Infecções respiratórias fazem parte de nossas vidas há muito tempo. Só no século 20 e 21, foram ao menos dez epidemias ou pandemias de diferentes doenças. Diferentes subtipos de influenza, os vírus SARS-CoV 1 e 2 e o vírus Zika são exemplos de algumas dessas enfermidades que se espalharam pelos continentes e, às vezes, pelo mundo todo. Entre as últimas pandemias, porém, há um traço em comum: todas elas foram de doenças causadas por patógenos que se transmitem pelo ar e causam doenças respiratórias.
Segundo dados de 2017 da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 650 mil pessoas ao redor do mundo morrem a cada ano por doenças ligadas à gripe sazonal. A epidemia de SARS-CoV que ocorreu em 2003, na China, se disseminou para cerca de 12 países, provocando mais de 800 mortes. O vírus de mesma linhagem, o SARS-CoV-2, que vem causando a pandemia de Covid-19 há mais de dois anos, já causou mais de 5,5 milhões de óbitos ao redor do mundo, podendo ter levado a três vezes mais mortes do que o contabilizado, segundo estudo publicado na revista cientifica The Lancet.
Além de óbitos, essas enfermidades podem deixar sequelas para os infectados. A Covid-19, por exemplo, causa danos que podem, em muitos casos, ser irreversíveis. Entre as possíveis sequelas estão miocardite (inflamação no músculo do coração) e pericardite (inflamação na membrana que reveste o órgão).
Diante desse cenário, é possível dizer que vivemos a “era das doenças respiratórias”? A diretora do Laboratório de Virologia e pesquisadora do Butantan, Viviane Fongaro Botosso, explica que o estudo e descrição dos vírus, como conhecemos hoje, começou nos anos 1920, mas desde a época de Hipócrates há relatos de doenças que causam sintomas semelhantes aos da gripe, causada pelo vírus influenza.

Por que, após séculos de registros de doenças respiratórias e com o avanço das novas tecnologias, ainda enfrentamos surtos e pandemias de vírus transmitidos via oral?
No século 20, tivemos três grandes pandemias; no século 21, já estamos na segunda. Para Viviane Fongaro Botosso, é normal que haja a infecção de certos vírus, pois eles circulam entre nós, mas que é necessário estarmos prontos caso haja outros surtos. “Os órgãos responsáveis estão sempre se preparando para uma possível pandemia”, lembra a pesquisadora.
Doenças como influenza, sarampo, varíola, entre outras, podem ser e foram controladas ou erradicadas por meio da vacinação. Mas quando há uma baixa cobertura vacinal para determinada doença, a volta dela é inevitável. O sarampo, por exemplo, foi controlado em muitos países por meio da vacinação, mas com o relaxamento da imunização em 2017 foram registradas 110 mil mortes no mundo e, em 2019, houve um surto, com mais de 20 mil casos só no Brasil. “Em 2019, a cobertura vacinal não foi o suficiente para barrar a entrada do vírus aqui no Brasil”, relembra Viviane. “Os movimentos antivacina são responsáveis pelo ressurgimento de doenças antes controladas em algumas áreas”, conta.
-11409750d4a4da06.jpg)
Além disso, existem doenças para as quais não há vacina. Um exemplo é o vírus sincicial respiratório (VSR ou RSV, na sigla em inglês), patógeno que atinge principalmente a população infantil e causa mais de 200 mil mortes anualmente. “Pela tenra idade das crianças, que não têm um sistema imunológico pronto, ainda não se tem uma vacina que previne o VSR, assim como não há vacina para prevenir uma série de doenças”, conta Viviane. Atualmente, quando é detectada a infecção do vírus em uma criança no hospital, recomenda-se que ela fique em isolamento para evitar que o contágio de outras. “Há uma série de cuidados e tratamentos que podem diminuir a disseminação do vírus e a mortalidade”, completa.
Além da baixa cobertura vacinal, há outros aspectos que contribuem para o surgimento ou ressurgimento de doenças ou variantes de vírus existentes. Entre eles estão o degelo dos polos, provocado pelo aquecimento global, e a destruição de biomas, que coloca o ser humano em contato com o desconhecido. “A mudança em um bioma ou ecossistema favorece o aparecimento de um novo agente infeccioso e, consequentemente, de novas doenças”, conta Viviane. Outro fator é que em algumas culturas, a venda e consumo de animais silvestres é comum. Esse contato direto também propicia o surgimento de novas doenças, mesmo que o animal em questão seja cozido corretamente, eliminando o vírus. “Até chegar nessa etapa, já houve manipulação da carne, do sangue, das vísceras. Nessas partes pode haver a contaminação de vírus diferentes”, diz.
O que fazer para evitar doenças respiratórias
Podemos contribuir para o não surgimento de novas doenças e combater sua proliferação, mantendo o costume de usar máscaras e nos mantendo distante das outras pessoas se estivermos com sintomas de alguma doença respiratória. “São coisas pequenas que não afetam o psicológico das pessoas”, conta Viviane.
Além disso, é essencial manter o cartão de vacinação sempre em dia. Muitos surtos de doenças são causados por variantes de um vírus já conhecido, para o qual se tem vacina –como foi o de gripe que ocorreu no fim de 2021, no Brasil, ocasionado pela variante Darwin do vírus influenza (H3N2). A vacina de gripe, que contém subtipos A H1N1, A H3N2 e B, é atualizada todos os anos com as cepas mais circulantes no hemisfério sul no ano anterior. No entanto, mesmo contendo variante do vírus H3N2 diferente da circulante, o imunizante usado na campanha de 2021 foi capaz de oferecer proteção cruzada contra o vírus.




