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Estudo brasileiro mostra que deslocamento de pessoas influencia na mutação do vírus SARS-CoV-2


Publicado em: 27/08/2021

Pessoas infectadas com Covid-19 que transitam entre uma região ou outra são grandes responsáveis pelo aparecimento de novas variantes do SARS-CoV-2. Essa é uma das conclusões de um estudo realizado pelo Instituto de Física Gleb Wataghin, da Universidade Estadual de Campinas (IFGW/Unicamp), publicado no final de julho na revista científica PLOS ONE.  

De acordo com o estudo, uma pessoa infectada (paciente A) transmite o vírus para quem estiver mais perto, o que a pesquisa chama de “vizinhos” (paciente B). Quando a transmissão é bem-sucedida, o vírus é clonado no novo hospedeiro (paciente B), que se torna um indivíduo exposto (pessoa infectada, mas que não infecta outras). O vírus pode sofrer mutação já na próxima vez que infectar alguém (paciente C). Se o primeiro infectado (paciente A) se recupera, o vírus não sofre mutação e morre. Se o paciente A, B ou C, infectado, passear por outras regiões e transmitir a doença para outras pessoas, o vírus também pode passar por mutações, aumentando o número de variantes.

Vamos imaginar que existem quatro cidades próximas, sendo que a maior distância é entre a cidade 1 e a 4.  O paciente A mora na cidade 1. Ele tem a Covid-19 e se recupera. Mas antes disso, passou o vírus para o paciente B, da cidade 2. Este passou o vírus para o paciente C, da cidade 3. E, por meio dele, o vírus chegou no paciente D, na cidade 4. Em todo esse percurso, o vírus mudou. Se o paciente D, com Covid-19, resolver visitar a cidade 1 e encontrar o paciente A, o risco do paciente A pegar a doença novamente é grande, pois é uma nova variante do SARS-CoV-2 que chegou até ele. Ou seja, o risco de reinfecção aumenta por conta do contato entre indivíduos viajantes ou que vivem em diferentes territórios. 

No gráfico abaixo, reproduzido no estudo, é possível ver que o paciente infectado da cidade 1 pode espalhar a doença para outras pessoas e cidades. O atraso do pico da infecção de uma cidade para a outra é responsável pela curva platô (quando a curva chega no limite e começa a cair) de infecções totais.

 

De acordo com o último boletim epidemiológico da Rede de Alerta das Variantes do SARS-CoV-2, com dados sequenciados até 14/8, o estado de São Paulo conta com 36 variantes circulantes. A gama (P.1, amazônica) continua a ser a variante mais incidente, com 85,34% dos casos, seguida pela variante delta (B.1.617.2, indiana), com 3,68%.

No artigo, os autores também alertam para a importância da vacinação para conter a disseminação de variantes do SARS-CoV-2. Se as pessoas não se vacinam, elas são infectadas mais facilmente e transmitem a Covid-19 para outras, em diferentes regiões, fazendo com que o vírus mude cada vez mais. Por isso, além de tomar a vacina, é preciso continuar usando máscaras, para proteção própria e de terceiros, e evitar aglomerações.