As obras do Núcleo de Terapia Avançada (Nutera), em Ribeirão Preto, foram entregues nesta segunda (20/6) pelo governo de São Paulo juntamente com o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo e o Hemocentro de Ribeirão Preto. O Nutera - Ribeirão Preto faz parte do maior programa de tratamento avançado contra o câncer da América Latina junto com o Nutera - São Paulo, o primeiro centro desta iniciativa inaugurado na capital paulista na semana passada. Juntos, eles terão capacidade de atender 300 pacientes com câncer por ano.
As unidades vão produzir a terapia celular CAR-T (receptor quimérico de antígeno, em tradução livre da sigla em inglês), que utiliza células de defesa do organismo do paciente oncológico para combater o câncer de sangue, como linfomas e leucemia. Entre as vantagens da terapia estão a diminuição das sessões de quimioterapia e a maior chance de remissão total ou parcial do câncer.
Segundo o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, a entrega do novo centro completa a iniciativa de criação de um polo moderno de tratamento inovador contra o câncer do sangue e futuramente contra outros tipos de doenças oncológicas. No Brasil, a terapia celular CAR-T vem sendo desenvolvida em parceria entre as instituições e o governo estadual e sob supervisão da Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do Estado.
“Hoje nós colocamos o pé na modernidade, no universo que vai salvar milhares e milhares de pessoas. É uma emoção indescritível não só para mim, mas para todos nós que participamos dessa empreitada. É um dia para ficar guardado para sempre”, disse Dimas durante a entrega da obra do Nutera, que contou também com a presença do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, do secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, David Uip, do secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, do reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti, e do prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Duarte Nogueira Júnior.
A terapia celular é considerada inovadora, pois já se mostrou altamente eficaz no tratamento de linfomas e leucemia linfoide aguda. “É a forma moderna de se fazer ciência. Fazer a pesquisa chegar na ponta, que é o paciente, é o que todos nós queremos”, ressaltou o presidente do Butantan.
O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, anunciou durante a entrega do Nutera que foram investidos R$ 200 milhões nos dois centros de terapia celular.
"Esta é uma forma de mostrar que o investimento em pesquisa vale a pena. São Paulo, que sempre premiou a pesquisa, o conhecimento, demonstra hoje como são importantes os investimentos públicos e privados na ciência para que a gente possa produzir novas terapias, novos medicamentos e possa enfrentar as doenças modernas", destacou.
Para o secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, David Uip, os centros colocarão o estado de São Paulo em um patamar semelhante ao dos países mais ricos que já utilizam a terapia no tratamento oncológico.
“O que estamos fazendo hoje é algo inusitado na América Latina e coloca Ribeirão Preto e São Paulo no mapa dos principais países do mundo, como a China, os Estados Unidos e os países europeus, além de colocar o estado de São Paulo como uma alavanca para que todo o Brasil possa reproduzir o que fazemos hoje. É um avanço a ser comemorado por todos os brasileiros.”, afirmou durante a inauguração do centro no interior paulista.
Apesar de a terapia celular já ser aplicada em outros países, seu maior obstáculo é o custo elevado, que pode chegar até US$ 1 milhão [US$ 500 mil por aplicação e outros US$ 500 mil de internação, em média] por aplicação, explica Dimas. Por isso, sua implantação feita por órgãos públicos tem como objetivo reduzir ao máximo o custo da terapia no Brasil, promovendo-a em larga escala no Sistema Único de Saúde (SUS).
“Queremos independência e autonomia nesse setor”, disse Dimas durante a entrega do Nutera - São Paulo.
Entenda o projeto
As unidades de São Paulo e Ribeirão Preto contam com estruturas que permitem a produção, o desenvolvimento e o armazenamento da terapia celular, que será aplicada em ensaio clínico em 30 pacientes do Hospital das Clínicas de São Paulo, Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e o Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que não obtiveram resultados satisfatórios com o tratamento tradicional contra o câncer.
As instalações incluem laboratórios de controle de qualidade, salas de criopreservação, salas de produção de vírus, salas limpas de produção de células CAR-T e de preparo de meios e soluções, além de áreas destinadas ao armazenamento do produto final e dos insumos em tanques criogênicos.
A terapia celular CAR-T foi desenvolvida no Centro de Terapia Celular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. O primeiro voluntário do Brasil, que recebeu o tratamento experimental há dois anos, alcançou a remissão total de um linfoma em estágio terminal. Outros pacientes que optaram pelo tratamento também tiveram remissão.