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Mimetismo, camuflagem, aposematismo e cripticidade: os mecanismos dos seres vivos para se esconder ou enganar os predadores

Insetos são capazes de imitar desde uma orquídea até uma serpente; outros animais transmitem informações falsas


Publicado em: 13/04/2022

A natureza é repleta de características, cores e comportamentos que instigam a curiosidade das pessoas. Um desses traços é a habilidade que alguns seres vivos têm de imitar outras espécies, como mímicos – um recurso de defesa em meio a predadores. Este fenômeno é conhecido como mimetismo, uma estratégia evolutiva que faz com que estes animais, ou até mesmo plantas, tenham alguma vantagem ao longo de suas gerações.

A curadora da Coleção Entomológica do Instituto Butantan, Dra. Flávia Virginio, explica que estes seres vivos podem mimetizar de diferentes maneiras. “No caso dos insetos, por exemplo, alguns grupos imitam características morfológicas de outros seres vivos, seja vegetal como uma folha, que vai lhe ajudar a se camuflar, ou como um outro inseto que tenha um gosto ruim para seu predador”, diz a curadora.

Um exemplo clássico de mimetização é a jequitiranaboia (Fulgora sp), um bicho curioso que possui um aparelho bucal em formato de agulha para sugar plantas, mas que acidentalmente pode perfurar a pele humana ou animal como forma de defesa. Ela também mimetiza serpentes e alguns tipos de répteis.

 

É importante destacar que mimetismo é diferente de camuflagem. Basicamente, a camuflagem é utilizada por animais que vivem em ambientes semelhantes à sua estrutura corporal com o objetivo de se esconder de predadores ou até mesmo para dar um bote surpresa em suas presas.

“A camuflagem, muitas vezes, pode custar caro aos animais porque, por exemplo, eles ficam restritos a buscar alimento apenas nos locais em que conseguem se camuflar, já que em outros eles correm maior risco de serem encontrados e se tornarem, portanto, presas fáceis”, explica Flávia.

Outro termo relacionado ao mimetismo e camuflagem é o aposematismo, uma característica que faz com que os predadores “enxerguem” a presa como um ser tóxico devido ao cheiro ruim ou gosto desagradável.

Durante a evolução das espécies, estes animais possivelmente começaram a apresentar uma coloração chamativa, ganhando vantagem por alertar seus prováveis predadores sobre suas características. Além disso, a capacidade de aprendizado do predador contribuiu para a manutenção das espécies aposemáticas e permitiu que elas explorassem novos espaços. “Esta característica é uma estratégia que serve principalmente para fugir de predadores”, diz Flávia.

É a partir do aposematismo que surge o termo mimetismo e seus vários tipos, que geram discussões entre os especialistas. De acordo com Flávia, os mais conhecidos são o Batesiano, em que uma espécie inofensiva imita o padrão de coloração ou um sinal de advertência de outra que possui algum tipo de defesa natural e que pode ser perigosa e ruim ao paladar de seus predadores; e o Mülleriano, que é a imitação do padrão de coloração ou outro sinal de advertência de um organismo que possui algum tipo de defesa, por outro que também possui alguma defesa natural a fim de reforçar o aprendizado em um terceiro organismo, geralmente um predador. Um exemplo de mimetismo Batesiano é a mosca do gênero Mydas sp. que imita a vespa Pepsis sp., que possui a picada mais dolorida do mundo na Escala de Dor Schmidt.

 

Existe ainda a cripticidade, também conhecida como dissimulação ou mascaramento. Os seres vivos que possuem esta característica passam uma informação falsa a seus predadores.

“São os seres que imitam galhos e folhas, parecendo algo não comestível ou que não faz parte da dieta de seu predador. Isso pode ocorrer ao contrário também, com predadores que dão a ideia de serem algo que não desperta alerta às suas presas para que então possam atacá-las”, explica a curadora.

Conheça mais dois seres-vivos que mimetizam:

Aranha Aphantochilus rogersi IMITA formigas do gênero Cephalotes, sua presa mais frequente

 

Flor gênero Ophrys sp IMITA abelha do gênero Bombus sp.