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Entenda 4 diferenças entre a terapia celular CAR-T para o câncer e a quimioterapia

Tratamento inovador que usa as próprias células de defesa do paciente será disponibilizado pelo Butantan e pela USP


Publicado em: 04/04/2023

Um tratamento individualizado, com poucas reações adversas, que “ensina” o próprio sistema imune a destruir o câncer: essa é a terapia celular CAR-T, que já se mostrou eficaz contra cânceres de sangue e que oferece uma série de vantagens em relação à quimioterapia, tratamento oncológico mais tradicional. A CAR-T é aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos e, no Brasil, ela será produzida em duas unidades de terapia avançada inauguradas em 2022 pelo Instituto Butantan, pela Universidade de São Paulo e pelo Hemocentro de Ribeirão Preto. As instituições irão conduzir um estudo clínico e a expectativa é que o tratamento de ponta – que chega a custar US$ 500 mil – seja disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS) nos próximos anos.

Por enquanto, a CAR-T só pode ser aplicada em pacientes com câncer avançado que já tentaram terapias convencionais, como a quimioterapia, e não tiveram sucesso. Devido ao seu alto potencial de eliminar as células cancerígenas e à sua baixa toxicidade, as células CAR-T podem se tornar um tratamento de primeira linha no futuro, que seria usado em estágios iniciais da doença.

Entenda as diferenças entre a terapia com células CAR-T e a quimioterapia:


1.    Menos efeitos adversos

Na terapia CAR-T, as células de defesa do paciente (linfócitos T) são coletadas, reprogramadas geneticamente e depois reinseridas no paciente para destruir as células tumorais. Isso induz uma “tempestade de citocinas”, ou seja, uma resposta inflamatória intensa, mas controlável, que acontece nos primeiros dias após a aplicação. Entre seus possíveis efeitos adversos, pode ocorrer febre e diminuição da pressão arterial. No entanto, para receber células CAR-T, é preciso que o paciente esteja estável para que ele possa aguentar a resposta inflamatória, o que fica a critério do médico.

A quimioterapia, por sua vez, desenvolvida desde a década de 1950, é feita por meio da aplicação de medicamentos potentes que destroem células tumorais, mas também células normais, pois não as diferenciam. Em geral, ela costuma ser indicada como primeira ou segunda linha de tratamento. As reações adversas podem incluir náuseas, vômitos, dor de cabeça, perda de apetite, fadiga, queda de cabelo, redução da resistência a infecções etc.

 

2.    Tratamento mais rápido

O processo entre a coleta do sangue do paciente, a modificação das células em laboratório e a aplicação da terapia pode levar cerca de 60 dias. Antes de receber a infusão das células CAR-T, o indivíduo é internado e recebe uma quimioterapia leve, porém diferente da tradicional, para “acalmar” os linfócitos, chamada de linfodepleção. Após a infusão, o paciente permanece em observação no hospital por cerca de uma a duas semanas e depois já pode ir para casa, e continua fazendo acompanhamento médico semanal, quinzenal e mensal.

Já a quimioterapia ocorre em ciclos, com aplicações que podem ser diárias, semanais, quinzenais ou mensais, a depender do tipo de câncer e dos tipos de drogas quimioterápicas. É necessário um período de descanso entre os ciclos para o organismo se recuperar. A duração do tratamento varia de acordo com cada caso, mas em geral pode durar meses ou anos.

 

3.    Alvo específico em células cancerígenas

Os linfócitos T modificados (células CAR-T) contêm a informação genética do receptor de CD-19, um antígeno presente nas células tumorais do câncer de sangue. Isso permite que o linfócito localize e se ligue às células do câncer, como uma peça de quebra-cabeças, e ataque somente essas células – diferentemente dos medicamentos quimioterápicos, que não possuem um alvo específico e acabam atacando também as células saudáveis.

 

4.    Mais eficaz contra recidivas

Estudos sobre terapia celular têm mostrado que pacientes que apresentam recidiva (retorno da doença) têm mais chances de alcançar remissão com a CAR-T. Isso porque alguns tipos de câncer mais agressivos acabam desenvolvendo resistência aos quimioterápicos ou a outras terapias tradicionais, dificultando a cura. Casos refratários que foram tratados com células CAR-T chegaram a mostrar uma taxa de resposta imediata de 90% e em torno de 60% de sobrevida livre da doença.

No primeiro ensaio clínico da terapia CAR-T, feito nos EUA em 2010, dois pacientes com leucemia linfoide crônica em estágio terminal alcançaram remissão completa. Uma década depois, eles continuam livres da doença, e as células CAR-T ainda são detectáveis no organismo, de acordo com artigo publicado na revista Nature. No Brasil, alguns pacientes com câncer já receberam o tratamento no Hemocentro de Ribeirão Preto e também obtiveram remissão.