Portal do Butantan

Vacinas da dengue e chikungunya, diagnóstico de leptospirose e veneno com potencial contra câncer: relembre pesquisas divulgadas pelo Butantan em 2024

Ano foi marcado pela divulgação de resultados promissores de candidatas vacinais, pesquisas sobre câncer e estudos avançados sobre venenos


Publicado em: 27/12/2024

Reportagem: Camila Neumam
Fotos: Comunicação Butantan
Fotomontagem: Manu Ferreira

Em 2024, o Butantan se destacou mais uma vez na pesquisa acadêmica e fechou o ano com a entrega da documentação final da vacina contra a dengue para submissão à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desenvolvida no Instituto, a candidata a vacina é a única no mundo a oferecer proteção contra a dengue com apenas uma dose.

Outra vacina cujos resultados de fase 3 se mostraram promissores foi a da chikungunya, que apontou a manutenção da proteção em 99,1% dos vacinados seis meses após sua aplicação.

Saiba mais sobre essas e outras pesquisas desenvolvidas no Instituto que foram divulgadas no Portal do Butantan em 2024.
 

Diagnóstico pioneiro de leptospirose é criado pelo grupo da pesquisadora Ana Lucia Tabet Oller Nascimento, do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan

 

JANEIRO

Butantan desenvolve diagnóstico pioneiro para leptospirose capaz de detectar a doença no início

Pesquisadores do Instituto Butantan desenvolveram uma proteína quimérica para o diagnóstico da leptospirose que se mostrou superior ao teste padrão atualmente recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda em fase inicial, a estratégia conseguiu detectar a doença em mais de 70% dos pacientes que tinham obtido resultados falsos negativos nos primeiros dias de sintoma. A leptospirose é considerada pela OMS uma doença negligenciada e subnotificada: a estimativa é que a cada ano 500 mil novos casos ocorram em todo o mundo, com uma mortalidade que pode ir de 10% a 70% em casos graves.

 

Pesquisadores do Butantan descobrem novos candidatos a vacina contra esquistossomose com uso de técnica inovadora

Pesquisadores do Laboratório de Ciclo Celular do Instituto Butantan identificaram novos candidatos vacinais contra o parasita Schistosoma mansoni, verme causador da esquistossomose. O estudo, que se baseou no uso do phage-display – técnica de biologia molecular que permite selecionar e isolar fragmentos de proteínas por meio da criação de uma biblioteca de genes –, demonstrou que os candidatos vacinais foram capazes de conferir proteção em modelos animais. A descoberta foi publicada na revista npj Vaccines do grupo Nature.

 

Sergio Verjovski-Almeida, liderança científica do Butantan, e Murilo Senal Amaral, pesquisador do Laboratório de Ciclo Celular, descobrem novas candidatas vacinais contra a esquistossomose

 

FEVEREIRO
 

Butantan publica no NEJM dados que demonstram que vacina da dengue protege 79,6% dos imunizados

O Butantan publicou no New England Journal of Medicine, uma das mais prestigiosas revistas científicas do mundo, os primeiros resultados do ensaio clínico de fase 3 da sua vacina contra a dengue. O imunizante de dose única, feito com os quatro vírus atenuados, evitou a doença em 79,6% dos vacinados ao longo de um período de dois anos, protegendo tanto quem já tinha tido dengue como aqueles sem infecção prévia. A publicação traz os resultados detalhados de eficácia após a imunização, divulgados no final do ano passado.

 

A pesquisadora científica Neuza Frazatti Gallina (à dir.) lidera o Laboratório Piloto de Vacinas Virais do Instituto Butantan, responsável pelo desenvolvimento da vacina da dengue

 

Em pesquisa conjunta, Butantan e Einstein descobrem substância em veneno de aranha com potencial contra células de câncer

O Instituto Butantan e a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein identificaram uma molécula com potencial para tratar o câncer, obtida por um processo inovador e extraída do veneno da aranha caranguejeira Vitalius wacketi, que habita o litoral do estado de São Paulo. Sintetizada em laboratório no Butantan e purificada pelo Einstein (removendo eventuais contaminantes e potencializando seu efeito), a substância foi capaz de eliminar células de leucemia em testes in vitro. Fruto de mais de 20 anos de estudos, a ferramenta que resultou na obtenção da molécula foi patenteada, com apoio das áreas de inovação das instituições. 

 

MARÇO

Filhotes de cobras-cegas são alimentados com “leite materno”, mostra estudo de pesquisadores do Butantan publicado na Science

A revista científica Science, uma das mais prestigiosas do mundo, publicou uma descoberta sobre anfíbios, feita por pesquisadores do Butantan, que coloca em perspectiva o que se sabe sobre esses animais. De acordo com o estudo, desenvolvido no Laboratório de Biologia Estrutural do Instituto, filhotes de cobras-cegas (anfíbios também conhecidas como cecílias) são alimentados pelas mães no início de suas vidas com uma substância composta de nutrientes que se assemelha ao leite e é secretada pela cloaca.

 

A descoberta que filhotes de cobras-cegas são alimentadas pelas mães no início de suas vidas realizada pelo biólogo Pedro Luiz Mailho-Fontana, sob orientação do pesquisador Carlos Jared, foi publicada na revista Science

 

Pesquisadores do Butantan estudam uso de BCG recombinante como tratamento para câncer de bexiga

Uma versão recombinante do BCG (Bacilo de Calmette e Guérin, que compõe a vacina da tuberculose) em desenvolvimento pelo Instituto Butantan mostrou maior potencial contra o câncer de bexiga do que o BCG tradicional, considerado padrão-ouro no tratamento da doença. Batizada de Onco rBCG e patenteada, a terapia aumentou a sobrevida dos modelos animais tratados, causando redução maior no tumor quando comparada ao BCG utilizado normalmente, segundo estudo publicado na Urologic Oncology.

 

ABRIL

Alterações na urina de pessoas com autismo podem contribuir para diagnóstico, aponta estudo do Butantan

Pesquisadores do Instituto Butantan identificaram potenciais biomarcadores em amostras de urina de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que podem auxiliar no desenvolvimento de métodos complementares de diagnóstico e acompanhamento da evolução do quadro. O trabalho foi publicado na revista Biomarkers Journal e indicou diferenças na concentração total de proteínas e aminoácidos na urina de indivíduos com autismo e de pessoas sem o transtorno.

 

Tantilla selmae: Nova espécie brasileira de serpente é batizada em homenagem a pesquisadora do Butantan

Referência nacional e internacional no estudo de reprodução de serpentes, a diretora do Laboratório de Ecologia e Evolução do Butantan (LEEV), Selma Almeida-Santos, foi eternizada na história da ciência: agora ela empresta seu nome a uma nova espécie da família Colubridae: a Tantilla selmae. A homenagem partiu do biólogo Weverton dos Santos Azevedo, que identificou o animal durante seu mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP. Os resultados do estudo foram publicados em janeiro de 2024 na revista científica Organisms Diversity and Evolution.

 

O pesquisador André Tempone identifica compostos de animais marinhos e plantas que matam parasita da Doença de Chagas

 

Pesquisador do Butantan identifica compostos de animais marinhos e plantas que matam parasita da Doença de Chagas

O tratamento da doença de Chagas é um desafio: há somente um fármaco disponível que, apesar de melhorar o quadro, não elimina o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da enfermidade. Mas a ciência brasileira está cada vez mais perto de encontrar novas estratégias de terapia – e a resposta pode estar na própria natureza. O farmacêutico e pesquisador do Instituto Butantan André Tempone se dedica ao estudo do tema há 20 anos e identificou compostos de animais marinhos e plantas que conseguem matar o parasita. O conhecimento deve ajudar a desenvolver medicamentos mais potentes no futuro.

 

Cientistas do Butantan desenvolvem nanopartículas capazes de combater fungos agressivos à saúde humana e à agricultura

Pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação do Instituto Butantan desenvolveram nanopartículas de prata biogênicas que evitam a proliferação de fungos responsáveis por danos às plantações de cana-de-açúcar, arroz, feijão e milho, entre outras culturas. Essas nanopartículas metálicas também se mostraram eficientes em conter o crescimento de fungos do gênero Candida, responsáveis por infecções moderadas e graves em humanos. 

 

Ana Olívia Souza (centro) e a equipe de pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação do Instituto Butantan desenvolvem nanopartículas capazes de combater fungos

 

Estudo propõe terapia inédita que estimula e sobrecarrega células de câncer em vez de inibir seu crescimento

Usar o principal defeito das células de câncer contra elas: essa é uma estratégia descoberta no Instituto Butantan que pode ajudar no desenvolvimento de novas terapias contra a doença no futuro. Ao contrário das terapias convencionais, a proposta é hiperestimular o mecanismo de divisão celular descontrolada e, ao mesmo tempo, inibir as vias que regulam o estresse (a sobrecarga que a própria divisão causa na célula). Com isso, a célula tumoral fica desestabilizada e é levada à morte.

 

MAIO

Vacina da chikungunya mantém proteção em 99,1% dos vacinados seis meses após aplicação

Novos dados do ensaio clínico de fase 3 da vacina contra a chikungunya, desenvolvida pelo Instituto Butantan e pela empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva, confirmam a segurança e a imunogenicidade do imunizante seis meses após a vacinação, independentemente da exposição prévia ao vírus. O estudo, conduzido pelo Butantan em adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos, indica que uma única dose mantém a resposta imune em 99,1% dos voluntários após 180 dias. O imunizante também se mostrou seguro: a maioria dos eventos adversos foi leve ou moderada e se resolveu em até três dias após a vacinação. Os efeitos mais comuns foram dor e sensibilidade no local da injeção, dor de cabeça, dor no corpo, febre e fadiga.

 

Estudo em adolescentes demonstra que candidata vacinal contra chikungunya do Butantan mantém a resposta imune em 99,1% dos voluntários após 180 dias

 

Cientistas do Butantan identificam alvo para tratamento da esclerose múltipla a partir de veneno de cascavel

Com o auxílio de uma proteína do veneno da cascavel, pesquisadores do Instituto Butantan identificaram um novo alvo para tratamento da esclerose múltipla (EM): o neurotransmissor acetilcolina. Um estudo em modelos animais, publicado na Brain, Behavior, and Immunity, mostrou que o composto obtido da peçonha, chamado crotoxina, evitou o desenvolvimento da doença em 40% da amostra tratada. Aqueles que não ficaram doentes apresentaram níveis aumentados de genes para receptores onde a acetilcolina atua, enquanto os doentes tiveram estes genes suprimidos. Isso significa que a regulação da via da acetilcolina pode ser importante no controle da esclerose múltipla. 

 

JUNHO

Pesquisadoras do Butantan comprovam pela primeira vez que serpente amazônica se alimenta de aves

Com olhar atento aos detalhes e anos de experiência e dedicação às serpentes: foi assim que duas pesquisadoras do Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan comprovaram, pela primeira vez, que as aves fazem parte da dieta da cobra-papagaio (Corallus batesii), conhecida no exterior como jiboia-esmeralda da Bacia Amazônica (Amazon Basin emerald tree boa, em inglês). A descoberta foi publicada na revista Herpetology Notes.

 

As pesquisadoras Silvia Cardoso, à esquerda, e Circe Albuquerque, à direita, responsáveis pela descoberta que comprova que serpente amazônica se alimenta de aves

 

Hub de inovação: com tecnologia de ponta, centro de pesquisa do Butantan busca soluções para doenças inflamatórias a partir de venenos

Foi a necessidade de investigar alternativas para melhorar a qualidade de vida de pacientes com osteoartrite, artrite reumatoide e doenças degenerativas, como Alzheimer, que motivou a criação do Centro de Excelência para Descoberta de Novos Alvos Moleculares (CENTD, na sigla em inglês) do Instituto Butantan. Desde 2017, a plataforma avançada vem contribuindo para a descoberta de alvos moleculares que podem levar ao desenvolvimento de fármacos para doenças inflamatórias, utilizando a biodiversidade como principal ferramenta. O projeto faz parte de uma parceria público-privada entre o Butantan, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK).


AGOSTO

Em novo estudo, vacina do Butantan mostra 89% de proteção contra dengue grave e com sinais de alarme

Novos resultados da fase 3 da vacina contra a dengue do Instituto Butantan, publicados na The Lancet Infectious Diseases, mostraram uma proteção de 89% contra dengue grave e dengue com sinais de alarme, além de eficácia e segurança prolongadas por até cinco anos. O estudo corrobora as análises anteriores de dois anos de acompanhamento e favorece a continuação do desenvolvimento da vacina para indivíduos de 2 a 59 anos, independente do histórico de infecção prévia de dengue.

A eficácia da vacina contra dengue grave ou com sinais de alerta foi de 89%; já a eficácia geral contra dengue sintomática foi de 67,3%, sendo 75,8% para o sorotipo DENV-1 e 59,7% para DENV-2. Não foram detectadas infecções por DENV-3 e 4. 

 

Resultados de fase 3 da vacina contra a dengue do Instituto Butantan mostraram uma proteção de 89% contra dengue grave e dengue com sinais de alarme

 

SETEMBRO

Butantan publica estudo de fase 3 da vacina da chikungunya; proteção chegou a 100% em adolescentes

O Instituto Butantan publicou na revista científica The Lancet Infectious Diseases os resultados da fase 3 de sua vacina contra chikungunya, desenvolvida em parceria com a empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva. Referentes ao primeiro mês de acompanhamento após a imunização, os dados mostraram produção de anticorpos em 100% dos voluntários com infecção prévia e 98,8% naqueles sem contato anterior com o vírus. A vacina é a primeira do mundo contra a doença, que acomete mais de 110 países e provoca dor crônica nas articulações, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)