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Tratamento de US$ 500 mil para câncer poderá ser oferecido no SUS com novo núcleo de terapia celular do estado de São Paulo

Butantan, USP e Hemocentro de Ribeirão Preto serão os primeiros a produzir terapia CAR-T em escala no Brasil


Publicado em: 23/06/2022

Uma terapia inovadora para câncer, que pode custar até US$ 500 mil e já se mostrou capaz de causar remissão da doença em pacientes, deverá ser disponibilizada para a população brasileira pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Esse é o objetivo do Programa de Terapia Celular, iniciativa do Butantan, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, realizada pelo governo do estado de São Paulo. Composto pelos centros Nutera - São Paulo e Nutera - Ribeirão Preto, os núcleos serão as primeiras instalações a produzir a terapia CAR-T em escala totalmente no Brasil.

“Esse novo programa é prova da maturidade e da excelência da ciência que fazemos no Brasil, e tornará nosso país o mais produtor de terapias avançadas para câncer da América Latina. Somos os únicos institutos públicos brasileiros atuando nessa área, em um trabalho que envolve uma equipe de mais de 50 pesquisadores. E nós faremos isso do começo ao fim, com o objetivo de entregar esse tratamento ao SUS e beneficiar a população”, afirma o médico hematologista que lidera a iniciativa, Dimas Covas, presidente do Butantan.

As neoplasias hematológicas (ou cânceres no sangue) são o alvo da tecnologia CAR-T, que “reprograma” as próprias células de defesa do paciente para que elas identifiquem e eliminem o câncer. A terapia desenvolvida no Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto já foi testada de forma compassiva, quando o paciente esgota as opções de tratamento e não obtém resultado. Agora, caminha para a fase 1 do estudo clínico, que será submetido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e deverá começar em outubro com 30 pacientes com linfoma não Hodgkin de células B. Se for provada segura, a terapia seguirá para as fases 2 e 3 em um maior número de voluntários.

A parceria entre Butantan, USP e Hemocentro de Ribeirão Preto vem com a missão de ampliar o acesso à terapia de células CAR-T para a população brasileira. A produção 100% nacional por instituições sem fins lucrativos é uma das grandes vantagens do novo núcleo para permitir a redução dos custos e facilitar a inclusão do tratamento no SUS. “O Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto tem mais de 20 anos de experiência na área. Isso contribui para diminuir os custos, já que não precisamos pagar caro por um licenciamento ou para fazer uma transferência de tecnologia, por exemplo, porque já temos pesquisadores com a expertise necessária”, afirma o gerente de Inovação do Butantan, Cristiano Gonçalves, responsável pelo Escritório de Inovação e Licenciamento de Tecnologia da instituição.

Em março, a Anvisa aprovou o registro da primeira terapia celular para câncer no Brasil, também voltada para neoplasias hematológicas: a Kymriah, desenvolvida pela Novartis. Ela é indicada para pacientes pediátricos e adultos de até 25 anos com leucemia linfoblástica aguda de células B e para pacientes adultos com linfoma difuso de grandes células B, que passaram por outros tratamentos e não tiveram melhora. No entanto, poucos conseguem acesso a essa terapia, que custa cerca de US$ 500 mil, o equivalente a R$ 2,5 milhões. As células T extraídas do paciente são exportadas para os Estados Unidos, onde são trabalhadas em laboratório para depois voltarem ao doador. 

A CAR-T surgiu nos Estados Unidos e vem sendo aplicada experimentalmente em pacientes em estágio terminal de câncer desde 2010. Os resultados positivos levaram a agência reguladora norte-americana Food and Drug Administration (FDA) a aprovar por unanimidade o uso da terapia em 2017. Desde então, outras seis tecnologias CAR-T foram aprovadas no país, todas focadas em câncer de sangue – leucemia, linfoma e mieloma múltiplo. O custo também chega a US$ 500 mil por paciente.