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ButanVac induz maior resposta de anticorpos neutralizantes do que as vacinas de mRNA, afirma estudo

Cientistas compararam a proporção de anticorpos de amostras de ensaios conduzidos na Tailândia e nos Estados Unidos


Publicado em: 01/02/2022

Um estudo publicado na última sexta (28) na plataforma de preprints MedRxiv mostrou que a ButanVac, candidata a vacina de vírus inativado contra a Covid-19 do Instituto Butantan, induz proporcionalmente mais anticorpos capazes de neutralizar o vírus SARS-CoV-2 do que as vacinas de RNA mensageiro (mRNA), como Moderna e Pfizer. O estudo foi coordenado pela Icahn School of Medicine de Mount Sinai, de Nova York, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores analisaram soros de um ensaio clínico de fase 1 feito na Tailândia com 175 indivíduos que foram vacinados com a ButanVac e 35 que receberam placebo. Os dados foram comparados com amostras de outro estudo conduzido em Nova York com 20 participantes que receberam a vacina da Pfizer e 18 indivíduos convalescentes. As faixas etárias e a distribuição por sexo entre as amostras foram similares.

Os resultados mostraram que a quantidade de anticorpos neutralizantes é semelhante entre os dois imunizantes, porém a proporção desses anticorpos (em relação aos anticorpos de ligação) da candidata a vacina do Butantan é consideravelmente maior do que a do imunizante de RNA mensageiro a Pfizer e comparável à proporção observada em pacientes recuperados da Covid-19.

Isso significa que uma grande parcela dos anticorpos produzidos pela ButanVac possui atividade neutralizante, o que pode impedir a infecção, enquanto a vacina da Pfizer o outro imunizante produz mais anticorpos de ligação – capazes de detectar o vírus, mas não neutralizá-lo.

Análises adicionais mostraram que, ao contrário da vacina de mRNA, que induz títulos de anticorpos fortes para o domínio de ligação ao receptor (RBD), o domínio N-terminal e o domínio S2, a ButanVac gera uma resposta mais focada em RBD. “Isso explica a alta proporção de anticorpos neutralizantes, uma vez que a maioria dos epítopos neutralizantes estão localizados no RBD”, afirmam os cientistas no artigo.

Epítopos são a menor porção do antígeno (no caso, o coronavírus) capaz de gerar uma resposta imune a partir da ligação com os anticorpos. Grande parte dos anticorpos neutralizantes têm o RBD como alvo – e é nesta região que ocorre a ligação entre o vírus e o receptor ACE2 da célula humana. Quando os anticorpos se ligam ao RBD, eles bloqueiam a entrada do vírus, impedindo a infecção.

 

Confirmação dos resultados

Para validar as descobertas, os pesquisadores selecionaram algumas amostras aleatoriamente e enviaram para um laboratório independente, da Emory University. O laboratório mediu as atividades de ligação e de neutralização, mas as amostras fornecidas foram ocultadas e o motivo da execução dos testes não foi divulgado.

“Os soros de indivíduos vacinados com NDV-HXP-S [nome internacional da ButanVac] mostraram novamente proporções semelhantes de anticorpos neutralizantes aos soros de indivíduos convalescentes. Esse padrão, observado no SARS-CoV-2 original, também foi visto para as variantes delta e beta”, informa o estudo.

 

Ensaios clínicos da ButanVac revelam alta imunogenicidade

Os primeiros resultados dos testes clínicos de fase 1 feitos na Tailândia, divulgados em setembro, demonstraram que a ButanVac é segura e imunogênica. A vacina induz alta produção de anticorpos IgG, que varia de 151,7 BAU/ml (unidades de anticorpos de ligação por mililitro) com a dosagem de um micrograma (1 µg) até 479,8 BAU/ml com 10 µg.

A fase 1 de um ensaio clínico atesta a segurança da vacina e determina qual dosagem induz a melhor resposta no organismo. Todos os participantes tomaram duas doses com intervalo de 28 dias e menos de um terço apresentou efeitos adversos. Os sintomas mais comuns foram dor e sensibilidade no local da injeção.

 

Vacina para todos

Embora uma série de vacinas contra a Covid-19 já estejam disponíveis, os autores da pesquisa ressaltam a necessidade de imunizantes que possam ser produzidos localmente a baixo custo em países em desenvolvimento. Segundo dados da plataforma Our World In Data, da Universidade de Oxford, apenas 10% da população de países pobres recebeu ao menos uma dose de vacina contra a Covid-19.

A ButanVac utiliza a mesma tecnologia da vacina da gripe, conhecida e produzida globalmente e uma especialidade do Instituto Butantan. Ela consiste na inoculação de um vírus modificado que contém a proteína S do SARS-CoV-2 em ovos embrionados de galinhas. Por isso, o imunizante pode ser fabricado a baixo custo, além de poder ser armazenado e distribuído sem a necessidade de congeladores, ajudando a democratizar o acesso à vacinação.