O Instituto Butantan marcou presença na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), realizada em Brasília (DF) entre os dias 30 de julho e 1º de agosto. O evento reuniu autoridades, especialistas e representantes da sociedade civil para debater as políticas públicas de saúde que serão estratégicas para o Brasil até 2030 e que integrarão a nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI).
O Butantan foi representado pela diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação (CDI), Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, que integrou a plenária O papel da CT&I no Complexo Industrial da Saúde, realizada em 31/7. A mesa foi composta pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, pela ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e pelo pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães Sinval Brandão, representando a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Ana Marisa discutiu a importância do investimento em instituições de vanguarda como o Butantan, que possui estrutura capacitada para desenvolver produtos para a saúde seguindo toda a rota tecnológica, do laboratório ao mercado. “Nós temos capacidade de pesquisa, prova de conceito, testes pré-clínicos, ensaios clínicos e planta produtiva. Somos regidos por um sistema de qualidade e setor regulatório, necessários para se chegar a novos produtos e também para transferir tecnologias. Fortalecer instituições que já produzem tecnologias e inovações é importante para torná-las competitivas a nível mundial e para preparar profissionais altamente capacitados”, ressaltou.
Durante o evento, a ministra da Saúde anunciou a abertura de nove chamadas públicas de incentivo à pesquisa em saúde, com recursos previstos em R$ 234 milhões por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Segundo Nísia, o investimento no complexo industrial é importante para garantir a autonomia do Brasil, que ainda depende de insumos do exterior. Hoje, mais de 90% dos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) usados para produção de medicamentos são importados, resultando em um déficit estimado de R$ 20 bilhões.
Para a diretora do CDI do Butantan, é fundamental o investimento em infraestrutura e a cooperação entre institutos de C&T, setores regulatórios e produtivos e o poder público para fortalecer o ecossistema de inovação e promover o acesso equitativo a produtos e serviços de saúde. “As duas instituições aqui representadas, Butantan e Fiocruz, são institutos de pesquisa. Nós somos treinados a responder, trabalhamos para dar respostas aos problemas de saúde pública, como foi observado com a Covid-19 e outras epidemias na história”, disse ela durante a plenária.
Em fevereiro, Butantan e Fiocruz assinaram um Acordo de Parceria para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, com o intuito de fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde. A parceria é pautada por projetos voltados a empreendedorismo, inovação e desenvolvimento tecnológico, além da internacionalização de produtos, controle de qualidade e formação e capacitação de pessoas.
A 5ª Conferência Nacional de CT&I foi precedida por 200 conferências regionais preparatórias, que aconteceram entre dezembro de 2023 e maio de 2024 em todo o país. Conduzidos pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), ligada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, os debates resultaram em um livro digital que reúne as impressões dos especialistas participantes – entre eles Ana Marisa, que contribuiu para o capítulo Biotecnologia Aplicada à Saúde Humana. O documento também servirá de base para o desenvolvimento do novo plano nacional de CT&I.
Mais de 30 mil pessoas participaram de forma presencial e online da conferência nacional. Nas etapas preparatórias, foram cerca de 100 mil participantes.
Investimento em vacinas e soros liofilizados no Butantan
Em setembro do ano passado, o Instituto Butantan foi um dos órgãos contemplados na Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), lançada para impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de produtos para a saúde pública brasileira. Serão destinados R$ 386 milhões à construção de uma nova fábrica de vacinas de RNA mensageiro e à otimização da fábrica de soros para produção liofilizada.
O complexo industrial do Butantan é composto hoje por seis fábricas, onde são produzidos soros, vacinas e anticorpos monoclonais. A plataforma de imunizantes de mRNA será instalada dentro do Centro de Produção Multipropósito de Vacinas (CPMV), estrutura automatizada inaugurada em 2022 com capacidade de produção em cinco diferentes plataformas vacinais e certificação Nível de Biossegurança 3.
Já a finalização da fábrica de soros liofilizados (concentrados em partículas sólidas) permitirá conservar os antivenenos em temperatura ambiente, facilitando o transporte, armazenamento e utilização, inclusive em áreas remotas do Brasil.
O Butantan tem potencial para desenvolver produtos a partir de diferentes rotas tecnológicas, incluindo laboratórios piloto e plataforma para ensaios pré-clínicos, regidos por normas de qualidade. “Toda essa estrutura para inovação tem permitido e abre portas para o desenvolvimento de tecnologia local, como é o caso de algumas vacinas e soros desenvolvidos no Butantan e que são exemplos do potencial científico e tecnológico nacional”, afirma Ana Marisa.
Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Luara Baggi (ASCOM/MCTI)