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Butantan sedia evento da OPAS sobre situação do sarampo no Brasil; país pode recuperar certificado de eliminação da doença

Secretarias de Saúde de SP apresentaram dados de monitoramento à OPAS em busca da recertificação; país não registra casos desde 2022


Publicado em: 08/05/2024

Nesta terça (7/5), o Instituto Butantan sediou a abertura da visita ao Brasil da Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O evento reuniu representantes do Ministério da Saúde, da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (SES/SP) e das Secretarias Municipais de Saúde de São Paulo, Guarulhos, Campinas e Santos, que mostraram o trabalho que vem sendo feito para o controle do sarampo no país. 

O encontro, que continua em Brasília nos dias 8 e 9/5, visa a recertificação do Brasil como país livre da circulação de sarampo e da sustentabilidade da eliminação da rubéola e da síndrome da rubéola congênita, a partir do resgate da cobertura vacinal e da intensificação da vigilância epidemiológica. Não há registros de transmissão interna desde maio de 2022. Em 2016, o país já havia recebido o certificado de eliminação da doença, mas acabou perdendo o status em 2019 após a combinação de casos exportados com a baixa taxa de vacinação da população. 

Participaram do evento o presidente da Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação da Eliminação do Sarampo, Jon Andrus; a coordenadora da Iniciativa de Imunização no Brasil, Lely Guzmán; e o assessor regional de Imunizações da sede da OPAS em Washington, Álvaro Whittembury.

O diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, ressaltou os esforços do Brasil no enfrentamento de doenças infecciosas


O diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, esteve presente para representar o Secretário da Saúde do Estado de São Paulo, Eleuses Paiva, e integrou a mesa de abertura. “Esse encontro representa o esforço do Brasil no enfrentamento de agravos, especialmente de doenças imunopreveníveis como o sarampo, e é um orgulho para o Butantan fazer parte desse trabalho”, afirmou. O Instituto, vinculado à SES/SP, é o maior fornecedor de imunizantes ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e já produziu vacina contra o sarampo nos anos 1980.

O diretor do Programa Nacional de Imunizações, Eder Gatti, participou da mesa de abertura


Também compôs a mesa o diretor do PNI, Eder Gatti, que declarou a alta adesão dos estados e municípios no cumprimento das metas para a eliminação da doença. “O Brasil tem se dedicado ao aprimoramento da vigilância, que detecta, reporta e acompanha casos importados, e ao aumento das coberturas vacinais, com vacinação em escolas, microplanejamento e workshops de capacitação para todos os estados.”

Jon Adrus, presidente Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação da Eliminação do Sarampo da OPAS


Para o presidente da Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação da Eliminação do Sarampo da OPAS, Jon Andrus, o Brasil tem se mostrado um líder global em saúde pública. “Com o Ministério da Saúde, as autoridades de saúde locais e instituições como o Butantan, vocês são uma referência para o mundo na forma como respondem a emergências sanitárias.”

Após ouvir sobre as atividades de imunização e vigilância no estado de São Paulo, Jon Andrus destacou a qualidade do trabalho desenvolvido pelas lideranças em saúde. “Experiência é ouro, especialmente no auge de uma crise. Como quando um navio chega com 5 mil pessoas, com casos de sarampo, e você precisa responder imediatamente. Eu cumprimento o Brasil por sustentar a qualidade dessas respostas”, disse, fazendo referência a um caso ocorrido em Santos em 2019.

Também estiveram presentes o presidente da Câmara Técnica de Verificação da Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita, Renato Kfouri; o médico e colaborador do Ministério da Saúde José Cassio de Moraes; a vice-presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS/SP), Adriana Martins; a assessora técnica do COSEMS, Brigina Kemp; a coordenadora de Controle de Doenças da SES/SP, Regiane de Paula; e a médica e assessora técnica da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, Melissa Palmieri.


Ações contra o sarampo em SP

Durante a reunião, foram apresentados dados sobre a situação epidemiológica do sarampo no estado e no município de São Paulo, e nas cidades de Campinas, Santos e Guarulhos, consideradas portas de entrada para o vírus devido à presença de aeroportos e portos. O último caso de sarampo com transmissão interna detectado no país foi no município de São Paulo, em maio de 2022. Desde então, uma série de ações tem sido implementadas a nível nacional para eliminar a doença. 

Uma delas, segundo a técnica da Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo, Ana Lucia Frugis Yu, é o constante monitoramento dos contatos e busca ativa de casos suspeitos. O acompanhamento também inclui a vacinação de todas as pessoas que frequentam os mesmos locais do paciente com suspeita de sarampo – a chamada “operação limpeza”.

“Em 2023, 95% dos municípios do estado monitoraram indivíduos que tiveram contato com casos suspeitos durante 30 dias”, explicou. Segundo ela, a meta é capacitar 100% dos municípios para realizar a busca ativa e monitoramento de contatos, além de garantir a sustentabilidade dos insumos laboratoriais para resposta rápida, um plano de comunicação eficaz sobre ações de controle e prevenção e a modernização dos sistemas de informação de vacinação e de vigilância.

O microplanejamento, considerando as diversas realidades locais, é outra frente importante desse trabalho, que conta com apoio da OPAS e do Ministério da Saúde. São realizados workshops de capacitação para profissionais da saúde que atuam na imunização, com o intuito de facilitar e ampliar a cobertura vacinal. “Dos 645 municípios de São Paulo, 625 participam do programa. Foram 1.400 profissionais capacitados em 2023”, afirmou a técnica.

Ana Lucia Frugis Yu, técnica da Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória do CVE de São Paulo


Proteção contra casos importados

Além de investigar possíveis casos de transmissão interna, é preciso ter uma resposta rápida quando há notificação de casos suspeitos em viajantes que chegam ao Brasil. Foi o que aconteceu em um dos eventos relatados na reunião, ocorrido em Santos em fevereiro de 2019, quando um navio com 5 mil pessoas trazia um possível surto de rubéola. Posteriormente, os laudos apontaram que era sarampo, com a confirmação de 13 casos.

“Era uma sexta-feira, por volta das 17h, quando nós recebemos o aviso de que o navio iria chegar às 5h da manhã do sábado. Nós tivemos menos de 12 horas para formar equipes, preparar insumos, fazer a investigação dos casos”, contou a enfermeira da Seção de Vigilância Epidemiológica de Santos, Márcia Valadão Albernaz. 

O surto foi contido a partir do isolamento dos pacientes e da vacinação de todos os passageiros que iriam desembarcar e embarcar no navio, totalizando 10 mil pessoas imunizadas.

Enfermeira da Vigilância Epidemiológica Municipal de Santos, Márcia Valadão Albernaz


Mais vacinação, menos doenças

No estado de São Paulo, em 2023, foram reportados 666 casos suspeitos de sarampo, que foram descartados. Em 2024, até maio, foram 169 casos suspeitos, 120 descartados e 49 em investigação, também sem confirmações. Em comparação, nos anos de 2020 e 2019, o estado registrou 867 casos e um óbito, e 15 mil casos e 14 óbitos, respectivamente.

A mudança vem sendo acompanhada pelo aumento da cobertura vacinal no estado: de 65% em 2022 para 72,8% em 2023 (esquema completo de duas doses). No município de São Paulo, a cobertura foi de 68,3% em 2022 para 85,5% em 2023. O mesmo foi observado na taxa de imunização completa do país, que subiu de 57,6% para 63,5% nos últimos dois anos.

A vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) dos 12 meses aos 59 anos de idade. Crianças devem ser vacinadas ao completar 12 meses, com duas doses em um intervalo de 30 dias. Para pessoas não imunizadas na infância, são recomendadas duas doses até os 29 anos e uma dose de 30 a 59 anos, de acordo com o Ministério da Saúde

 

Reportagem: Aline Tavares

Fotos: Renato Rodrigues e José Felipe Batista/Comunicação Butantan