As vacinas não causam autismo. Inúmeros estudos já analisaram essa questão e nenhum deles encontrou qualquer evidência sobre uma suposta relação entre a vacina e o autismo. Uma das maiores pesquisas sobre o assunto foi divulgada em 2015 no Journal of the American Medical Association e avaliou 95.727 crianças norte-americanas entre 2001 e 2012. A análise dos dados mostrou que a vacinação com uma ou duas doses da vacina tríplice viral (para sarampo, caxumba e rubéola), não estava associada ao risco aumentado de transtorno do espectro do autismo em qualquer idade.
Mas na década de 2000, esse boato – que de tempos em tempos volta a circular, sempre sem qualquer embasamento científico – ainda circulava com força no mundo. Isso porque, em 1998, o médico Andrew Wakefield havia publicado um artigo na revista médica The Lancet levantando a hipótese deste vínculo, partindo de um estudo realizado com 12 crianças.
Após a divulgação da pesquisa, as taxas de cobertura da vacina tríplice viral (MMR, na sigla em inglês) caíram expressivamente, fato que despertou o interesse do jornalista investigativo Brian Deer. Por meio de extensas investigações, Brian descobriu que Wakefield havia sido pago antecipadamente por bancas de advogados interessados em ações contra indústrias farmacêuticas para manipular informações.
Em 2004, o jornalista publicou uma reportagem no jornal dominical The Sunday Times na qual revelava a fraude. Quatro anos após a denúncia, a revista The Lancet fez uma retratação da publicação de 1998. Depois de uma disputa judicial, Andrew Wakefield perdeu o direito de exercer a medicina no Reino Unido.
Pesquisas realizadas posteriormente não encontraram qualquer correlação entre a vacina tríplice viral e o desenvolvimento de comportamentos relacionados ao autismo. Apesar dos fatos, até hoje milhares de pais, tanto no Reino Unido quanto em outras partes do mundo, especialmente na América do Norte e Europa, hesitam em vacinar seus filhos, trazendo de volta epidemias de sarampo, caxumba e rubéola – doenças que já estavam praticamente erradicadas. Além disso, o artigo fraudulento de Wakefield continua sendo citado por movimentos antivacina como uma “referência científica” para seus argumentos.
Histórias como a de Andrew Wakefield e Brian Deer mostram que conferir a credibilidade das fontes de informação é fundamental para que possamos tomar decisões conscientes e bem embasadas.
*Este artigo é uma colaboração de Maria Teresa Ghiuro Valentini Abdullatif e Paulo Henrique Nico Monteiro para o Portal do Butantan