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Histórias do Butantan: aos quase 50 anos, a colaboradora Eulália tornou-se mãe de 12

Entre filhos biológicos, adotivos e netos, Lalá – como é chamada – tem 23 pessoas sob sua responsabilidade. Fã de futebol, ela defende a camisa do Butantan e conta com uma torcida organizada especial


Publicado em: 12/05/2023

Sorriso no rosto, passos tranquilos, camisa do Butantan, acenos e paradas para abraços e beijos. Andar pelo instituto ao lado da oficial administrativa do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas Eulália Cristina Rodrigues é ver um simples trajeto se transformar em um caminho de carinhos. “Eu amo esse lugar! Estou aqui há mais de três décadas para ajudar as pessoas. Também sou muito sociável e converso até demais”, brinca. Conhecida entre os colegas como Lalá, nos últimos dois anos ela também tem atendido por um outro apelido: Mãe de Muitos – ou, mais precisamente, de 12: Bruna, Mayara, Gustavo, Denise, Thalia, Jean, Letícia, Adryelle, Vinícius, Stefhani, Camile e Audrey.

A servidora, que gestou Mayara, Adryelle e Audrey, viu sua vida mudar completamente em 2021, após perder repentinamente a irmã mais nova por conta de um infarto fulminante. “Eu e a Analice sempre fomos muito unidas. Meus sobrinhos, que tinham perdido o pai um ano antes, ficaram muito abalados e pediram que eu não os deixasse”, lembra emocionada. Desde então, tem se dedicado com muito amor e empenho à árdua missão de cuidar, guiar e aconselhar outros nove filhos. 

 

Três décadas no Butantan: todos os dias Lalá vem trabalhar com uma camiseta do instituto

 

A grande família

Adicionando os netos à conta, a colaboradora acumula 22 pessoas com idades que variam de 31 anos a 3 meses sob sua responsabilidade – até o final do ano, outros dois bebezinhos vão chegar à família. Os desafios são diários. Apesar de não morarem todos juntos, Eulália precisou se mudar para uma casa maior, visto que aos finais de semana todos se juntam para uma grande reunião familiar com o objetivo de aparar arestas e definir estratégias em prol de uma melhor convivência, além de ajudar uns aos outros. 

 

As filhas biológicas de Eulália, Adryelle, Mayara e Audrey. No colo da mais velha está o netinho Luiz Henrique, de 2 anos

 

“Brigar, definitivamente, não adianta. Quero que eles me escutem, então, falo de uma forma com os mais novos, de outra com os mais velhos, é uma psicologia. Todo dia aprendo com eles e eles comigo”, conta Lalá, que é chamada carinhosamente de “Mãezinha” pelos filhos.

Além de contar com a ajuda da própria mãe Regina, 76, e do esposo Júlio, 51, com quem é casada há 35 anos, a colaboradora sabe muito bem a importância do acolhimento da comunidade e da união com outras mulheres para trazer mais leveza ao maternar. “Tive muita sorte, pois Mayara, Adrielle e Audrey cresceram aqui no Butantan.” As três frequentaram o antigo Centro de Convivência Infantil (CCI) até quase os 7 anos e, mesmo depois, já em idade escolar, as duas mais velhas passavam uma parte do dia nas dependências do instituto até que a mãe finalizasse o expediente.

 

Quatro gerações: a matriarca da família, Regina, na companhia de sua filha, netos e bisnetos

 

Na época, os colaboradores do RH – área na qual Eulália trabalhava – providenciaram uma mesa com papéis e lápis-de-cor para que as crianças se distraíssem. “O pessoal do restaurante preparava o almoço da Mayara com todo cuidado. Já no período da Adryelle, fizemos um grupo para solicitar à diretoria que os transportes escolares pudessem entrar no IB para deixar as crianças. Deu certo e facilitou muito a nossa vida.” Orgulhosa, ela conta que todas as meninas saíram do CCI devidamente alfabetizadas, já sabendo ler e escrever. 

 

No Sindusfarma, Eulália entra em campo para jogar futebol, vôlei e basquete

 

Campeã

Seja como mãe ou oficial administrativa, Eulália é daquelas que faz aquilo a que se propõe com empenho e dedicação. No Butantan, ela é conhecida por, literalmente, vestir a camisa. Afinal, mesmo sem a obrigatoriedade de usar uniforme, todos os dias ela vem trabalhar usando uma camiseta diferente do instituto. São mais de 60 modelos na coleção.

Lalá também ama defender a camisa do Butantan nos Jogos Sindusfarma, competição que reúne colaboradores da indústria farmacêutica, quando entra em campo para jogar futebol, vôlei e basquete. Adepta da prática esportiva desde pequena, é como goleira que ela se destaca: já foi premiada como “goleira menos vazada” em um grande evento no Estádio do Pacaembu. Para manter as defesas em dia, joga quase todos os finais de semana no bairro onde mora e, claro, conta com uma torcida organizada muito especial. 

 

Orgulho em defender a camisa do Butantan dentro e fora de campo

 

“Outro dia meu time estava perdendo, fiquei bem chateada porque tinha deixado passar o gol. Até que, aos poucos, meus filhos e netos foram chegando na arquibancada”, conta. O placar acabou finalizando empatado e a partida precisou ser resolvida nos pênaltis. Resultado: vitória do time de Lalá com uma linda defesa da goleira. “Foi uma festa danada! Todo mundo entrou em campo para comemorar. Senti que a chegada deles me trouxe mais ânimo.” 

Um sentimento que se reflete, também, fora de campo. Por mais que a partida da irmã de Eulália tenha deixado um enorme vazio na vida de todos, a família conseguiu transmutar a dor e multiplicar o amor. “Aprendi que viver é bom e que amar é maravilhoso. Dá trabalho, é cansativo, mas a satisfação é enorme. Eles são tudo o que eu tenho”, finaliza.

 

Confira o vídeo da entrevista com a colaboradora:

 

Reportagem: Natasha Pinelli

Fotos: Renato Rodrigues/Comunicação Butantan