O Butantan realizou na última quinta (13/6) seu 6º Encontro dos Alunos de Iniciação Científica e Inovação Tecnológica, com a apresentação de 64 trabalhos realizados por estudantes de graduação de instituições públicas e privadas nos laboratórios do Instituto. Orientado pelo tema “Visão plural da ciência no Instituto Butantan”, o evento também promoveu palestras de pesquisadores do Butantan e de convidados de outros órgãos científicos.
Os universitários fazem parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), que são financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com apoio da Fundação Butantan. Todos os trabalhos foram avaliados por uma banca julgadora composta por pesquisadores do Butantan e de outras instituições e, ao final, 11 projetos foram escolhidos como destaque.
“A iniciação científica é uma oportunidade para entrar em contato com a ciência ainda na graduação. Muitos de nós do Butantan fizemos iniciação científica e nunca vamos nos esquecer porque é um período maravilhoso, que nos contagia e até direciona nossas vidas”, destacou em seu discurso o vice-diretor do Instituto Butantan e diretor do Centro de Ensino, Rui Curi.
Rui Curi em discurso de abertura do evento
Para a coordenadora do programa PIBIC e PIBITI no Butantan, Eliana Faquim, a dinâmica de apresentação de trabalhos em pôsteres e a interação com os cientistas convidados são oportunidades únicas para trocar experiências e ouvir histórias da vida real de um pesquisador.
“O que a gente mais observa é que a vibração que os estudantes trazem é fundamental para o crescimento dos laboratórios. Acredito que não existe outra possibilidade de evolução de um laboratório de pesquisa e inovação sem a troca profissional e pessoal entre os jovens e os pesquisadores”, disse Eliana.
Eliana destacou a importância dos jovens para o desenvolvimento dos laboratórios
O PIBIC está estabelecido no Butantan há 21 anos e o PIBIC, há 14. Os programas ajudam a pavimentar a carreira de futuros cientistas, já que promovem a formação de estudantes de graduação nos métodos científicos e conceitos fundamentais para a produção do conhecimento por meio da concessão de bolsas.
Palestras inspiradoras
Na primeira palestra do dia, a diretora do Centro de Desenvolvimento Científico (CDC) do Butantan, Sandra Coccuzzo, deu um panorama histórico da parceria entre o Butantan e o CNPq, reforçando que a construção da história científica dos estudantes é importante para a ciência brasileira.
“A iniciação científica desperta o interesse dos alunos e proporciona o aprimoramento da parte técnica e científica, que é bastante exigida na pós-graduação. Ou seja, para quem está pensando em uma vida acadêmica ou mesmo dentro da área profissional tecnológica, essa é uma porta fundamental”, afirmou.
Sandra contou a história entre o Butantan e o CNPq
A coordenadora dos programas acadêmicos do CNPq, Lucimar Batista de Almeida, foi uma das convidadas externas do evento e apresentou a palestra “Visão do CNPq sobre os programas PIBIC e PIBIT”. Em sua fala, parabenizou o Butantan pelo tema proposto aos estudantes em 2024 destacando a diversidade, o respeito e a pluralidade de ideias que a ciência exige.
“A iniciação científica e tecnológica é importante porque abre oportunidades no meio acadêmico e profissional. Reconhecer e saber lidar com diferentes conhecimentos, culturas e realidades são fundamentais para a construção de novos conhecimentos e a criação de condições para mudanças estruturais em nossa sociedade”, aconselhou Lucimar.
Lucimar foi uma das convidadas externas no encontro
O diretor técnico do Laboratório Multipropósito do Butantan, Renato Astray, apresentou as atividades desenvolvidas pelo Centro de Desenvolvimento e Inovação (CDI) na pesquisa básica e em projetos de inovação. “O Butantan valoriza o conhecimento e as pessoas que são bem formadas. Por isso, é muito importante todo esse processo desde a iniciação científica até a especialização da pós-graduação”, salientou.
Renato falou dos trabalhos de inovação desenvolvidos pelo CDI
Inspiração para os futuros cientistas
O encontro teve ainda a participação da pesquisadora do Laboratório de Neurociências do Hospital Sírio-Libanês Rosana Lima Pagano, que começou sua carreira na iniciação científica exatamente no Butantan, em 1995, no Laboratório de Fisiopatologia. Ela contou com felicidade histórias vividas no Instituto, onde não só realizou pesquisas, mas participou de ações interativas nos museus e fez amizades para a vida toda.
O tema da palestra tinha tudo a ver com sua vida profissional: “Minha trajetória científica nos caminhos plurais do sistema nervoso”, que é justamente sua área de pesquisa. “Sou uma entusiasta da iniciação científica e esse é o momento para sabermos o que a gente quer da vida. Foi assim que me encontrei profissionalmente”, celebrou Rosana.
Rosana iniciou sua carreira de cientista no Butantan
Os estudantes também ouviram as palavras do biólogo e tecnologista do Laboratório de Biologia Estrutural e Funcional do Butantan Pedro Luis Mailho Fontana, com a palestra “Sapeando por aí: uma trajetória profissional dentre muitas outras possíveis”.
“A carreira científica não é fácil e exige muito de nós. Por isso que eu digo para os estudantes se manterem fiéis ao que acreditam, estarem abertos a mudar de opinião e assumirem suas responsabilidades e erros”, disse Pedro.
Nascido no interior de São Paulo, em Cândido Mota, Pedro contou a história de sua vida até chegar no Butantan em 2009 para participar do Programa de Aprimoramento Profissional em Biologia Animal. Recentemente, ele publicou um artigo na revista científica Science, que detalha uma descoberta sobre as cobras-cegas, anfíbios também conhecidos como cecílias. De acordo com o estudo, os filhotes do animal são alimentados pelas mães no início de suas vidas com uma substância composta de nutrientes que se assemelha ao leite dos mamíferos e é secretada pela cloaca.
Pedro contou suas histórias como colaborador do Laboratório de Biologia Estrutural e Funcional
Destaques e premiações
A última parte do evento foi reservada para o anúncio e entrega de certificados aos estudantes que tivesse realizados os trabalhos de iniciação científica de maior destaque – escolha realizada após as apresentações dos pôsteres e avaliação da comissão julgadora de pesquisadores. As premiações foram divididas nas categorias Bioquímica, Farmacologia, Microbiologia e Imunologia e Cultural.
Um dos trabalhos de destaque foi o projeto que aborda os efeitos sistêmicos do envenenamento de Bothrops jararaca em camundongos, da estudante Julia Oliveira Alkmin. “Estar aqui no Butantan era um sonho desde criança e sempre me imaginei trabalhando com isso. Receber esse prêmio de um instituto tão importante no Brasil é uma honra”, celebrou. Julia desenvolveu seu estudo no Laboratório de Toxinologia Aplicada (LETA) com o acompanhamento da pesquisadora Bianca Carla Silva Campitelli de Barros.
Julia foi uma das premiadas no 6º Encontro
A aluna Caroliny Saifi avaliou a influência da senilidade no veneno de serpentes Bothrops atrox e as alterações que ocorrem com o avanço da idade desses animais no Laboratório de Herpetologia, sob a orientação de Anita Mitico Tanaka-Azevedo. “Foi maravilhoso ganhar o reconhecimento e foi uma experiência enriquecedora poder mostrar o meu trabalho em um lugar tão grande e importante para o Brasil e o mundo”, comemorou a estudante.
Caroliny celebrou a oportunidade de estar no Butantan
O estudante Caio Oliveira Mendes, que também foi homenageado no encontro de 2023, recebeu mais um reconhecimento neste ano. Seu estudo, desenvolvido no Laboratório de Estrutura e Função das Biomoléculas com a orientação da pesquisadora Fernanda Portaro, busca novos medicamentos para o rejuvenescimento corporal e facial, além de novas terapias medicamentosas.
“A sensação de participar da iniciação científica no Butantan é maravilhosa, pela possibilidade de fazer a pesquisa e simplesmente por estar aqui dentro. É o famoso Butantan, então estar aqui é um sonho. E ser premiado após uma sabatina de perguntas é gratificante porque mostra que o esforço valeu a pena”, disse o estudante.
O projeto de Caio foi reconhecido pelo segundo ano seguido
Também foram premiados os estudantes Matheus Ramos da Silva, Ketlyn Galhardo, Bruna Gennari Rosa, Tais Carolina Bronzato, Agatha Fischer Carvalho, Pedro Jardim e Beatriz de Lima Ruschioni.
Reportagem: Mateus Carvalho
Fotos: José Felipe Batista