Um estudo de pesquisadores do Brasil e do Uruguai sugere que as populações dos países do sul da América do Sul estão mais protegidas contra as variantes regionais gama e lambda do vírus SARS-CoV-2. As conclusões estão em um artigo científico publicado na semana passada na plataforma de preprints MedRxiv. Segundo os pesquisadores, da Universidade da República, de Montevidéu, e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, a CoronaVac, vacina do Butantan e da farmacêutica chinesa Sinovac, na condição de vacina inativada, contribuiu decisivamente para esse resultado.
De acordo com o estudo, Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai experimentaram ondas epidêmicas graves de Covid-19 no início de 2021, impulsionadas pela expansão das variantes gama e lambda. No entanto, a partir de junho, houve uma melhora nos indicadores da epidemia. Na 14ª semana epidemiológica, entre 4 e 10 de abril, foram registrados 21.141 óbitos por Covid-19, segundo o Painel Coronavírus do Ministério da Saúde. Foi a maior quantidade de mortes registrada em sete dias no ano inteiro. Já na 25ª semana epidemiológica, entre 20 e 26 de junho, o número de mortes havia se reduzido para 11.935. Desde então, o indicador continua caindo e, na última semana epidemiológica, entre 19 e 25 de setembro, o número de mortes por Covid-19 no Brasil foi de 3.692.
O estudo afirma que o uso generalizado da CoronaVac no sul da América do Sul foi não só eficaz para prevenir as formas graves da Covid-19, mas também conteve a disseminação das variantes regionais altamente transmissíveis. No Chile, 70% das vacinas aplicadas correspondem à CoronaVac; no Uruguai, 60%; no Brasil, 35%. Vale lembrar que até meados de maio, a vacina do Butantan respondia por cerca de sete a cada dez imunizantes aplicados.
Para investigar os resultados dos programas nacionais de vacinação e o impacto da infecção natural na transmissão viral dos países do Cone Sul, os pesquisadores analisaram a associação entre a mobilidade da população e o número efetivo de reprodução (Rt) – número médio de pessoas infectadas em um determinado momento por um indivíduo infectado introduzido em uma população parcialmente imune ou suscetível (ou seja, no início da epidemia).
As análises revelaram que, de janeiro a maio de 2021, a mobilidade da população na Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai esteve relacionada ao número efetivo de reprodução Rt. A partir de junho, no entanto, a taxa de transmissão viral começou a ser menor do que o esperado conforme os níveis de interação social. “O estudo sugere que as populações do Cone Sul da América do Sul provavelmente alcançaram o HIT [limiar condicional de imunidade de rebanho, em inglês herd immunity threshold] para conter a transmissão das variantes gama e lambda do SARS-CoV-2 por volta de meados de 2021”, afirmam os pesquisadores. As análises dos cientistas indicam que o limiar de imunidade HIT para o vírus da Covid-19, na América do Sul, variou entre 29% na Argentina, 33% no Uruguai, 36% no Paraguai, 43% no Chile e 45% no Brasil.
Os pesquisadores sugerem que os níveis de imunidade natural elevados identificados nos países da América do Sul podem ser uma condição importante que esteja contribuindo para limitar a expansão da variante. Segundo informações dos especialistas, a contribuição desta imunidade é resultado da infecção natural associada à vacinação.
*Este texto é uma colaboração do jornalista científico Peter Moon para o portal do Butantan