Faltam menos de 20 dias para o verão começar. Com o aumento do calor e da umidade, características da estação, crescem também os riscos de aparecimento de animais peçonhentos, como os escorpiões.
Ativos principalmente nos meses mais quentes do ano, os escorpiões se escondem em ambientes diversos – como esgotos, entulhos, linhas de trens, cemitérios e até na casa das pessoas –, em busca de locais escuros.
Como possuem alta capacidade de adaptação, esses animais podem ser encontrados em áreas modificadas pelo ser humano, especialmente nas grandes cidades. Dessa forma, determinar um padrão geográfico para os escorpiões não é tarefa fácil. As alterações climáticas em todo o mundo têm permitido, inclusive, que esse tipo de artrópode fique ativo o ano todo.
Para se ter uma ideia, dados do Ministério da Saúde mostram que o número de acidentes com escorpião só avança no país. Em 2018, foram contabilizados 141,4 mil casos de acidentes. Em 2017, foram 125 mil registros. Em 2016, foram 91,7 mil notificações.
Das 1.600 espécies que existem no mundo, cerca de 160 existem em território nacional. Por aqui, os escorpiões que causam os acidentes mais graves pertencem ao gênero Tityus. O escorpião amarelo, por exemplo, faz parte desse gênero e é a espécie que mais causa acidentes graves, inclusive com registro de óbitos, principalmente em crianças.
Distribuído em parte do Nordeste, Centro-Oeste, Sul e em todo o Sudeste do país, o escorpião amarelo (Tityus serrulatus) possui as pernas e a cauda amarelo-claras e o tronco escuro, podendo medir até 7 cm.
O Butantan Notícias separou algumas dicas da médica Fan Hui Wen, diretora do Núcleo Estratégico de Venenos e Antivenenos do Butantan e gestora do Biotério de Artrópodes, para reforçar os cuidados com escorpiões nessa época do ano. Confira:
Encontrei um escorpião! E agora?
O primeiro passo, segundo a Fan Hui Wen, é tirar o escorpião de perto das pessoas. “Se puder, tente capturar o animal vivo. Se não for possível, pode matar, pois nós não queremos que ele cause um acidente, picando alguém, principalmente criança”, destaca.
O que fazer e o que não fazer em caso de acidente?
A orientação é lavar bem o local com água e sabão e se dirigir imediatamente para um hospital de referência. “Em algumas situações, pode ser necessário o soro antiescorpiônico. Então, para saber se é necessário ou não, o melhor é procurar o atendimento médico o mais rápido possível”, afirma Wen. Fazer compressas mornas também pode aliviar o quadro até a chegada a uma unidade de saúde.Vale dizer que levar o animal ou uma foto para identificação da espécie facilita o atendimento. Wen reforça que não é indicado passar nenhum produto no local, nem mesmo pomadas ou gelo, tampouco se automedicar.
Uma boa dica dada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, é consultar em sua página a lista dos hospitais de referência onde há soro anti-escorpiônico disponível em todo o Estado de São Paulo. Confira neste link: https://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/unidades-de-referencia/peconhentos_unidades.pdf
Como evitar a presença de escorpiões?
Para evitar a presença de escorpiões no entorno ou dentro das casas, o ideal é não criar ambientes propícios para que esses animais se proliferem. “Temos que evitar lixo, entulho, material de construção, madeiras acumuladas, porque tudo isso é abrigo para os escorpiões”, lembra Wen. A especialista alerta ainda que é preciso evitar o aparecimento de baratas, já que esse é o alimento preferido dos escorpiões. “Sempre se lembrar de ter o lixo bem vedado, não deixar restos de comida abertos, porque isso vai atrair baratas e consequentemente os escorpiões”, finaliza.
Videoaulas
A convite do Ministério da Saúde, o Instituto Butantan está produzindo uma série de videoaulas sobre acidentes com escorpiões. Com recursos recebidos via Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), as aulas estão sendo desenvolvidas pelo Laboratório de Artrópodes em parceria com o setor de Comunicação.
O projeto envolve 8 videoaulas que terão de 10 a 15 minutos, com previsão de lançamento para 2020. Segundo Wen, uma das responsáveis pela iniciativa, explica que o conteúdo é destinado para três tipos de público: 1) profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros; 2) profissionais que fazem o controle de vigilância do animal, como agentes de zoonoses; 3) a população no geral. “Considerando que o Butantan tem uma expertise técnica nesse assunto e também que temos uma área de divulgação, o Ministério da Saúde nos escolheu para produzir esse material. Nós apresentamos essa abordagem, com um conjunto de três blocos de videoaulas e eles aceitaram. O público-alvo do projeto está bem definido e cada público terá um conteúdo específico”, esclarece. “Nosso grupo de profissionais dá capacitação e treinamento há muito tempo, então o recorte foi feito em cima das perguntas: ‘o que o médico tem que saber para atender bem o paciente?’, ‘o que o agente de saúde precisa saber para fazer a vigilância, o controle?’, ‘o que a população necessita de informação?’”, detalha Wen.
O grande desafio do projeto é representar a diversidade nacional, já que o conteúdo será distribuído por todo país. Para dar conta disso, a ideia é percorrer algumas regiões e convidar especialistas de outros estados para participar. “Entendemos que é importante que as pessoas saibam quem são os nomes de referência no assunto. Então, estamos levantando esses nomes para irmos até essas pessoas ou trazê-las até aqui”, diz.
Em novembro, a equipe aproveitou uma viagem que já estava programada para a cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre, para dar início ao projeto. “Vimos essa viagem como uma oportunidade de conhecer uma realidade diferente da daqui, então a Comunicação foi junto e fez algumas imagens”, comenta.
Outro lugar que a equipe deve visitar é Itapira, no interior de São Paulo, para mostrar o trabalho de coleta de escorpiões realizada pela Secretaria Municipal de Saúde. Durante cinco noites por mês, no verão, a equipe de Vigilância Epidemiológica do Centro de Zoonoses sai em busca dos animais no cemitério da cidade. Por noite, são recolhidos cerca de mil escorpiões, que em seguida são encaminhados aqui para o Butantan.
As aulas serão usadas para treinamentos, mas a principal utilização deve ser pelos nos canais de comunicação tanto do Ministério quanto do Butantan.
Enquanto as videoaulas não ficam prontas, o pessoal do Audiovisual do IB lança, ao longo deste mês, uma série de quatro vídeos curtos sobre os escorpiões. O primeiro episódio já está disponível no nosso canal do YouTube. Assista!
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(por Marcella Gozzo)
Com informações do Manual de Controle de Escorpiões do Ministério da Saúde (2009) e da Agência Brasil (2019).