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Cartão-postal renovado: entenda o processo de restauro do Edifício Vital Brazil

Inaugurado em 1914 e projetado para abrigar os laboratórios do Butantan, prédio-símbolo do instituto abriga a nova Biblioteca, que será aberta ao público a partir de 2/5


Publicado em: 20/04/2023

A vocação para abrigar e disponibilizar conhecimento sempre esteve no DNA do Edifício Vital Brazil, um dos mais famosos do Butantan. Prova disso é que o embrião do que é hoje a Biblioteca do instituto nasceu em conjunto com o prédio. Pouco mais de 100 anos após sua inauguração, que aconteceu em 1914, a edificação concebida pelo arquiteto e engenheiro Mauro Álvaro de Souza Camargo continua reunindo conhecimento científico e sediando a Biblioteca do Butantan, após passar por um processo de revitalização e reforma que levou anos e mobilizou centenas de funcionários.

“A característica arquitetônica dele é bem particular, reunindo muitos elementos importados e misturando um pouco da moda da época. Vemos essas características da Art Nouveau e da Art Déco nas linhas da construção, na decoração, no vidro jateado, no piso floreado. Tudo isso contribui para impor suntuosidade ao edifício, reforçando sua importância para a instituição”, conta a arquiteta do Núcleo de Arquitetura e Urbanismo da Divisão de Infraestrutura do Butantan Caroline Tonacci Costa.

 

Os arquitetos da Divisão de Infraestrutura do Butantan Caroline Tonacci e Tadeu Foa em frente à fachada do edifício símbolo do Instituto

 

A priori, a construção foi pensada para centralizar as atividades relacionadas à pesquisa e produção de soros e vacinas. Na época, laboratórios ocupavam todo o piso principal, enquanto a Biblioteca e a administração ficavam no andar superior. Com a expansão do instituto, os laboratórios foram ganhando espaço até chegarem ao pavimento inferior, originalmente destinado à circulação de ar. Ao longo dos anos, a consolidação de normativas de segurança e o constante desenvolvimento tecnológico foram deixando claro que o icônico edifício já não era o local mais adequado para a condução de experimentos – a primeira lei de biossegurança foi sancionada em 1995 e atualizada em 2005 (Lei de Biossegurança Nº 11.105). 

Uma vez que recuperar o uso inicial do prédio descaracterizaria muito sua estrutura, o mais indicado foi uma adequação. A proposta elaborada pelos arquitetos do Butantan foi remanejar os últimos laboratórios presentes na edificação para um outro lugar mais apropriado, e ampliar a função cultural do espaço. Além da Biblioteca, que será reinaugurada para o público interno e convidados no dia 28/4 e para todos os visitantes do Parque da Ciência em 2/5, o Edifício Vital Brazil abrigará as futuras instalações do Museu Histórico e um café. 

A reforma e o restauro da construção símbolo do Butantan demandaram cerca de três anos de estudos e projeto, e pouco mais de um ano de execução. Como a construção é listada no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), o plano passou por diversas instâncias de aprovação antes de poder ser colocado em prática.

 

Pintura restaurada do pai da vacina, Edward Jenner, localizada na Sala Cesário Motta do Edifício Vital Brazil

 

A execução da obra também trouxe grandes surpresas. Uma delas foi a evidência de pinturas murais escondidas por um forro de gesso. As ilustrações, recuperadas por técnicas de restauro em pintura, revelaram figuras marcantes da ciência, como Edward Jenner (1749-1823), responsável pela criação da vacina da varíola, e Louis Pasteur (1822-1895), cientista que revolucionou o combate a doenças infecciosas. Em um trabalho artesanal e detalhista, foram realizadas raspagens com bisturi para identificar as sete camadas de tinta que escondiam a primeira coloração adotada no prédio.

 

Narrativa centenária

Assim como em um livro, o processo de restauro de um prédio histórico pode fazer seus visitantes embarcarem em uma deliciosa viagem. Por isso, quem visita o Edifício Vital Brazil com olhos atentos consegue ler os detalhes, identificando os elementos novos e antigos. “Estamos contando uma história, então precisamos diferenciar o que foi do passado e o que é uma nova intervenção. É um processo de conhecimento e exploração”, afirma o gerente do Núcleo de Arquitetura e Urbanismo da Divisão de Infraestrutura do Butantan, Tadeu Foa.

Outra novidade são as chamadas “janelas pedagógicas”: aberturas estratégicas em forros ou paredes tampadas por vidro, revelando os detalhes de uma determinada estrutura. Já as novas instalações elétricas receberam acabamento aparente para facilitar o processo de manutenção e futuras alterações.

 

Feito em vidro, o novíssimo elevador tornou o prédio centenário acessível a todos

 

A construção de um elevador também foi ponto definidor da obra. Feito com vidro e metal, o item, combinado a outras adaptações, foi essencial para transformar o prédio centenário em um espaço acessível. “A questão da acessibilidade tornou-se fundamental para os prédios históricos e foi um dos conceitos que nortearam toda a obra”, reforça Tadeu. Em tempos de desinformação, o Butantan firma mais um compromisso para deixar a sabedoria ao alcance de todos e todas.

 

Reportagem: Natasha Pinelli

Fotos: Mateus Serrer/Comunicação Butantan