Um estudo clínico de fase 3 publicado por pesquisadores chilenos na plataforma MedRxiv demonstrou que a CoronaVac, vacina do Butantan e da Sinovac, é segura e imunogênica para crianças a partir dos três anos, induzindo produção de anticorpos em 100% dos participantes e resposta imune celular contra as variantes delta e ômicron do SARS-CoV-2. O trabalho foi conduzido por pesquisadores do Instituto Milênio de Imunologia e Imunoterapia e da Pontifícia Universidade Católica do Chile.
Foram incluídos no estudo 624 indivíduos com idade média de 6,35 anos que receberam duas doses de 3 µg da CoronaVac em um intervalo de 28 dias. Os voluntários foram divididos em dois grupos etários distintos de três a 11 anos (crianças) e de 12 a 17 anos (adolescentes).
Um mês após a segunda dose, 100% dos indivíduos de três a 17 anos apresentaram altos níveis de anticorpos contra o SARS-CoV-2. O grupo de crianças até 11 anos produziu uma concentração mais alta de anticorpos neutralizantes do que os adolescentes, apresentando 713,1 U/mL, contra 492,2 U/mL.
O nível de anticorpos IgG totais na população pediátrica foi quase três vezes maior do que o observado anteriormente em adultos: 964,9 GMU (três a 11 anos) e 680 GMU (12 a 17), contra 345,1 GMU em indivíduos acima de 18 anos.
Os pesquisadores também avaliaram, pela primeira vez em crianças, a resposta imune celular induzida pela CoronaVac. Foi observado um aumento da ativação das células T CD4+ específicas e da proporção de células de memória após quatro semanas da segunda dose.
Além disso, o imunizante também conferiu proteção contra as variantes delta e ômicron. Segundo os autores, embora a capacidade de neutralização das vacinas seja menor contra essas cepas, como já foi observado em outros estudos com adultos, a CoronaVac induziu resposta de células T específicas que reconhecem as variantes de preocupação.
Alto perfil de segurança
Nenhuma das crianças apresentou eventos adversos graves após a vacinação, e a reação mais comum nos primeiros 30 minutos foi dor no local da injeção, reportada por 3,8% das crianças após a primeira dose e 1,7% depois da segunda. Já entre os adolescentes, 2,2% e 8,2% sentiram dor após a primeira e segunda doses, respectivamente.
Em relação a eventos adversos não imediatos, 15% (primeira dose) e 8% (segunda dose) das crianças sentiu dor no local da injeção, e 25% dos adolescentes relataram dor no braço em ambas as doses. Em casos menos frequentes, os voluntários sentiram febre e dor de cabeça. A maior parte das reações se resolveu em dois dias.
*Este texto é uma colaboração do jornalista científico Peter Moon para o portal do Butantan