Os escorpiões estão cada vez mais próximos dos seres humanos e é no verão que eles mais aparecem, e que os acidentes aumentam. Geralmente os escorpiões são encontrados em cemitérios, terrenos baldios, em meio a materiais de construção e entulhos, podendo aparecer dentro das residências tanto em bairros nobres como em periferias - sendo que nestas o número de acidentes costuma ser ainda maior devido a deficiência no saneamento básico.
Dados do Ministério da Saúde registraram, em 2018, 141,4 mil casos de acidentes com escorpiões em todo o país. Em 2017, foram 125 mil registros de acidentes. Estão mais expostos os trabalhadores da construção civil, quem trabalha na rua, com esgoto ou movimentando materiais que ficaram parados; bem como crianças, que brincam pelo chão e quintal.
Uma das causas que aproxima os escorpiões da cidade é o fato de as áreas urbanas abrigarem muitas baratas, que são o alimento preferido desses aracnídeos. Por isso a importância de manter quintais, jardins e demais terrenos limpos e, se possível, sem entulhos. Recomenda-se o fechamento correto dos sacos de lixo, instalação de telas tanto nos ralos de casa como nas janelas e inclusão de sacos de areia nas frestas das portas.
De hábitos noturnos, os escorpiões ficam escondidos durante o dia, e de noite saem para se alimentar. É comum surgirem pela rede de esgoto e, por esse motivo, é bom evitar condições de umidade, como toalha pendurada ou roupa molhada no chão e também tapetes, que servem de abrigo. É importante também chacoalhar roupas e sapatos e, antes de colocar a mão em lugares escuros, olhar bem.
Proliferação
De acordo com Denise Candido, bióloga no Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan, o aumento da incidência de escorpiões nas cidades se dá por vários fatores. Um deles fica por conta do aquecimento global: altas temperaturas colaboram na proliferação, já que esses animais gostam de climas mais quentes.
Tanto é que a distribuição das 30 espécies mais perigosas do mundo está concentrada nas regiões tropicais e subtropicais. “O desmatamento ajuda, porque vai entrando na área dos animais, invadindo a área deles e tirando a comida. Basicamente, o crescimento desordenado nas áreas urbanas é justificado pelo aquecimento e o desmatamento”, explica.
Vale ressaltar que duas das espécies mais perigosas no Brasil – serrulatus e stigmurus – reproduzem-se assexuadamente por partenogênese, em que os óvulos se desenvolvem diretamente em embriões, sem serem fecundados. Isso contribui no aumento significativo da população de escorpiões. “Em transporte de madeira ou frutas, por exemplo, caixas que vêm de outras regiões, você pode trazer um exemplar de um filhote do escorpião amarelo e ele vai levar cerca de 10 meses para ficar adulto. Quando ele crescer não vai precisar ter outro; ele sozinho vai ter uma cria de 20 a 25 filhotes”, explica a bióloga.
Controle dos escorpiões
Segundo o Manual de Controle de Escorpiões, elaborado pelo Ministério da Saúde, a erradicação dessas espécies não é possível e nem viável; o que precisa ser feito é um controle em cima dessa população. Em São Paulo, por exemplo, órgãos competentes têm articulado programas de controle juntamente com o serviço de Controle de Zoonoses da Prefeitura.
As iniciativas consistem em intervenção nas áreas de risco, em que a gerência do Serviço de Saúde do município – que controla os acidentes – planeja as ações com base na avaliação da situação de ocorrência de escorpiões. Buscas ativas são realizadas dentro e fora das casas, visando a captura dos escorpiões, conhecimento e melhorias dos ambientes que são favoráveis à ocorrência e proliferação e, principalmente, a conscientização dos moradores.
Sobre a utilização de produtos químicos no controle de escorpiões, a bióloga Denise avalia: “Seguimos as recomendações dadas pelo Ministério da Saúde, em que nós não aconselhamos a utilização de produto químico no controle de escorpião. Porque são animais bastante evoluídos, têm resistência muito grande e vários órgãos sensoriais que ajudam eles a se desenvolver. Os produtos químicos passam uma falsa sensação de segurança. É preciso um trabalho minucioso de controle ambiental, e não utilizar inseticida, pois eles não são insetos”.
Como proceder em caso de acidente
Os acidentes por escorpiões podem ser divididos em três tipos – leves, moderados ou graves – e são mais frequentes na primavera e no verão, épocas em que a população do aracnídeo aumenta devido ao período de reprodução. O veneno, por ser neurotóxico, é capaz de mexer com todo o sistema nervoso e pode causar muita dor no local da picada, podendo se estender para o membro inteiro. Nesse caso, o médico faz infiltração de anestésico para que a dor fique localizada e diminua rapidamente.
Evoluindo para o caso moderado, a dor ficará mais intensa e o acidente pode causar suor excessivo, náuseas e vômitos, e a partir daí o moderado se torna grave. O agravamento leva à salivação, insuficiência cardíaca, edema pulmonar e até mesmo ao óbito. Para esses dois casos, utiliza-se a soroterapia. O médico avalia quantas ampolas serão necessárias de acordo com a evolução do caso, e o paciente pode ficar internado e em observação. Levar o animal para o atendimento médico pode ajudar a fazer o tratamento adequado mais rapidamente.
Após o acidente, Denise Candido recomenda não ingerir nada, muito menos bebida alcoólica. Nada disso vai amenizar a dor e nem agir contra o veneno. Também não é correto colocar gelo ou água fria no local da picada: isso faz com que a dor fique muito maior. A única coisa que age contra o veneno é o soro antiaracnídico e antiescorpiônico.
O que deve ser feito: em primeiro lugar, lavar o local da picada com água e sabão. Para aliviar a dor, pode ser feita compressa de água morna ou quente no local da picada. Depois, é preciso procurar o serviço de saúde mais próximo para fazer o atendimento apropriado e encaminhar o paciente aos locais indicados, disponíveis nos sites do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Ministério da Saúde. É importante saber que qualquer unidade de saúde vai encaminhar para um local que tenha soro.
Saiba o que fazer se encontrar um escorpião
É importante tomar muito cuidado ao encontrar um escorpião. Não pode colocar a mão e nem pisar. A bióloga Denise Candido explica que há casos em que as pessoas pisam na parte da frente do escorpião, se esquecendo que eles picam com a cauda.
Se for possível, é recomendado coletar o escorpião vivo para que ele possa ser identificado. Mas se a pessoa estiver em local isolado e sem condições de coletar o animal, pode sim matá-lo, e em seguida colocá-lo em um vidro com álcool. Depois, ela deve entrar em contato com o Instituto Butantan ou com o Controle de Zoonoses da cidade para a identificação e registro da espécie. Assim, é possível monitorar e verificar se na região aparecem mais casos.
Unidades de referência para atendimento no município de São Paulo:
1 - HOSPITAL VITAL BRAZIL/ Instituto Butantan - Av. Vital Brasil, 1500 - (11) 2627-9529/9530 ou 3723-6969
2 - HOSPITAL MUNICIPAL DR. CARMINO CARICCHIO - TATUAPÉ - Av. Celso Garcia, 4815 - (11) 3394-6980
2 - HOSPITAL GERAL DE TAIPAS - Av. Elísio Teixeira Leite, 6999 - (11) 3973-0444