O Centre of Excellence in New Target Discovery (CENTD), que tem como objetivo encontrar novos alvos moleculares para doenças de natureza imunoinflamatórias, como artrite reumatóide, e outras doenças degenerativas, teve seu apoio renovado por mais cinco anos. Trata-se de um projeto de parceria público-privada, onde participam o Instituto Butantan, a empresa GlaxoSmithKline (GSK) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O projeto é coordenado pela pesquisadora do Butantan e diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, e tem como vice-coordenador o diretor de Trust in Science, da GSK, Kevin Madauss.
Implementado no Butantan, o CENTD é um dos Centros de Engenharia e Pesquisa Aplicada (CPE) da FAPESP – estruturas inspiradas nos programas Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) e Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE).
A primeira fase do CENTD (2015-2020) teve por objetivo central identificar novos alvos terapêuticos. A segunda fase, recém inaugurada, (2021-2026), focará na validação de alvos moleculares identificados na primeira fase e de novos alvos que forem eleitos nas próximas etapas dos estudos. A renovação do apoio é uma validação do esforço que vem sendo desenvolvido nos últimos cinco anos pelo CENTD, e prova a importância da valorização da pesquisa básica – essa é a primeira vez que uma farmacêutica multinacional investe no início do processo de investigação científica realizado no Butantan.
“Nosso interesse é encontrar alvos que definem a progressão de doenças imunoinflamatórias, quer dizer, o que leva à cronicidade da doença. Essas doenças, algumas relacionadas inclusive ao envelhecimento, ainda não têm cura, então seria ótimo encontrar um tratamento que pudesse dar melhor qualidade de vida às pessoas. Por isso, estabelecemos uma plataforma que pode indicar o que está controlando o processo inflamatório, usando diversas técnicas interligadas”, explica Ana Marisa.
Para fazer tudo isso, o CENTD vem utilizando um produto já bem conhecido nos 120 anos de existência do Instituto Butantan: venenos, toxinas e secreções animais. O foco do instituto foi sempre estudar os venenos para entender os processos que levam ao efeito patológico dos envenenamentos, e este tema faz com que o Butantan seja reconhecido nacional e internacionalmente como um dos maiores centros de pesquisa do mundo no assunto.
De maneira singular, porém, o CENTD não busca estudar moléculas oriundas de venenos animais para entender seus efeitos nos envenenamentos, mas de forma inovadora, utiliza esses produtos naturais para a elucidação de mecanismos moleculares envolvidos em doenças imunoinflamatórios. O grande objetivo do projeto é acessar e validar novos alvos moleculares, envolvidos em doenças imunoinflamatórias e degenerativas, que possam, em última estância, gerar novos fármacos. Para atingir esse objetivo, o centro de pesquisa criou um Biobanco com venenos de vários lugares do mundo (venenos de aranhas, serpentes, taturanas, escorpião, lagartas, entre outros) e uma plataforma com vários modelos celulares envolvidos em processos imunoinflamatórios.
“Para montar o Biobanco, inicialmente estabelecemos critérios de controle e qualidade das amostras, bem como de acessibilidade a elas. São várias técnicas nisso tudo”, explica a pesquisadora. Na segunda etapa, que começa com a nova rodada de apoio, o Butantan vai se tornar um dos primeiros centros do Brasil a fazer validação de alvos moleculares, sendo pioneiro na implementação da tecnologia de quimioproteômica, em colaboração com uma empresa alemã ligada à GSK. Todo o estudo está sendo definido no longo prazo.
Os primeiros cinco anos do CENTD já renderam algumas patentes – todas elas tem o Butantan como proprietário. “Temos um número pré-estabelecido de alvos oriundos da primeira fase do projeto. Oito deles em validação. Um já está em fase final e, quando a empresa parceira decidir desenvolver um produto a partir das informações geradas no CENTD, ela pode alocar uma equipe para dar continuidade ao desenvolvimento, e, se um medicamento for originado a partir deste conhecimento gerado, o Butantan terá retorno em royalties também. Ou seja, os próximos cinco anos são de ouro”, explica Ana Marisa.
A FAPESP e a GSK investem, cada uma R$7,5 milhões, e o projeto tem o apoio do Instituto Butantan, que disponibiliza a infraestrutura institucional e recursos humanos.
Alocado em uma área de aproximadamente 200 m², o CENTD possui infraestrutura centralizada, o que possibilita que o trabalho seja dinâmico e colaborativo entre pesquisadores, estudantes e colaboradores. O centro conta com plataformas científicas que são gerenciadas por profissionais altamente especializados, que dão suporte tanto a este projeto como também a outras demandas institucionais e externas.
De acordo com Ana Marisa, um grande desafio do projeto foi convergir o grupo todo – ou seja, trabalhar com um time formado por pesquisadores de diferentes laboratórios do Instituto, colaboradores, alunos de pós-graduação, pós-doutorandos e cientistas de diferentes segmentos da empresa parceira, em metas específicas, focados em um único objetivo, praticando tomadas de decisões baseadas em resultados inovadores e destinando maiores investimentos para resultados promissores.
“O projeto tem proporcionado à nossa equipe desenvolver temas de impacto, gerando publicações na forma de papers, o depósito de patentes e a formação diferenciada de RH. As questões que norteiam os objetivos do projeto são questões de interesse global. Envolvem tentar solucionar problemas que comprometem a qualidade de vida de pessoas do mundo todo”, conta. A interação científica permite que o time do CENTD trabalhe em conjunto com o time da GSK, que tem participação efetiva no projeto, assegurando assim, uma parceria colaborativa constante.
Durante sua primeira fase, o CENTD publicou 45 trabalhos científicos, depositou seis patentes, implementou plataformas de alta performance para screening (High contente Screening), análises ômicas (espectrometria de massas e interactômica), bioinformática e plataforma de imagem (confocal e citometria de fluxo), além de implementar diferentes modelos celulares para as análises de identificação de alvos moleculares – sem contar o Biobanco, onde estão depositadas moléculas naturais, recombinantes e peptídeos sintéticos, obtidos e/ou sintetizados a partir de secreções e toxinas animais, de diferentes gêneros e famílias do mundo. Também realizou atividades de difusão como simpósios, workshops e exposições científicas voltados tanto ao público especializado como ao público leigo, além de cursos, sobretudo voltados à inovação e empreendedorismo.
Na segunda fase, os pesquisadores do CENTD vão trabalhar na implementação de uma plataforma para CRISPR, que são repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente interespaçadas (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, em inglês) e iRNA, e na plataforma de quimioproteômica, que são tecnologias que aumentarão as possibilidades de validação de alvos moleculares de interesse. “O projeto conta com o apoio de pesquisadores principais e associados e de um comitê internacional, que avalia a cada ano as atividades desenvolvidas, prezando pelos interesses das partes envolvidas”, conclui Ana Marisa.
Confira abaixo algumas das publicações científicas já feitas pela equipe do CENTD
2021
Unknown/enigmatic functions of extracellular
2020
Emerging Roles and Potential Applications of Non-Coding RNAs in Glioblastoma
2019
Preclinical evaluation of Amblyomin-X, a Kunitz-type protease inhibitor with antitumor activity
Biodistribution and Pharmacokinetics of Amblyomin-X, a Novel Antitumour Protein Drug in Healthy Mice
Centre of Excellence in New Target Discovery: a Biobank establishment
A new differentiation method for THP-1-Derived Dendritic cells
Germline control of somatic Kras mutations in mouse lung tumors
miRNA Expression and Interaction with Genes Involved in Susceptibility to Pristane-Induced Arthritis
2018
Anticoagulants from Hematophagous. In: Anticoagulant Drugs
Biodistribution and Pharmacokinetics of Amblyomin-X, a Novel Antitumour Protein Drug in Healthy Mice
2017
Toxin bioportides: exploring toxin biological activity and multifunctionality
2016
Promising pharmacological profile of a Kunitz-type inhibitor in murine renal cell carcinoma model
Conheça as patentes
• Patent BR 102017005783-6 (21st March 2017) - INSTITUTO BUTANTAN – Reference: Sculptin
• Patent BR 102018008561-1 - Patente de Invenção (PI) - Processo e Kit para identificar entidades moleculares envolvidas na dor de osteoartrite.
• Patent application: “Process and Kit for identifying molecular entities involved in osteoarthritis pain”. Innovation Patent, number BR102019008695-5, on 29/04/2019. Depositante: Instituto Butantan. Inventors: Yara Cury, Michelle Cristiane Bufalo, Sandra Coccuzzo Sampaio, Vanessa Olzon Zambelli, Luciene Maria Zanchetta, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, Maíra Estanislau Soares de Almeida
• Patent Application: COMPOSTO PARA A MODULAÇÃO DE VIAS DE RLR, TLR, OAS E/OU ONCOSTATINA M, USO DO MESMO PARA A PREPARAÇÃO DE UM MEDICAMENTO, COMPOSIÇÃO E MÉTODO PARA MODULAÇÃO DAS DITAS VIAS WO/2020/102875 BR102018074043. Depositor: Instituto Butantan. Inventors: Ana Marisa Chudzinski Tavassi, Flavio Lichtenstein, Mauricio Barbugiani Goldfeder, Katia Luciano Pereira Morais, Jean Gabriel de Souza, Carlos DeOcesano Pereira, Roger Chammas
• Patent Application: Compound to direct molecular entities to the intracellular domain of neoplastic cells, active pharmaceutical ingredient comprising the aforementioned compound, pharmaceutical composition, method for diagnosis, prognosis and/or Cancer treatment. Patent number: BR1020180740377, INPI 22/11/2018. Depositor: Instituto Butantan. Inventors: Chudzinski-Tavassi, A.M.; Alvarez-Flores, M.P.; Morais, K.L.P.; Mourier, G.; Servent, D.
• Patent Application “Anti-inflammatory peptides, pharmaceutical composition comprising such peptides and their uses”. Patent number: BR 10 2019 018666 6, INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial. Data of deposit: 09/09/2019. Depositor: Instituto Butantan. Inventors: Chudzinski-Tavassi, A.M.; Alvarez-Flores, M.P.; Cury, Y.; Bufalo, M.C.; Kerkis, I.; Cerqueira, F.M.; Frare, E.O.
Comitê Executivo do CENTD
Coordenação:
Ana Marisa Chudzinski-Tavassi (Butantan), Kevin Madauss (GSK): coordenador e vice-coordenador
Denise V. Tambourgi (Butantan), David Tough (GSK): vice-coordenadores adjuntos
Isabel de Fátima Correia Batista (Butantan): gerência-executiva
Educação e Difusão do Conhecimento:
Linda Bernardes e Vanessa Zambelli
Transferência de Tecnologia:
Gisele Picolo e Mauricio Barbugiani Goldfeder
Comitê Científico [Pesquisadores Principais (PP) e Pesquisadores Associados (PA)]:
Ana Marisa Chudzinski-Tavassi (PP), Denise V. Tambourgi (PP), Olga Célia Martinez Ibañez (PP), Catarina de Fátima Pereira Teixeira (PA), Irina Kerkis (PA), Vanessa Zambelli (PA)
Infraestrutura
Dilza Trevisan Silva (Infraestrutura Computacional) e Janaina Souza Ventura (Suporte Burocrático-Financeiro)
Comitê Internacional de Avaliação
Glenn King (University of Queensland - AU), Kathy Triantafilou (Cardiff School of Medicine - UK), Roger Chammas (Universidade de São Paulo - SP), Jonathan Larkin (GSK Philadelphia - USA)