A tecnologia de vírus inativado utilizada na produção da CoronaVac, vacina do Butantan e da Sinovac contra a Covid-19, é a estratégia mais estudada e consolidada entre os imunizantes aplicados no mundo e é comprovadamente segura e eficaz. Esse tipo de vacina é aplicado há mais de 60 anos em bebês com poucos meses de vida, até em adultos, contra doenças como poliomielite, influenza, hepatite A e raiva. Mas o que sua tecnologia realmente quer dizer e por que ela é sinônimo de segurança?
Este tipo de imunizante contém o próprio patógeno que se quer combater, porém inativado, ou seja, “morto” por agentes químicos ou físicos, evitando que a vacina provoque a doença, já que o vírus não se replica no organismo. Desta forma, o imunizante “engana” o sistema imunológico, fazendo-o acreditar que existe uma infecção, e evita que a pessoa adoeça caso tenha contato com o vírus. “A vacina apresenta fragmentos purificados do vírus inativado, o que chamamos de antígenos, que fazem com que o sistema imune responda ao vírus e consiga combater a doença em caso de uma infecção”, explica a diretora do Laboratório de Virologia do Butantan, Viviane Botosso.
Uma das grandes vantagens das vacinas de vírus inativado é que ela causa poucas ou praticamente nenhuma reação após o uso, o que a torna bastante segura para crianças, sobretudo as muito pequenas, explica a diretora de Inovação do Butantan, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi. “As vacinas de vírus inativado são seguras e normalmente são as que causam menos reações adversas”, afirma.
As vacinas inativadas são utilizadas no mundo há quase 70 anos, desde a criação do primeiro imunizante feito com essa plataforma, a vacina contra poliomielite, desenvolvida por um virologista americano em 1955. No mesmo ano, a vacina também começou a ser aplicada em baixa escala no Brasil. A partir de 1973, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) passou a ser responsável pela distribuição de vacinas para toda a população.
Conheça abaixo as vacinas de vírus inativado usadas no Brasil, quando elas devem ser aplicadas e suas características:
1. Influenza (gripe): pode ser tomada a partir dos seis meses
A vacina contra a gripe, produzida pelo Instituto Butantan e atualizada anualmente, protege contra os três tipos de vírus influenza predominantes no ano anterior e detectados pela Organização Mundial da Saúde. Ela foi criada na década de 1930 e deve ser tomada todos os anos, já que o vírus possui uma elevada taxa de mutação. As crianças podem começar a receber a vacina a partir dos seis meses de idade.
O imunizante é produzido a partir da inoculação do vírus em ovos embrionados de galinhas. Após um período de incubação, o líquido alantóico que envolve o embrião é colhido, centrifugado, concentrado, fragmentado e inativado, originando uma suspensão da vacina monovalente, isto é, de uma cepa do vírus. A vacina trivalente é resultado da mistura das três suspensões de cada monovalente.
2. Hepatite A: indicada a partir dos 15 meses
Este imunizante, também produzido pelo Butantan, é feito a partir do vírus da hepatite A propagado em cultura de células humanas, que é posteriormente purificada e inativada. A vacina existe desde 1992 e deve ser aplicada a partir dos 15 meses de idade. O vírus, que pode ser contraído por água ou alimentos contaminados, causa uma infecção no fígado caracterizada por sintomas como fadiga, náuseas, dor abdominal, perda de apetite e febre baixa.
3. Raiva: indicada após mordida de animais
A primeira vacina contra a raiva (antirrábica) foi desenvolvida na década de 1880 pelo cientista francês Louis Pasteur. Ela é indicada para pessoas que sofreram acidentes, como mordidas, com animais possivelmente infectados. No Butantan, a vacina é produzida em uma linhagem de células Vero, sem a utilização de componentes de origem animal, e apresenta um alto grau de pureza e uma eficiente resposta imunológica. A raiva é uma doença grave que atinge o sistema nervoso e pode causar a morte.
4. Poliomielite: indicada aos dois, quatro e seis meses
A versão inativada da vacina contra poliomielite existe desde 1955 e é indicada principalmente para crianças imunossuprimidas, que não podem tomar a vacina oral atenuada – a famosa vacina aplicada em gotinhas, que usa outra tecnologia, a de vírus atenuado (feitas com o vírus ativo capaz de imitar a infecção, porém sem capacidade de causar doença). Deve ser administrada em três doses aos dois, quatro e seis meses de idade. A poliomielite é uma doença altamente contagiosa que, em casos mais graves, acomete o sistema nervoso e pode causar paralisia permanente nas pernas ou braços.