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Escorpiões típicos de regiões quentes já são encontrados no Sul do Brasil, mostra pesquisa do Butantan

Biólogos do Laboratório de Coleções Zoológicas confirmaram formalmente a presença do Tityus confluens no Paraná, atualizando o mapa de distribuição da espécie no Brasil


Publicado em: 22/12/2025

Reportagem: Camila Neumam
Fotos: André Ricoy

Uma pesquisa de biólogos do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan apontou a identificação inédita da presença de uma espécie de escorpião típica de climas quentes – o Tityus confluens – no Sul do Brasil. O novo registro é a primeira confirmação formal da espécie na região e contribui para atualizar o mapa da distribuição do T.confluens no país, já que a espécie era registrada apenas nos estados do Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e Tocantins.

O estudo “Adicionando uma peça do quebra-cabeça da distribuição do escorpião: expansão dos registros dos Tityus (Tityus) confluens Borelli, 1899 (Scorpiones, Buthidae) no sul brasileiro” foi publicado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi – Ciências Naturais, por meio de uma parceria entre o diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas, Antonio Brescovit, e o tecnologista do laboratório Paulo Goldoni, com os biólogos Luiz Felipe Iniesta, da Universidade de São Paulo (USP), e Juliana Cequinel, da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná.

“O registro do T. confluens no Paraná representa uma peça importante para completar o ‘quebra-cabeça’ da distribuição desse escorpião no Brasil para além do Nordeste e Centro-Oeste. Embora a espécie não seja a mais perigosa, sua presença no Sul exige atenção da saúde pública, especialmente porque acidentes graves já ocorreram em outros países e a reprodução partenogenética [que dispensa a presença de um macho] facilita sua expansão”, afirma Paulo Goldoni.

O Tityus confluens é uma espécie originalmente descrita na Bolívia, mas que ocorre com mais regularidade no Brasil nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantis, Piauí

 

O Tityus confluens é uma espécie originalmente descrita na Bolívia, mas que ocorre com mais regularidade no Brasil nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantis, Piauí

 

De acordo com Antonio Brescovit, os dados gerados no estudo corroboram a utilização das coleções zoológicas para gestão de informações capazes de municiar ações de monitoramento de saúde pública em todas as esferas – municipal, estadual e federal. “Além disso, reforçam a importância das coleções zoológicas como ‘bibliotecas biológicas’ permanentes, que permitem revisões e comprovações futuras”, completa o diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan.

Esse escorpião é perigoso para a população?

O Tityus confluens é uma espécie originalmente descrita na Bolívia, mas que ocorre com mais regularidade no Brasil nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantis, Piauí, com apenas um registro isolado no Ceará. 

O T. confluens não é considerado de alta importância médica no Brasil. No Paraná, , foram registrados 30 acidentes entre 2012 e 2024, todos em adultos, com sintomas leves (dor e vermelhidão, sem necessidade de aplicação de soro).

Porém, há registros de acidentes na Argentina com casos graves, inclusive um óbito de uma criança.

“Ainda existe incerteza sobre os riscos para idosos e crianças no Brasil. Por isso, a vigilância deve se manter atenta”, ressalta Antonio Brescovit.

 

Os pesquisadores Antonio Brescovit e Paulo Goldoni do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan apontou a identificação inédita da presença de uma espécie de escorpião típica de climas quentes – o Tityus confluens – no Sul do Brasil

Os pesquisadores Antonio Brescovit e Paulo Goldoni do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan apontou a identificação inédita da presença do Tityus confluens no Sul do Brasil

 

333 escorpiões encontrados no Paraná

Os registros foram baseados em remessas doadas semestralmente pela Secretaria da Saúde do Paraná (SESA) enviadas do Paraná aos pesquisadores do Butantan. Ao todo, foram analisados 333 exemplares da espécie vindos, na maioria, de Foz do Iguaçu e de mais seis cidades do estado.

“Como cada lote vem documentado com etiquetas de localidade, foi possível comparar as características morfológicas dos exemplares com descrições taxonômicas já publicadas para, assim, mapear a distribuição da espécie”, afirma Paulo Goldoni. 

 

Exemplar de T.confluens

Exemplar de escorpião T.confluens no Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan

 

Na sequência, o material foi tombado em coleções científicas do Butantan e na SESA – algo essencial para o conhecimento da distribuição real das espécies e que permite a realização de estudos de ecologia e biodiversidade.

“A presença da espécie foi confirmada e validada cientificamente com base nesses exemplares. Essa é uma forma de garantir que o material testemunho possa ser revisitado e confirmado por outros pesquisadores”, ressalta Antonio Brescovit.

Importância de atualizar dados sobre escorpiões

O estudo demonstra ainda que atualizar a ocorrência da espécie ajuda a entender rotas de dispersão e prever novos pontos de colonização desta espécie de escorpião.

“O trabalho confirma a relevância do Paraná como área de contato biogeográfico entre Brasil, Paraguai e Argentina e dá ferramentas de apoio às medidas de saúde pública, já que a vigilância pode se preparar melhor para acidentes”, conclui Paulo Goldoni.

 

O pesquisador Paulo Goldoni mostra exemplar de T. confluens no Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan
O pesquisador Paulo Goldoni mostra exemplar de T. confluens no Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan