medida” pelo organismo da mãe, o alimento tem tudo que os pequenos precisam até o sexto mês de vida, fortalecendo o sistema imunológico, diminuindo os riscos de obesidade, de desenvolvimento de diabetes, casos de diarreia e infecções respiratórias.

Com o objetivo de informar, envolver e consolidar a prática da amamentação, todos os anos a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o UNICEF coordenam a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM), que acontece entre os dias 1º e 7 de agosto. No Brasil, as ações de conscientização ganharam todo o mês, que passou a ser conhecido como Agosto Dourado em alusão ao padrão ouro do alimento. 

“O leite materno é vivo. Nele encontramos diversos elementos, como células e anticorpos, que só trazem benefícios. Sem contar que é um momento único de conexão entre mãe e filho”, finaliza Mayra Moura.

 

Reportagem: Natasha Pinelli

Imagens: Shutterstock