Descrita há mais de 100 anos pelo herpetólogo e ex-diretor do Instituto Butantan Afrânio do Amaral, um dos animais mais brasileiros das nossas matas está ameaçado de extinção: a jararaca-ilhoa. E foi justamente para relembrar a importância da serpente nativa do Brasil e, ao mesmo tempo, comemorar o aniversário de sua descrição que o pesquisador Otavio Augusto Vuolo Marques decidiu organizar e lançar o livro “A Ilha das Cobras: biologia, evolução e conservação da jararaca-ilhoa na Queimada Grande”, da editora Ponto A. A obra homenageia não só a espécie, mas a ilha em que ela vive, da Queimada Grande, conhecida como “Ilha das Cobras”.
“Em função da ilha e o animal serem emblemáticos, existir uma série de fake news sobre a serpente e ela estar completando 100 anos, achei um momento propício para fazer a publicação”, conta Otavio, que trabalha no Laboratório de Ecologia e Evolução do Butantan. O livro faz um compilado de pesquisas sobre diversos aspectos relacionados ao animal, como veneno, estilo de vida, evolução, alimentação etc.
Entre as diversas curiosidades abordadas está a familiaridade com a jararaca do continente, já que as duas espécies são “irmãs”. Há 18 mil anos, na era glacial, boa parte da água da Terra estava concentrada nos polos em forma de gelo. Com isso, o nível do mar era bem mais baixo, e a ilha não existia – em outras palavras, o que hoje é a ilha era parte do continente. Quando a temperatura começou a se elevar, sete mil anos depois, os gelos dos polos derreteram, isolando o território. Com isso, um certo número de jararacas foi separado das demais.
As jararacas que ficaram na ilha evoluíram de forma diferente das que ficaram no continente, tendo que se adaptar a um ambiente mais restrito. Isso desencadeou o processo de especiação, que é a formação de novas espécies – a da jararaca-ilhoa.