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Últimos românticos: conheça 4 casais do mundo animal e seus rituais de namoro envolventes

Encontros amorosos da jararaca, monstro-de-gila, dragão barbudo e lagarto monitor têm momento certo e truques para acontecer


Publicado em: 12/06/2024

Para conseguir acasalar, algumas cobras e lagartos machos ficam horas ou dias cortejando as fêmeas. Outros, mais afoitos, chamam atenção dando pequenos empurrões ou mordidas. As atitudes um tanto inconvenientes costumam funcionar bem no mundo animal, onde insistência é quase amor.

Neste Dia dos Namorados, selecionamos quatro casais do mundo animal para contar como eles convivem juntos – geralmente na época do acasalamento. Não espere olhos nos olhos, nem passeios românticos, mas surpreenda-se com rituais de acasalamento envolventes. 

Você pode conhecer todos esses animais no Museu Biológico, do Parque da Ciência Butantan.

Casal da espécie Bothrops sazimai se entrelaça durante corte do macho

 

Jararaca-da-ilha-dos-franceses

O Museu Biológico mantém em sua exposição um casal da espécie Bothrops sazimai, que vive apenas na Ilha dos Franceses, no Espírito Santo.  Em cativeiro, essas serpentes ficam mais tempo juntas do que outras jararacas que vivem em ilhas. Isso quer dizer que eles se encontram mais de uma vez na época de acasalamento, registrados no Museu em agosto e setembro. É neste período que o macho, que é menor do que a fêmea, se aproxima mais dela na tentativa de copular. 

Com esse objetivo em mente, ele inicia a corte, se posicionando no dorso da fêmea, e desliza a cabeça e a língua pelo corpo da pretendente, esperando o momento do sim: o levantamento da cauda e o relaxamento da cloaca da fêmea. É aí que a cópula acontece – o macho introduz seu hemipênis (órgão copulatório que fica dentro da cauda da serpente macho) no órgão genital da fêmea. Como é uma espécie semiarborícola, os acasalamentos foram registrados tanto no chão como sobre os galhos.

Um detalhe anatômico pode fazer diferença no acasalamento: fêmeas adultas de jararacas são maiores e mais pesadas do que os machos, e um estoque de gordura abdominal é necessário para que a fêmea consiga ter uma gestação sem problemas, e gerar filhotes saudáveis.

Na natureza, exemplares da espécie se alimentam, sobretudo, de insetos e principalmente de pequenos lagartos. 

 

Casal de monstro-de-gila geralmente acasala entre os meses de primavera e verão 

 

Monstro-de-gila

Um dos três lagartos venenosos do mundo, o monstro-de-gila (Heloderma suspectum) também é adepto do encontro amoroso esporádico, porém intenso. É na época de acasalamento, que ocorre na primavera e no verão, que o macho junta seu corpo ao da fêmea na tentativa de copular. Ele usa as patas para ajeitar o corpo da pretendente para o lado, a fim de conseguir introduzir seu órgão reprodutor. 

O ato pode parecer um MMA animal, já que as fêmeas são maiores e mais pesadas do que os machos, podendo atingir 50 cm de comprimento e pesar em torno de 1,5kg. Mas nada mais é do que o ritual esperado de reprodução. Se ela permanecer com o corpo lateralizado, é um sinal afirmativo para o macho. Nestas fêmeas a gordura abdominal também é sinônimo de fertilidade. Machos que se prezem deveriam oferecer mais camundongos, sapos, aves e ovos a elas, os alimentos preferidos da espécie. Apesar de tudo, após a cópula, o casal se separa sem ressentimentos.

 

Fêmeas do dragão barbudo tendem a ser mais desejadas se estiverem mais corpulentas

 

Dragão barbudo

O “namoro” da espécie Pogona vitticeps, nome científico do dragão barbudo, é típica dos lagartos e semelhante ao do monstro-de-gila. Isto é, o macho tenta deixar o corpo da companheira de lado para facilitar a cópula. Porém, é preciso uma bela dose de paciência, pois a fêmea nem sempre está disposta mesmo na época do acasalamento. 

A espécie se alimenta de verduras, frutas e alguns insetos e suas larvas, e as fêmeas também tendem a ser mais desejadas quanto mais corpulentas estiverem. Por serem belos e pequenos, costumam ser alvo do tráfico de animais. 

 

Macho do lagarto monitor-de-cauda-espinhosa morde o pescoço da fêmea para chamar sua atenção

 

Monitor-de-cauda-espinhosa

O macho do lagarto monitor-de-cauda-espinhosa (Vanarus acanthurus), típico da Austrália, não é dos mais pacientes quando o assunto é namoro. Ele e a fêmea tendem a ser solitários fora da época do acasalamento, que ocorre nos meses de primavera e verão. Neste período, ele até faz a corte da fêmea, também tentando lateralizar seu corpo. Em caso negativo, parte para uma tática sensorial: morde o pescoço da amada. O gesto é parte do ritual de corte da espécie e uma forma de dizer ‘estou aqui, querida” e tende a funcionar. Mas o acasalamento só ocorre de fato se a fêmea estiver receptiva.

 

A reportagem foi feita sob orientação da pesquisadora científica e coordenadora de manutenção animal do Museu Biológico do Butantan, Silvia Cardoso.

 

Reportagem: Camila Neumam

Fotos: José Felipe Batista