Portal do Butantan

Estudo de toxinas, novos tratamentos e vacinas: relembre as principais pesquisas divulgadas pelo Butantan em 2023

Período foi marcado por inovações tecnológicas focadas no tratamento e cura de infecções e doenças como Zika, HPV e Alzheimer


Publicado em: 27/12/2023

Em 2023, os pesquisadores profissionais e estudantes que atuam nos laboratórios do Instituto Butantan, da iniciação científica ao pós-doutorado, contribuíram com a ciência brasileira com a publicação de 294 artigos, entre os quais 238 em periódicos internacionais importantes como as revistas International Journal of Molecular Sciences, Toxicon e Scientific Reports

Boa parte desse trabalho foi possível por meio de parcerias com instituições como a Universidade de São Paulo (USP), agências como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e organizações internacionais como o centro de pesquisa National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos.

Relembre a seguir algumas das pesquisas realizadas pelos cientistas do Butantan e que foram divulgadas para o público geral ao longo de 2023:


ENVENENAMENTO POR ANIMAIS PEÇONHENTOS

Soro antiaracnídico previne necrose na pele em pessoas picadas pela aranha-marrom

Um estudo pioneiro conduzido no Hospital Vital Brazil, do Instituto Butantan, publicado na revista PLOS Neglected Tropical Diseases, comprovou que o soro antiaracnídico é capaz de reduzir o risco de necrose na pele causada pelo veneno da aranha-marrom (do gênero Loxosceles), principalmente se aplicado nas primeiras 48 horas após o acidente. 

Novos tratamentos contra picada de cobra e formas de ampliar a distribuição de soros em áreas remotas da Amazônia

Um estudo do Instituto Butantan, feito em parceria com a Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), de Manaus, e a Universidade Federal do Acre (UFAC), desenvolveu terapias complementares para picada de cobra e formas de ampliar o acesso aos soros antiofídicos na região amazônica por meio de inibidores usados para tratar intoxicação. O projeto foi contemplado, no final de 2022, pelo edital Iniciativa Amazônia +10, do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap).

Anticorpos monoclonais podem ser usados para produzir antivenenos

Segundo uma revisão publicada pela equipe do Laboratório de Imunoquímica na revista Toxins, anticorpos monoclonais (mAbs) podem ser usados para produzir antivenenos específicos para neutralizar as principais toxinas da peçonha das serpentes, servindo como uma terapia alternativa que amplia o acesso a tratamentos antiofídicos.



TOXINAS E MOLÉCULAS DE ANIMAIS


Pesquisa sugere origem comum entre enzimas digestivas e aquelas presentes no veneno de aranhas

Cientistas do Laboratório de Bioquímica, em estudo publicado na revista Scientific Reports e realizado em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia, de Minas Gerais, encontraram uma possível origem comum entre as enzimas digestivas das aranhas Uloboridae, que não possuem veneno, e as enzimas presentes no veneno das aranhas peçonhentas.

Estudo identifica proteínas com potencial de combater doenças degenerativas em veneno de taturana

Pesquisadores do Centro de Excelência para Descoberta de Novos Alvos Moleculares (CENTD), do Butantan, identificaram, em estudo publicado na revista Frontiers in Molecular Biosciences, duas proteínas provenientes do veneno da lagarta Lonomia obliqua, popularmente chamada de taturana de fogo, que possuem ação na regeneração celular, podendo ser exploradas para tratar doenças degenerativas e desenvolver produtos voltados para cicatrização e regeneração. 

Molécula de veneno de peixe pode ser aliada no tratamento da asma

Estudo do Laboratório de Toxinologia Aplicada publicado na revista Cells identificou que um peptídeo derivado do veneno do peixe niquim (Thalassophryne nattereri), denominado TnP, apresentou resultados promissores para o tratamento da asma em testes em modelos animais, com redução de mais de 60% no número de células totais que causam inflamação e dano tecidual no pulmão.

Proteína do veneno da cascavel tem ação anti-inflamatória e antitumoral

Em estudo pioneiro publicado na revista Toxicon, pesquisadores do Centro de Desenvolvimento Científico do Butantan descobriram que a crotoxina, uma das toxinas do veneno da cascavel, é capaz de reduzir a inflamação de sepse em modelos animais, controlando o quadro e aumentando a taxa de sobrevivência dos bichos estudados de 40% para 80%.

Composição do veneno do escorpião-marrom, predominante no Brasil, é descrito pela primeira vez

Pesquisadores do Centro de Desenvolvimento Científico do Butantan foram pioneiros ao descrever a composição do veneno do escorpião-marrom (Tityus bahiensis), espécie que causa envenenamentos moderados a graves e é encontrada na Bahia e nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. O trabalho, publicado na revista Journal of Proteomics, pode ajudar a compreender os efeitos secundários do envenenamento e identificar moléculas com ação terapêutica.

Molécula identificada em aranhas pode ser usada para desenvolver inseticidas contra o Aedes aegypti

Pesquisadores do Laboratório de Bioquímica mostraram em estudo publicado na Scientific Reports que moléculas presentes na aranha Nephilingis cruentata, com potencial inibidor de enzimas, podem ser usadas no desenvolvimento de novos fármacos e inseticidas capazes de controlar insetos como o Aedes aegypti, mosquito transmissor de doenças como dengue, Zika e chikungunya.

 


VACINAS

Candidata a vacina contra HPV do Butantan tem potencial para prevenir e tratar a infecção

Uma candidata a nova vacina patenteada de RNA mensageiro contra o HPV – vírus causador de seis tipos de câncer, principalmente de colo do útero – em desenvolvimento nos laboratórios do Centro de Desenvolvimento e Inovação (CDI) do Butantan, foi capaz de induzir produção de anticorpos e reduzir o tamanho do tumor em modelos animais infectados, indicando um potencial profilático e terapêutico.

Tecnologia que usa células de inseto pode dar origem a vacina inédita contra Zika

Uma plataforma tecnológica feita no Laboratório de Tecnologia Viral a partir do vírus Zika pode ajudar no desenvolvimento de uma vacina contra a doença, de acordo com estudo publicado na Frontiers in Pharmacology. Os pesquisadores desenvolveram VLPs (do inglês virus-like particles), partículas que “imitam” o vírus, uma técnica que já é usada em outros imunizantes, como do HPV e da hepatite B. 

Butantan trabalha no desenvolvimento de vacina contra Zika para prevenir microcefalia em recém-nascidos

Os laboratórios do Centro de Desenvolvimento e Inovação (CDI) estão desenvolvendo uma vacina contra o Zika, vírus que pode causar microcefalia em bebês de mães infectadas na gestação, e para o qual ainda não existe prevenção. A expectativa é que os testes em modelos animais tenham início no segundo semestre de 2024 e a pretensão é que o imunizante seja composto por vírus inativados, plataforma ideal e mais segura para aplicação em gestantes. 



DIAGNÓSTICO

Estudo identifica moléculas que podem ser usadas em teste específico para zika, inexistente hoje

Um estudo conduzido pelo Laboratório de Bacteriologia do Butantan, Instituto Adolfo Lutz, Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (UNESP/SJRP) identificou dois peptídeos (fragmentos) de uma proteína presente no vírus Zika que detectam a presença de anticorpos específicos contra a doença. Publicado na revista Viruses, o trabalho indica que esses peptídeos podem ser usados para desenvolver novos testes de diagnóstico mais precisos, sem o risco de reação cruzada com o vírus da dengue.


Butantan e UFMG criam teste rápido de Covid-19 de baixo custo e que detecta variantes da ômicron

Pesquisadoras do Laboratório de Bacteriologia do Instituto Butantan e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram um teste rápido de Covid-19 que foi capaz de detectar em minutos infecções causadas pelo SARS-CoV-2. O teste foi feito com tecnologia 100% nacional e detecta proteínas do novo coronavírus por meio de amostras coletadas do nariz e da garganta.

 


DOENÇAS E TRATAMENTOS

Pesquisadoras desenvolvem pomada cicatrizante capaz de curar feridas sem deixar queloide

Cientistas do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação estão testando uma pomada com alto poder cicatrizante cujo princípio ativo é produzido por uma espécie de fungo isolado da Caatinga. O uso tópico da pomada foi capaz de regenerar o tecido da pele machucada sem induzir a formação de cicatrizes ou de queloides. Ela foi testada em convênio com a startup BiotechnoScience Farmacêutica.

Molécula modificada de merluza pode combater Alzheimer

Uma parceria entre o Laboratório de Fisiopatologia do Butantan e a Universidade São Francisco (USF) resultou no desenvolvimento de um peptídeo que pode se tornar um aliado no tratamento do Alzheimer, conforme estudo publicado na Frontiers in Pharmacology. Modificada em laboratório a partir de uma proteína encontrada na merluza (Merluccius productus), a molécula inibiu a principal enzima que causa a doença.

Pesquisa identifica molécula com potencial para combater bactérias resistentes

Uma molécula identificada e sintetizada por pesquisadores do Laboratório de Toxinologia Aplicada, batizada de Doderlina, apresentou atividade antimicrobiana contra diferentes bactérias e fungos, segundo estudo publicado na revista Research in Microbiology. O composto não é tóxico e tem potencial para se tornar um novo antibiótico no futuro e ajudar a combater infecções resistentes.

Cientistas do Butantan desenvolvem molécula com potencial para tratar dor crônica, que atinge 1,5 bilhão no mundo

Em estudo publicado no Journal of Clinical Investigation, pesquisadores do Laboratório de Dor e Sinalização e da Universidade de Stanford, dos Estados Unidos, desenvolveram um peptídeo que se mostrou capaz de diminuir a dor neuropática em modelos animais. A molécula foi sintetizada a partir da descoberta de uma mutação que aumenta a resistência à dor sem prejudicar a proteção do organismo.

Pesquisadores identificam novo alvo para tratamento da esquistossomose separando casal de vermes

Cientistas do Laboratório de Ciclo Celular, em estudo publicado na revista PLOS Pathogens, identificaram um novo alvo para o tratamento da esquistossomose que pode permitir a criação de um medicamento que provoque menos efeitos adversos. Os cientistas descobriram uma maneira de separar o casal de parasitas do Schistosoma mansoni, que normalmente vive pareado, para acabar com o seu ciclo reprodutivo. 



Reportagem: Guilherme Castro

Fotos: Comunicação Butantan