Portal do Butantan

CoronaVac começou a segurar a pandemia no Brasil e seria uma ótima opção para crianças, explica diretora clínica do HC/USP


Publicado em: 21/12/2021

A CoronaVac, vacina do Butantan e da Sinovac que iniciou a imunização contra a Covid-19 dos brasileiros foi responsável por iniciar a diminuição de casos no país, o que persistiu por muito tempo. Essa é a opinião da diretora clínica do maior complexo hospitalar da América Latina, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em São Paulo, a reumatologista Eloisa Bonfá. Em entrevista ao Portal do Butantan, ela afirma também a importância de vacinar crianças e populações vulneráveis para evitar o surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2, e que a CoronaVac seria a vacina mais indicada para esses públicos por ser a que provoca menos reações adversas.

 

A vacinação trouxe uma diminuição do número de pessoas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com Covid-19. Qual a importância da CoronaVac no combate à pandemia?

A vacinação, de forma geral, no mundo inteiro mudou a história da pandemia. As vacinas têm um enfoque muito claro de diminuir internações e casos graves. A Coronavac, particularmente, teve um papel muito importante no Brasil porque foi a primeira disponível e dada aos mais vulneráveis: idosos, pessoas na linha de frente e imunossuprimidos. Cada vez que chegava uma faixa etária, a gente conseguia ver claramente a diminuição do número de casos, mais ou menos dez dias depois da segunda dose. Esse papel persistiu por muito tempo, porque só depois de seis a oito meses fomos dar a terceira dose, de reforço, mas não tivemos aumento grande de internações depois de seis meses, como aconteceu em Israel. Nós demos terceira dose sem esse evento, já prevenindo. Nos antecipamos ao que poderia acontecer. Pode-se dizer com muita tranquilidade que o que começou a segurar a pandemia no Brasil foi a CoronaVac nos mais vulneráveis.

 

Qual o perfil dos doentes com Covid-19 hoje?

De forma geral, continuam sendo de mais risco os mais idosos, imunossuprimidos e transplantados, que terão quadro mais grave. Uma porcentagem deles não está respondendo à vacina e precisamos buscar estratégias para tentar melhorar a resposta vacinal. Uma delas é dar terceira, quarta dose e tentar estimular o sistema imune dessas pessoas. Esse é o perfil de maior risco, mas o número de pacientes internados, em São Paulo e no Brasil, diminuiu muito. A gente tem hoje 20% de ocupação dos leitos de pacientes com Covid-19. Antes, tinha predomínio em UTI, e hoje em enfermaria e menos graves.

 

O número de mortes de crianças por Covid-19 é alto em alguns países da Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. A vacina com vírus inativado, como a CoronaVac, é segura para essa população pediátrica abaixo de 11 anos?

O Chile já está dando a vacina para crianças menores. Se houver escolha, talvez devessem dar uma vacina que tenha menos efeito colateral. Nesse caso, a CoronaVac seria uma ótima opção, mas qualquer vacina tem muito benefício. Temos casos graves que deveriam ser evitados se existe uma vacina. Jovens e crianças respondem muito bem à imunização.

 

Como você prevê que seja o processo vacinal contra Covid-19 daqui para a frente?

A proposta é que a gente amplie a terceira dose, porque tem algumas evidências mostrando que duas doses talvez não sejam totalmente eficazes para combater a nova cepa ômicron. A tendência é que haja esforço grande para um reforço, principalmente nas populações mais vulneráveis. Talvez ainda exista a possibilidade da quarta dose e tentar outras estratégicas em populações muito específicas, como os imunossuprimidos. Primeiro, porque respondem menos à vacina; segundo, têm doenças muito mais graves; e, terceiro, porque há um benefício de saúde pública: é justamente nessa população que não consegue fazer a limpeza adequada do vírus que aparecem as mutações. Então se você procurar defender essa população, fazer com que ela consiga responder, talvez a gente evite o aparecimento de novas mutações.

 

Quais os maiores desafios de ser uma cientista no Brasil durante uma pandemia?

Ter recursos. Realmente precisa-se investir, o país não vai para a frente sem inovação. Precisa ter esse grupo trabalhando na linha de frente da ciência. Segundo é que nós trabalhamos, mas não paramos para explicar o que estamos fazendo. As fake news tiveram poder de contágio e isso acaba diminuindo a capacidade de salvar vidas. A maior inovação que fez a diferença na pandemia foi o desenvolvimento de vacinas. Esse foi o maior benefício mundial e só é possível se a gente tiver dinheiro, se as pessoas respeitarem a ciência e se a gente souber se comunicar melhor.