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CoronaVac ajuda a melhorar imunidade em pacientes transplantados, afirma estudo da Unifesp e USP


Publicado em: 28/07/2021

*Este texto é uma colaboração do jornalista científico Peter Moon para o portal do Butantan

Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Butantan, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Hemocentro de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que 43% dos pacientes transplantados de rim geraram anticorpos contra a Covid-19 15 dias após receberem a segunda dose da CoronaVac (ou seja, apresentaram soroconversão). O resultado indica que a vacina do Butantan e da farmacêutica chinesa Sinovac tem desempenho nesse público levemente superior ao de dois outros imunizantes, que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro, e geraram anticorpos em pouco mais de 30% dos casos, segundo estudos.

Esses dados mostram a importância da vacina também para todos os imunossuprimidos que, assim como os transplantados e as pessoas com doenças autoimunes, possuem maior dificuldade na defesa imunológica do organismo.

“Toda vacina é menos eficaz em quem é transplantado por causa do uso das medicações contra a rejeição ao transplante. Isso acontece com os imunizantes contra hepatite B, gripe, pneumonia, e também com a vacina contra o coronavírus”, explica o principal autor do artigo e professor titular da área de transplantes da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, José Medina. 

O trabalho foi desenvolvido no Hospital do Rim e seus resultados preliminares foram divulgados em artigo na revista Transplantation, a principal publicação mundial da área de transplantes. A pesquisa foi realizada entre 20 e 28 de março de 2021 com 3.354 pacientes transplantados renais entre 30 e 69 anos, que haviam realizado o transplante há mais de 30 dias, não apresentavam caso anterior de Covid-19 e completaram o esquema vacinal de duas doses da CoronaVac com intervalo de 28 dias.

“Como o número de transplantados é muito pequeno dentro da população em geral, assim que a maioria das pessoas estiver vacinada cairá a circulação do coronavírus, protegendo também os transplantados”, afirma Medina. As taxas de soroconversão entre os transplantados renais após a primeira e segunda doses da CoronaVac alertam para a necessidade de manutenção das medidas de proteção individual, como usar máscara, evitar aglomerações e higienizar sempre as mãos. 

Os receptores de transplante renal foram incluídos no calendário nacional de vacinação contra a Covid-19 no público prioritário com comorbidades a partir de abril, em função das elevadas taxas de mortalidade associadas ao SARS-CoV-2 nessa população (de até 30%).

As conclusões do estudo da Unifesp se somam a outra pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas da USP, na qual 1000 pacientes com doenças reumatológicas (também imunossuprimidos) foram vacinados com a CoronaVac. A imunização gerou uma resposta imune moderada nos pacientes: o acompanhamento pré e pós vacina mostrou 33 casos de Covid-19 antes da vacinação e apenas seis casos após a imunização.

A eficácia da CoronaVac foi comprovada no Brasil por meio de um estudo com 13.060 voluntários, todos profissionais da saúde, população altamente exposta à Covid-19. Os resultados finais do estudo clínico de fase 3 demonstraram que a eficácia geral do imunizante pode chegar a 62,3% quando o intervalo entre a primeira e a segunda dose da vacina é de 21 a 28 dias. Os dados foram divulgados na plataforma de preprints da revista The Lancet e estão em processo de revisão por pares.

 

Confira o artigo científico:

Medina-Pestana et al. 2021. Clinical Impact, Reactogenicity, and Immunogenicity After the First CoronaVac Dose in Kidney Transplant Recipients. Transplantation doi: 10.1097/TP.0000000000003901