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Sapo-andarilho, natural da Mata Atlântica, nem é sapo de verdade e é muito difícil de encontrar

Especialista em cavar e se esconder, este bichinho dificulta a vida dos estudiosos que tentam descrever suas características


Publicado em: 09/04/2024

Ao contrário do que seu porte robusto sugere, o sapo-andarilho (Macrogenioglottus alipioi), não é fácil de achar. Esse anfíbio endêmico da Mata Atlântica, que mais se assemelha a uma rã do que a um sapo por conta de suas características físicas, é especialista em camuflagem e se esconde entre o folhiço da floresta dentro dos buracos que cava. Tal habilidade pode explicar a dificuldade para encontrá-lo e descrevê-lo — são poucas informações disponíveis desde a sua classificação em 1946, na Bahia. 

O nome sapo-andarilho, embora não seja preciso, não foi dado por acaso. Esse bicho costuma dar longas caminhadas pelo substrato da mata e não é comum vê-lo saltando por aí, já que suas pernas são relativamente mais curtas que a dos anuros saltadores, grupo que inclui rãs, sapos e pererecas.

O Macrogenioglottus aliopi é bastante exclusivo: até hoje, é a única espécie descrita para o gênero Macrogenioglottus. Ele faz parte da família Odontophrynidae, comum na América do Sul e que abarca 54 espécies e 3 gêneros. 

Seu habitat natural é o interior da floresta — áreas de densa mata fechada e longe da civilização. Como reside na Mata Atlântica, o sapo-andarilho pode ser encontrado da Bahia ao Rio Grande do Sul.


Um fato curioso sobre esses animais são as pequenas manchas vermelhas que exibem na parte inferior do corpo, principalmente nas coxas. Entre anfíbios, colorações vibrantes podem servir como indicativo de potencial venenoso. No caso do sapo-andarilho, os estudos de suas toxinas, com exceção das que são naturais aos anuros, ainda estão em desenvolvimento.

Sua pele também tem uma característica inusitada: quando o sapo-andarilho está acordado, ela muda sutilmente, ganhando um tom vistoso e claro – um método de camuflagem para se assimilar às folhas. Normalmente o macho apresenta um tom marrom escuro, enquanto a fêmea é um pouco mais clara. Como as rãs, esses animaizinhos têm a pele úmida, dedos longos e vivem perto de focos de água.

Para se reproduzir, o casal de andarilhos deve realizar o amplexo, posição em que um anuro monta nas costas do outro. A fêmea põe uma grande quantidade de ovos que aderem às superfícies dos lagos e poças e não flutuam na água.

Para ajudar a ampliar o conhecimento dos cientistas sobre os sapos-andarilhos, a fêmea da espécie que reside no Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan vem sendo avaliada pelos pesquisadores do Instituto. A dieta é uma das principais causas de especulação e já existem alguns palpites: “a andarilha” do Butantan come grilos, baratas e aranhas, mas prefere mesmo os piolhos-de-cobra.


SAPO-ANDARILHO

Espécie: Macrogenioglottus alipioi, da família Odontophrynidae e do gênero Macrogenioglottus

Onde habita: por toda a região de Mata Atlântica do Brasil

Características físicas: rã média e encorpada, com cabeça redonda e pernas pequenas, dedos longos, pele úmida e de coloração marrom escura e clara

Alimentação: alimentação pouco definida na literatura. No Museu Biológico, a espécie come pequenos insetos e piolhos-de-cobra

Curiosidade: tem pequenas manchas vermelhas em pontos de articulação que servem de alerta para predadores – é comum entre anfíbios que colorações vibrantes indiquem toxicidade

 

Você pode conhecer este e uma variedade de outros animais no Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan.

 

Este texto foi produzido com a colaboração do pesquisador científico Carlos Jared, diretor do Laboratório de Biologia Estrutural, e da bióloga Adriana Mezini, do Museu Biológico do Instituto Butantan, órgão vinculado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.

 

 

Reportagem: Guilherme Castro

Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan