É com profunda tristeza que o Instituto Butantan informa a perda de seu funcionário mais antigo e mais querido, o professor Henrique Moisés Canter. Desde 1971, quando começou a trabalhar no Butantan, foram mais de 50 anos dedicados ao Instituto. O enterro será realizado nesta segunda (12), sem velório devido à pandemia e restrito à família.
Biólogo de formação, Henrique Canter nasceu em Porto Alegre (RS) e veio ainda jovem para São Paulo, onde se formou em História Natural na Universidade de São Paulo (USP). Começou a carreira como técnico de laboratório e depois biologista no Museu de Zoologia da USP. Lá permaneceu por 11 anos, pesquisando especialmente a área de entomologia. Depois, se transferiu ao Instituto Biológico, onde ficou por mais um ano.
Em 1971, convidado por seu antigo chefe Lauro Travassos, se tornou diretor do Museu do Instituto Butantan – hoje Museu Biológico e à época o único museu da instituição. “Eu digo sempre que sou um elemento jurássico aqui no Instituto, e testemunha ocular da história”, afirmou em 2009, em entrevista a professores da UNESP. Nos 12 anos que esteve à frente do museu, reformulou os conteúdos e demonstrações de extração de veneno, promoveu exposições itinerantes e a doação de animais a escolas, incluiu recursos audiovisuais, organizou a formação de monitores, entre outras ações. Foi um dos idealizadores do Museu Histórico do Butantan, criado em 1981 em comemoração ao 80º aniversário do Instituto.
A partir de 1983, Henrique Canter assumiu a direção da Divisão de Extensão Cultural, na qual esteve à frente de diversas iniciativas relacionadas a educação e divulgação: produção de materiais didáticos em diferentes plataformas, realização de cursos, simpósios e exposições, parcerias com instituições privadas para elaboração de recursos educacionais. Além disso, coordenou o Grupo de Trabalho de Educação em Ofidismo, junto ao Ministério da Saúde, atividade que rendeu ao Butantan em 1990 a Menção Honrosa do Prêmio José Reis de Divulgação Científica na categoria Instituição.
Participou de diversos projetos de pesquisa junto a CNPq, Ministério da Cultura, FAPESP. Foi autor de livros, artigos, jogos educativos, boletins e informes. Foi um dos promotores da restauração do amplo terrento entre o Butantan e a Cidade Universitária e do Horto Oswaldo Cruz, e idealizou a criação do Museu de Rua, exposição a céu aberto.
Ao longo desses 50 anos, o professor Canter participou de comissões, grupos de trabalho e dos Conselhos Diretores do Instituto Butantan e Fundação Butantan, onde também foi membro da Diretoria da Executiva. Além de diretor do Museu Biológico a da Divisão de Desenvolvimento Cultural, foi diretor substituto do Instituto entre 1998 e 2001 e diretor da Casa Afrânio do Amaral. Foi professor titular de Biologia na Faculdade Oswaldo Cruz, de Zoologia na Universidade de Santo Amaro e de Zoologia na Universidade de Mogi das Cruzes, onde também chefiou o Departamento de Ciências Naturais. Recebeu a Medalha Butantan do Governo do Estado de São Paulo; o Diploma e Medalha do Mérito Histórico e Cultural no grau de Comendador da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História; e a Medalha Mérito Ambiental da Academia Brasileira de Estudos Ecológicos e Meio Ambiente.
Mesmo aposentado, continuou se dedicando ao Butantan, colaborando com vários projetos de divulgação, sendo o último deles a criação do carimbo comemorativo e selo postal dos Correios dedicados ao aniversário de 120 anos do Instituto, em fevereiro deste ano. Ao lado do presidente do Butantan, Dimas Covas, e de outros colaboradores de grande relevância, foi um dos homenageados na cerimônia de lançamento do selo e carimbo.