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Com nova fábrica do Butantan, Brasil estará preparado para combater novas pandemias rapidamente; entenda a construção e as inovações do CPMV

Na nova fábrica, será possível fabricar rapidamente diferentes imunizantes de base celular em um mesmo ano


Publicado em: 25/03/2022

O Centro de Produção Multipropósito de Vacinas do Butantan (CPMV) vai colocar o Brasil em um novo patamar internacional no desenvolvimento de imunobiológicos, contribuindo para tornar o país autossuficiente e preparado para combater outras pandemias que surgirem. Isso porque a nova fábrica de imunizantes do Instituto é uma das mais inovadoras e modernas do Brasil, sendo alinhada aos conceitos da Indústria 4.0 e totalmente automatizada, com capacidade de produção em cinco diferentes plataformas vacinais e certificação Nível de Biossegurança 3, um dos mais altos do setor farmacêutico.

Com todos esses elementos unidos em uma mesma instalação, o Butantan passa a ter a capacidade de atender rapidamente às demandas de saúde pública do Brasil. “É um salto na frente, de uma autonomia que o Butantan vai dar para o Brasil de produzir IFA [Insumo Farmacêutico Ativo] em escala industrial”, resume o gerente de desenvolvimento industrial do Butantan, Adriano Ferreira. “O CMPV nos dá a garantia que conseguiremos reagir a qualquer pandemia muito mais rápido do que antes”, concluiu o diretor de infraestrutura, Rafael Lubianca.

Inicialmente, entre as vacinas que poderão ser fabricadas no CPMV estão as da raiva, da hepatite A, da zika e contra o SARS-CoV-2. A capacidade instalada de produção da nova planta é de 100 milhões de doses por ano, sendo que a área construída é de 11 mil m².

 

Um projeto de longa data acelerado pela pandemia

A ideia de construir uma fábrica de vacinas que fosse multipropósito, ou seja, que pudesse ser adaptada para a produção de diferentes imunizantes em um curto espaço de tempo, é antiga no Butantan. A pandemia de Covid-19 acelerou a concretização do plano. Era preciso construir rapidamente uma fábrica que pudesse responder às necessidades daquele momento. Mas como fazer isso em pouco tempo, quando estamos falando de uma instituição pública? Dois processos foram fundamentais para o sucesso da iniciativa.

O primeiro deles foi buscar doações junto a empresários e pessoas físicas e, com o apoio do governo do estado de São Paulo, estabelecer uma Parceria Público-Privada. Com esse objetivo, a organização Comunitas ficou responsável por coletar as contribuições financeiras e transformá-las em insumos e serviços para a construção da fábrica. Foram 75 empresas e pessoas físicas que, juntas, doaram R$ 189 milhões. 

Outra estratégia foi construir a fábrica no modelo de turn key. Por meio dele, todas as etapas de projeto, execução, instalação de equipamento e qualificação foram terceirizadas. Além disso, para dar mais agilidade, todas as etapas aconteceram em paralelo, com diferentes empresas de engenharia trabalhando ao mesmo tempo em tarefas distintas com um objetivo comum.

“O engenheiro liberou 10% do projeto. Ele continua fazendo o projeto, mas já temos pessoas em campo executando aquilo, pessoas em Suprimentos comprando material. É todo mundo trabalhando em conjunto. Você tem um ganho de prazo, consegue fazer mais rápido”, explica Adriano Ferreira. “Isso gera diversos desafios, mas traz uma velocidade muito grande. Fizemos o projeto e a obra no tempo que faríamos só o projeto”, ressalta Rafael Lubianca.

O CPMV começou a tomar forma em abril de 2020, com as discussões sobre o conceito da fábrica. A obra em si foi iniciada em novembro de 2020. Em dezembro de 2021, começou a etapa de instalação dos equipamentos, que vai até julho de 2022. Depois disso, começa a fase de certificação, qualificação e automação, que deve ser concluída em fevereiro de 2023.

 

As tecnologias mais avançadas a favor da saúde pública: entenda os conceitos que nortearam a construção do CPMV 

Multipropósito: a planta pode ser readequada facilmente para fabricar produtos diferentes. O CPMV possui uma base inalterável, que é a estrutura do prédio, mas os equipamentos e processos podem ser modificados para atender a vacinas diferentes. Com isso, o Butantan conseguirá fabricar diferentes imunizantes de base celular em um mesmo ano, sem precisar dedicar o local a uma única vacina.

Fábrica 4.0: a fábrica é totalmente automatizada, ou seja, todas as aprovações, liberações e etapas da produção são digitais, ocorrem sem a geração de papel e com dados rastreáveis. Isso não quer dizer que a fábrica é operada por robôs: a previsão é que entre 100 e 150 pessoas trabalhem no CPVM quando ele estiver operando plenamente.

NB3: há uma área dentro da fábrica que possui nível de biossegurança 3, o que permitirá a manipulação de vírus selvagem, sem que haja qualquer chance de vazamento para a atmosfera ou o meio ambiente. Com a certificação NB3 será possível produzir desde vacinas simples até as mais complexas – como é o caso da CoronaVac. No Brasil, é mais comum haver áreas NB3 em indústrias que produzem imunizantes veterinários. O CPMV será uma das únicas plantas dedicadas à fabricação de vacinas humanas com essa certificação.

Verticalização: o layout do CPMV é inteligente. Como o espaço para a fábrica era reduzido, o projeto foi feito de forma a otimizar a ocupação de espaço e reduzir custos de energia. Isso porque o fluxo de trabalho é realizado de cima para baixo, usando a gravidade para transferir o produto. O piso 2 do CPMV é a área suporte, o piso 1 reúne a sala de preparo de soluções e meios de cultura, além das áreas administrativa, e no piso térreo fica o pavimento produtivo.

Rigor pós-pandemia: o CPMV tem uma vantagem em relação a qualquer outra fábrica de vacinas já existentes, pois foi construído de acordo com os mais altos padrões de biossegurança alcançados após a pandemia de Covid-19. Além disso, está alinhado às normas e regulamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Agência Norte-Americana de Medicamentos (FDA) e da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).