Alarme falso: lagarto-de-língua-azul “finge” ser venenoso para enganar seus predadores
Natural da Austrália e da Indonésia, animal se camufla na terra e adora comer caracóis; público pode ver a espécie de perto no Museu Biológico do Butantan
Publicado em:
26/09/2025
Reportagem: Natasha Pinelli
Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan
Do outro lado do mundo, na Austrália e nas Ilhas Tanimbar, na Indonésia, vive um lagarto malandro, que se defende dos inimigos de um jeito pra lá de diferente: mostrando a língua. Mas o que parece rebeldia, na verdade, é esperteza. Batizado de lagarto-de-língua-azul, ele usa o órgão de cor vibrante para “enganar” seus predadores, que acabam fugindo por confundi-lo com um bicho venenoso – o que ele não é.
Na natureza, cores chamativas, como azul, laranja e vermelho, são um sinal de alerta. É como se um animal ou planta dessa cor tivesse, também, uma placa: “não me morda, sou venenoso e posso fazer mal”. Os cientistas acreditam que alguma espécie ameaçadora, de coloração azulada, viva na mesma região que o Tiliqua scincoides, nome científico do linguarudo, o que contribui para a confusão.
Cores como laranja, vermelho e azul – caso da língua da Tiliqua scincoides – podem representar um alerta na natureza
Além de ser uma estratégia de defesa, colocar a língua para fora funciona como um “radar”. Quando o lagarto faz isso, partículas que estão no ar são capturadas e enviadas para o chamado Órgão de Jacobson, situado no céu da boca dos répteis, capaz de “ler” cada um dos pedacinhos e informar o cérebro do animal sobre o ambiente ao seu redor.
Como são? Como vivem? O que comem?
Medindo cerca de 40 centímetros, o lagarto-de-língua-azul tem corpo marrom acinzentado e pernas curtas. Por conta desse detalhe, ele não é um bom escalador, apesar de até conseguir passear por entre arbustos mais baixos. Seu negócio mesmo é revirar a terra e se esconder entre as folhas caídas no chão e a vegetação rasteira.
Como todo réptil, ele depende do ambiente onde vive para regular sua temperatura interna. Fã do calorão, logo que acorda o lagarto gosta de ficar ao sol para espantar a preguiça e esquentar o corpo. Depois, corre para áreas mais frescas da vegetação, onde descansa à sombra das árvores.
No cardápio do lagarto-de-língua-azul cabe de tudo um pouco: folhas, flores, frutos, insetos e até ovos de outros animais. Um dos seus alimentos favoritos são os caracóis – tanto que o bicho possui uma mandíbula poderosa, capaz de quebrar a concha que protege os pequenos moluscos terrestres.
As fêmeas adultas da espécie são capazes de gerar, em média, de dez a quinze filhotes a cada gestação. Quando nascem, os pequenos lagartos já estão prontos para o mundo.
A exposição do Museu Biológico do Butantan agora conta com um exemplar de lagarto-de-língua-azul
Conheça Lilica, a nova moradora do Butantan
Em janeiro deste ano, uma fêmea de lagarto-de-língua-azul chegou ao Museu Biológico do Instituto Butantan, após uma apreensão realizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Carinhosamente batizada de Lilica, nome inspirado no som da palavra “Tiliqua”, ela passou por meses de cuidado e carinho, até ganhar seu próprio recinto no museu em setembro. O espaço procura recriar o ambiente onde o lagarto ocorre naturalmente, a fim de garantir sua saúde e bem-estar.
Ficou interessado em conhecer a Lilica e ver sua famosa língua azul de perto? Então não deixe de visitar o Museu Biológico do Instituto Butantan. A atração funciona de terça a domingo, das 9h às 16h45.
Na natureza, a T. scincoides gosta de ficar sob pedras para aquecer o corpo e regular sua temperatura
LAGARTO-DE-LÍNGUA-AZUL
Espécie:Tiliqua scincoides Onde habita: florestas abertas e secas das regiões norte e leste da Austrália, e nas Ilhas Tanimbar, na Indonésia Características: mede cerca de 40 centímetros, tem pernas curtas, corpo marrom acinzentado e língua azul vibrante Alimentação: come caracóis, insetos, folhas, flores, frutos e ovos de outros animais Curiosidade: mostra sua língua azul como defesa, espantando seus inimigos
Essa matéria contou com a colaboração e a validação da tecnologista em manejo animal do Museu Biológico, Pamela Silva Santos.
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