A iniciativa faz parte das inúmeras atividades de internacionalização promovidas pelo Instituto. “Recebemos estudantes de fora em todos os níveis, inclusive pós-doc, mas, em geral, essas iniciativas partem diretamente dos laboratórios em cooperação com pesquisadores de outros países. Esta foi a primeira vez que viabilizamos um intercâmbio no âmbito de um programa institucional. A experiência servirá para estruturarmos o recebimento, avaliarmos o nível e interesse dos estudantes, o resultado nos laboratórios e, se for uma experiência bem sucedida, tentar estendê-la para outras instituições internacionais”, explica Yara Cury, diretora da Divisão de Desenvolvimento Científico.
“Essa experiência foi muito valiosa para mim, que nunca tinha feito uma pesquisa básica. Ela me ensinou uma série de novas competências para o trabalho em laboratório e me ensinou sobre o processo geral de pesquisa”, diz o estudante de medicina Joseph Reason. Ele estagiou no laboratório de Biotecnologia Molecular IV e trabalhou em uma parte de um projeto para desenvolvimento de um kit diagnóstico para tuberculose. A pesquisa compreende a utilização de uma determinada proteína verde expressa em um fago que infecta a bactéria da tuberculose e a torna fluorescente. A ideia é utilizar o fago com a proteína como um sinalizador para detectar a presença da bactéria da tuberculose e diagnosticar a doença em menor tempo do que os exames atualmente disponíveis.
“Nossa preocupação foi colocá-lo em um projeto que fosse tangível, isto é, que ele pudesse ver resultados ainda no período do estágio. O importante nesse tipo de estágio é que o aluno participe mesmo e não fique só observando”, explica o pesquisador Ivan Nascimento, responsável pela supervisão do estágio de Reason.
A seleção dos estudantes funciona da seguinte maneira: o Butantan informa à Universidade de Oxford os laboratórios que têm interesse em receber estudantes durante as férias de verão. Em seguida, a universidade britânica tria os alunos interessados na vaga e o laboratório define o estudante que poderá trabalhar como estagiário em suas dependências. O programa dura oito semanas e vai, normalmente, de julho a setembro. Este ano houve uma exceção. O estudante de medicina Tom Graham chegou ao Butantan em setembro e cumpre seu estágio até a primeira semana de novembro no Laboratório Especial de Dor e Sinalização, que também recebeu o estudante Joshua Harvey.
“Os dois já vieram com certa experiência [de laboratório], então, os incluímos em projeto já em andamento, mas com tarefas que eles pudessem tocar e produzir”, explica a orientadora e pesquisadora Vanessa Zambelli. “O Tom veio de um laboratório de virologia e aqui ele trabalha na área de neurociências, utilizando técnicas e metodologias que ele não estava habituado”. O estudante Graham teve a oportunidade de participar de uma parte dos estudos sobre a importância dos aldeídos reativos no controle de dores crônicas e inflamatórias, que integram o trabalho do Laboratório de Dor e Sinalização do Butantan de desenvolvimento da molécula Alda-1 como possível analgésico.
“Eu tenho diversos outros interesses que me impulsionam para outras carreiras, mas minha experiência aqui me fez recordar porque eu quero me aprofundar em ciência”, conta Graham. “Eu gostei de ver a produção de coisas aqui no Butantan – as fábricas de vacina, por exemplo – algo que eu nunca tinha visto antes. Acredito que é muito raro ter pesquisa e produção em um mesmo lugar e isto é algo único no Butantan”.
Mickie Takagi, pesquisadora responsável pelo Laboratório de Bioprocessos I, considera a experiência prática de laboratório que o estágio proporciona como um diferencial importante na carreira dos futuros profissionais. “O programa também é benéfico para o Butantan porque promove a troca de informações entre os profissionais da instituição e os estudantes, nas áreas científica e cultural. Além disso, é um treinamento para aqueles que têm interesse em atuar na área de produção no futuro”. O Laboratório de Bioprocessos participa do programa com projeto de pesquisa relacionado à cinética de diferentes microrganismos para a produção de antígenos e biomoléculas.
Segundo os pesquisadores Vanessa e Nascimento, a experiência é enriquecedora para ambos os lados, especialmente porque os alunos atuais dos laboratórios podem ter contato rotineiro com alguém do idioma que é a língua corrente para quem trabalha com ciência. Devido ao curto período de passagem dos estrangeiros, o planejamento mobilizou toda a equipe de Vanessa, pois os estudantes do laboratório precisaram realizar preparos para que os estrangeiros pudessem fazer os experimentos. “Tivemos que mudar o idioma das nossas reuniões e adaptar protocolos. Foi uma mobilização positiva. A iniciativa é uma maneira de divulgar o que a gente faz, mostrar que fazemos boa pesquisa e expandir a possibilidade futura de colaboração. Se esses alunos forem trabalhar na área, eles já nos conhecerão”, afirma.
Este parece ser o cenário que se desenha para estudante de medicina Philomena Lip, que estagiou no laboratório de Bioquímica e Biofísica fazendo experimentos com proteassomo de levedura. “Ela me contou, na volta a Oxford, que encontrou lá um laboratório que estuda proteassomo em câncer, área na qual tem interesse”, informa a pesquisadora Marilene Demasi, que orientou o trabalho de Philomena no Butantan. A aluna teve ainda a oportunidade de escrever com a orientadora uma revisão sobre o papel funcional do proteassomo em sistema nervoso central que será submetida para publicação em breve e de acompanhar Marilene no Congresso da União Internacional de Bioquímica e Biologia Molecular. “O estágio teve um impacto enorme [na carreira] e me impulsionou a ter um olhar mais crítico para analisar os resultados dos meus experimentos. A conferência da qual participei em Foz do Iguaçu abriu meus olhos sobre minha carreira. Ela me permitiu conhecer muitas pessoas e estabelecer contatos para estágios futuros de investigação [científica]”, conta a aluna.
Em 2016, o Instituto deseja repetir a experiência deste ano, recebendo dois estagiários da Universidade de Oxford. Em breve, todos os laboratórios serão contatados para, caso tenham interesse em participar do programa, apresentar o projeto, que será, em seguido, enviado à universidade inglesa.
Confira algumas fotos dos alunos: