Vacinas antigas e consolidadas costumam ter seu processo de produção já estabelecido, mas os novos imunizantes, assim como aqueles que precisam de atualização constante, precisam passar por vários testes antes de estarem prontos para produção e envase. As receitas de novas vacinas são elaboradas em um local chamado de planta-piloto, que reproduz a estrutura de uma fábrica, porém em menor escala.
As etapas são as mesmas da produção em larga escala, mas, como não é possível saber como um determinado vírus vai se comportar nos testes, é fundamental analisar primeiro uma receita pequena. “É como um estudo clínico: começa com 400 pessoas e acaba com até 20 mil pessoas”, compara o coordenador da produção de bancos do Instituto Butantan, Felipe Catanzaro.
A ButanVac, nova vacina do Butantan contra a Covid-19, utilizou a estrutura da planta-piloto para que seu processo fosse desenvolvido. “Utilizamos 8 mil ovos nos testes da ButanVac. Se colocássemos muitos ovos em teste e não desse certo, perderíamos uma grande quantidade de matéria-prima”, explica Felipe.
O coordenador complementa que a grande diferença nos testes da vacina da Influenza – produzida pelo instituto há vários anos – e da nova vacina contra a Covid-19 não foi a técnica empregada, mas o volume. “Com a ButanVac foi tudo novo, não sabíamos quanto líquido poderia ser extraído após a inoculação dos ovos. Depois dos primeiros lotes enviados para análises, percebemos que precisaríamos de um volume maior. E, para aumentar o volume, precisamos de mais ovos”, ressalta. O processo inicial da produção, realizado pela produção de bancos, é manual. Inocula-se ovo por ovo e depois colhe-se o líquido alantoico com uma pipeta sorológica.
Na simulação da produção, o foco é sempre encontrar uma fórmula que tenha o melhor rendimento, ou seja, a melhor situação para o vírus se multiplicar. Se ele se multiplica da maneira correta, é preciso também entender qual a melhor condição para criar um produto passível de formulação. O Butantan já domina há vários anos a tecnologia de fabricação de vacinas a partir de ovos embrionados de galinhas – como é o caso do imunizante contra a influenza. Isso serviu de base para o desenvolvimento do monovalente da ButanVac.
Por meio de uma parceria com outros países e instituições, o Butantan recebeu amostras do vírus que foi utilizado para iniciar os testes da ButanVac – o vírus da doença de Newcastle com a proteína S estabilizada do vírus SARS-CoV-2.
Felipe Catanzaro conta que, no início, algumas etapas não deram imediatamente certo. “Houve momentos em que trabalhávamos muito e não chegávamos ao resultado esperado.” Com o decorrer dos testes, os resultados se mostraram muito bons, mas o trabalho com a ButanVac ainda está longe de terminar. “Ficarei muito realizado quando passar por um posto de saúde e encontrar pessoas sendo imunizadas com a vacina desenvolvida aqui no Butantan”, complementa o coordenador da produção de bancos.
Os criotubos que chegam ao instituto contendo amostras biológicas são embalagens feitas para a biocontenção do que está sendo transportado (neste caso, um vírus). São recipientes pequenos, com capacidade entre 2 a 5 ml, transportados em gelo seco e temperaturas ultrabaixas. Depois de recebidos, são transferidos para os ultrafreezers do Butantan, com temperaturas em torno de -80ºC, que abrigam quase todas as cepas de vírus influenza já estudadas e trabalhadas no instituto – e agora também do novo coronavírus.
Testes e produção da ButanVac
O Butantan recebeu recentemente a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os estudos clínicos de fase 1 e 2 da ButanVac. É possível encontrar informações sobre o produto e sobre a pesquisa no site sobre o imunizante.
O instituto está produzindo doses da nova vacina contra a Covid-19 desde o final de abril, quando recebeu o primeiro lote com 520 mil ovos embrionados de galinha. Conheça, aqui, o passo a passo da fabricação da ButanVac.