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PNI 50 anos: Priorizar vacinação infantil reduziu mortalidade e aumentou em 30 anos a expectativa de vida no Brasil

Programa começou com foco na imunização de crianças na década de 70 e passou a contemplar outros grupos de alto risco, como idosos e gestantes


Publicado em: 14/09/2023

Na década de 1940, a mortalidade de meninos e meninas de até 5 anos no Brasil chegou a ser de 212 a cada mil crianças – na população geral, o número era de 19 a cada mil habitantes. Reduzir essa taxa foi o principal motivo para a criação, em 1973, do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que completa 50 anos este mês. Dez anos após a fundação do PNI, a mortalidade infantil já tinha caído mais de 50%, e continuou diminuindo nas décadas seguintes: em 2019, a taxa foi de 14/mil. 

O foco na imunização de crianças contribuiu para que a expectativa de vida no Brasil saltasse cerca de 30 anos, de 45,5 em 1940 para 76,6 em 2019. “A vacinação de crianças, reduzindo não só os casos de doença, mas também a circulação de agentes infecciosos entre a população, impactou positivamente na saúde de adultos e idosos (proteção coletiva)”, aponta editorial da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) para a Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, publicado em dezembro de 2017.

Isso porque o público pediátrico é um importante transmissor de patógenos, que se disseminam rapidamente em escolas devido à aglomeração e à falta de hábitos de higiene. Além disso, segundo o infectologista Érique de Miranda, gestor médico do Instituto Butantan, essa população possui um repertório limitado de memória imunológica. “Como elas foram menos expostas a microrganismos do que os adultos, é comum adquirirem diversas infecções por ano”, explica.

Campanha de vacinação contra a poliomielite, doença que causa paralisia infantil, em 1968 (Foto: Acervo MUSPER)

 

As crianças também recebem prioridade em campanhas periódicas como a da gripe, ao lado de grupos como idosos, gestantes, imunossuprimidos e trabalhadores de saúde. O enfoque nesses públicos visa proteger os mais vulneráveis e acelerar a vacinação para reduzir a transmissão, as hospitalizações e as mortes. “Considerando que os recursos são finitos e a vacina da influenza precisa ser atualizada a cada ano, o ideal é que seja priorizada a população de maior risco, o que reduz os impactos da doença e os custos para o sistema de saúde.”

Até hoje, as campanhas de vacinação em geral priorizam crianças porque grande parte das doenças infecciosas são mais graves nesse público. Mas, ao longo do tempo, idosos, imunossuprimidos e gestantes também ganharam campanhas especiais devido ao seu sistema imune comprometido e ao risco de infectar os bebês.

Além disso, adultos que não estão inseridos em populações mais vulneráveis também precisam se vacinar. A imunização dos maiores de 18 anos ganhou espaço após a década de 1990, seja porque alguns não haviam recebido os imunizantes na infância ou estavam com esquema incompleto, seja porque algumas vacinas exigiam reforço. A DT (difteria e tétano), por exemplo, deve ser aplicada a cada 10 anos, inclusive em pessoas acima de 60 anos. 

Os calendários vacinais completos para todos os públicos estão disponíveis no site do Ministério da Saúde.

Trecho de cartilha do Ministério da Saúde sobre doenças transmissíveis, publicado em 1989 (disponível aqui)

 

Idosos, imunossuprimidos e gestantes 

Com o avanço do PNI, campanhas para públicos especiais foram sendo incorporadas à rotina do programa. Um exemplo são os idosos, cuja imunização é importante devido ao processo de imunossenescência. “O sistema imune fica menos eficiente na produção de anticorpos e na resposta celular, e a capacidade de manutenção da memória imunológica é reduzida”, afirma Érique.

Mesmo os idosos que já foram imunizados na infância devem tomar reforços para manter a proteção contra doenças infecciosas – principalmente aqueles que têm comorbidades, como diabetes, doenças cardiovasculares e pulmonares. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) recomenda a vacinação rotineira do idoso com as vacinas influenza, pneumocócica, herpes zóster (disponível somente na rede privada), hepatite B e DTPa (contra difteria, tétano e coqueluche).

Devido ao envelhecimento do sistema imune, idosos também devem ser priorizados nas campanhas de imunização


Em 1993, já com o Sistema Único de Saúde (SUS) consolidado, surgiram os Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE), especializados na vacinação de imunossuprimidos em geral, como transplantados e pessoas com HIV, câncer e outras condições que afetam o sistema imune. São mais de 50 CRIEs espalhados pelo Brasil, e todo estado conta com pelo menos uma unidade.

As gestantes também devem ter atenção especial à vacinação, pois os anticorpos passam pela placenta e protegem o bebê, além de protegerem a mulher contra as formas graves das doenças. O Ministério da Saúde recomenda a administração dos imunizantes DTPa, hepatite B, influenza e Covid-19. “Mesmo se a mulher já tomou as vacinas na infância, ela deve se vacinar novamente para garantir que não haja transmissão de patógenos para o bebê. Se um recém-nascido é infectado com coqueluche ou tétano, por exemplo, ele pode desenvolver uma doença muito grave e corre risco de falecer”, destaca o gestor médico do Butantan. 

 

Reportagem: Aline Tavares

Fotos: Acervo MUSPER, Ministério da Saúde e Shutterstock