Nesta quarta (16), o Instituto Butantan e a Biomanguinhos/Fiocruz realizaram a abertura da 25ª Assembleia Geral Anual da Rede de Fabricantes de Vacinas de Países em Desenvolvimento (DCVMN, na sigla em inglês), no Hotel Grand Hyatt São Paulo. Pela primeira vez em São Paulo, o evento de três dias reúne mais de 40 fabricantes de vacinas vindos de 15 países em desenvolvimento dedicados à pesquisa e à inovação para democratizar o acesso aos imunizantes.
“É uma honra para o Butantan, para a Fiocruz e para o Brasil receber este importante evento. Na pandemia, os membros do DCVMN foram responsáveis por 60% das vacinas contra Covid-19 produzidas no mundo. Mas o futuro demanda expandirmos essa capacidade: o aquecimento global mudará as condições de diversos patógenos. Ter uma forte rede estabelecida é a única forma de preparar nossos países para responderem a ameaças futuras”, disse o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, durante a sessão inaugural, representando o governo do estado de São Paulo.
Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan
O diretor-executivo da Fundação Butantan, Saulo Nacif, ressaltou que o trabalho conjunto é essencial para que os países em desenvolvimento conquistem sua independência na produção de imunobiológicos. “Ano passado, tive a oportunidade de participar da 24ª reunião na África do Sul, e fui imediatamente impactado com o comprometimento, determinação e vontade de todos de tornar o acesso às vacinas mais igualitário. Tenho certeza de que, juntos, estamos chegando cada vez mais perto desse objetivo”, afirmou.
Saulo Nacif, diretor-executivo da Fundação Butantan
Para o CEO do DCVMN, Rajinder Suri, a reunião é uma oportunidade de compartilhar estratégias e soluções para o melhor preparo contra futuras emergências de saúde. “Nós nunca sabemos quando uma nova pandemia pode surgir, então é fundamental nos unirmos para discutir quais os maiores desafios de cada região e como mitigá-los. Graças aos nossos parceiros Butantan e Fiocruz, esperamos receber mais de 360 participantes para fomentar esse diálogo ao longo de três dias”, declarou. Além de Rajinder, também estiveram presentes na mesa de abertura o presidente do conselho do DCVMN, Adriansjah Azhari, e o membro fundador da organização Akira Homma.
Os fabricantes associados ao DCVMN produzem hoje 80 vacinas que fazem parte da lista de imunizantes pré-qualificados da Organização Mundial da Saúde (OMS) – um desses produtos é a Influenza trivalente produzida pelo Butantan. Junto às demais 320 vacinas desenvolvidas pela rede, esses imunizantes beneficiam as populações de 170 países de baixa e média renda ao redor do mundo.
CEO do DCVMN, Rajinder Suri
Mauricio Zuma, diretor da Biomanguinhos/Fiocruz, destacou que o DCVMN se tornou um aliado vital à saúde pública ao longo de seus 25 anos de existência. “Estamos reunidos aqui hoje para compartilhar conhecimento e promover inovação para que mais e mais vacinas cheguem àqueles que necessitam. Vamos explorar ativamente nossas capacidades em produção e pesquisa para um mundo mais saudável e mais sustentável.”
Mauricio Zuma, diretor da Biomanguinhos/Fiocruz
O diretor da OMS, Tedros Adhanom, o diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Jarbas Barbosa, e o presidente da Fiocruz, Mario Moreira participaram da sessão inaugural de forma remota.
“Há 50 anos, a OMS estabeleceu o Programa Expandido de Imunizações [EPI - Expanded Programme on Immunization]. Naquela época, menos de 5% das crianças no mundo eram vacinadas; hoje essa cobertura supera 80%. Mas ainda há muito mais a ser feito. Precisamos de mais tecnologia e produção em países em desenvolvimento e a OMS está comprometida a trabalhar com o DCVMN nesse sentido”, declarou Tedros Adhanom.
Tedros Adhanom, diretor da Organização Mundial da Saúde
Para Jarbas Barbosa, o DCVMN tem sido um parceiro crucial da OPAS em suas diversas atividades. “Essa união é muito significativa para os povos das Américas. Nosso objetivo é assegurar que todos os países tenham acesso às tecnologias necessárias para garantir a saúde de suas populações.”
Mario Moreira ressaltou o papel da Fiocruz e do Butantan no fortalecimento da ciência brasileira e como o DCVMN ajuda a expandir essa atividade para além das fronteiras do país. “Somos instituições centenárias que trabalham para o acesso da nossa população a produtos de qualidade. E temos trabalhado junto a organizações internacionais para garantir que esse direito fundamental, a saúde, seja de todos.”
Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, Carlos Gadelha
Para Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde do Ministério da Saúde, é preciso valorizar a produção local. “Se hoje a saúde é uma prioridade estratégica no Brasil, nós devemos muito a grandes instituições como o Butantan e a Fiocruz. No início dos anos 2000, eu ouvia que países menos desenvolvidos não tinham estrutura e governança para serem competentes na produção de vacinas. Mas os 25 anos de DCVMN nos mostram que é, sim, possível. A tecnologia, a produção e o conhecimento não podem ser concentrados apenas em poucas pessoas, poucas regiões e poucas empresas”, disse.
Regiane de Paula, coordenadora de Controle de Doenças do Estado de São Paulo, afirmou que o papel do DCVMN é fundamental para o desenvolvimento da sociedade. “Trata-se de uma aliança global firmemente comprometida com a inovação, desenvolvimento e fornecimento de vacinas de alta qualidade”, comentou.
Regiane de Paula, coordenadora de Controle de Doenças do Estado de São Paulo
Alianças internacionais
A relação com o Developing Countries Vaccine Manufacturers Network (DCVMN) é um exemplo dos esforços do Instituto Butantan e da Fundação Butantan de fomentar a internacionalização de suas atividades. Por meio de acordos de transferência de tecnologia, projetos de cooperação internacional, parcerias de desenvolvimento produtivo (PDP), entre outros modelos de negócio, o Butantan tem diversificado sua atuação para contribuir não só para a saúde da população brasileira, mas para a saúde global.
O carro-chefe do Butantan, a vacina da Influenza, que é oferecida hoje em 80 milhões de doses por ano, é uma conquista histórica que surgiu a partir de um acordo com a farmacêutica Sanofi em 1999. De lá para cá, a instituição desenvolveu sua autossuficiência e também firmou parcerias com organizações como OPAS, Sandoz, MSD, Valneva e os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, dedicando-se ao desenvolvimento de vacinas como dengue e chikungunya, e de anticorpos monoclonais para doenças crônicas. Recentemente, o Butantan assinou um acordo com o Instituto de Vacinas Humanas da Universidade Duke para colaboração na pesquisa de novos imunizantes.
A exportação de produtos para outros países é outro pilar fundamental dessa internacionalização: em 2023, foram 5,7 milhões de doses da vacina Influenza e mais de 1,5 mil frascos de soro antidiftérico e antibotulínico AB enviados para 13 países, como Equador, Uruguai, Nicarágua, Colômbia, Estados Unidos, Alemanha, Bélgica e França.
Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Renato Rodrigues