Duas pesquisas publicadas nas últimas semanas por cientistas chilenos dão provas de que a CoronaVac, vacina do Butantan e da farmacêutica chinesa Sinovac, é eficiente no combate à Covid-19 e eficaz contra as novas variantes do SARS-CoV-2. No primeiro estudo, os indicadores de anticorpos neutralizantes gerados pelo imunizante foram acima de 97% contra a cepa original do vírus, acima de 80% contra as variantes alfa e gama e acima de 75% contra a variante delta. No segundo estudo, a eficácia da CoronaVac para evitar o desenvolvimento de casos de Covid-19 foi superior a 90% em um grupo de mais de duas mil pessoas.
Ambas pesquisas são de autoria de cientistas da Pontifícia Universidade Católica do Chile, do Instituto de Saúde Pública do Chile e da Universidade do Chile e foram publicadas na revista científica Frontiers of Immunology. A importância dos estudos se deve ao fato de que a vacinação no país andino foi feita preponderantemente com a CoronaVac, com 70% das pessoas recebendo o imunizante do Butantan. Até a última sexta (29), o governo chileno havia vacinado 97,1% da população, utilizando 36,8 milhões de doses em um esquema vacinal que incluiu dose de reforço.
Eficácia da CoronaVac contra as variantes do SARS-CoV-2
De acordo com o estudo Recognition of variants of concern by antibodies and T cells induced by a SARS-CoV-2 inactivated vaccine, publicado de forma preliminar em 21/10, a CoronaVac promoveu a secreção de anticorpos capazes de bloquear o domínio receptor-obrigatório (RBD, do inglês receptor-binding domain, partes específicas do coronavírus que lhe permitem invadir e infectar células humanas) de todas as variantes de preocupação do SARS-CoV-2. As taxas de soropositividade de anticorpos neutralizantes registradas foram acima de 97% para a cepa original, de mais de 80% para as variantes alfa e gama, de mais de 75% para a variante delta e de mais de 60% para a variante beta.
Para fazer essa análise, os pesquisadores avaliaram os voluntários inscritos no ensaio clínico de fase 3 que foram imunizados com duas doses de CoronaVac no Chile. Após a administração da segunda dose, foram coletadas amostras de soro para medir a capacidade de neutralização de anticorpos contra as variantes de preocupação. “É importante ressaltar que, após a infecção por SARS-CoV-2, a capacidade de bloqueio de anticorpos de voluntários vacinados aumentou para todas as variantes testadas”, ressaltaram os cientistas. Segundo eles, a imunização com CoronaVac em qualquer esquema estimula respostas celulares contra todas as variantes de preocupação e contribui para neutralizar a infecção causada pelo vírus.
Entre 2.263 chilenos vacinados com CoronaVac, apenas 45 desenvolveram Covid-19
Já o estudo Immune Profile and Clinical Outcome of Breakthrough Cases After Vaccination with an inactivated SARS-CoV-2 Vaccine, publicado no final de setembro, avaliou a segurança, a imunogenicidade e a eficácia da CoronaVac para evitar casos graves de Covid-19. Dos 2.263 indivíduos totalmente vacinados no final de junho de 2021, apenas 45 (ou seja, 1,99%) apresentaram sintomas de infecção sintomática decorridos 14 dias ou mais da segunda dose.
Destes 45, 43 desenvolveram quadros leves. As exceções foram dois casos de homens com mais de 60 anos. O primeiro deles, um homem de 62 anos com duas comorbidades (hipotireoidismo e obesidade), desenvolveu um quadro moderado e necessitou de oxigenação suplementar. O segundo, um homem de 69 anos com quatro comorbidades (obesidade, hipertensão, aorta bicúspide e fibrilação atrial), evoluiu para um quadro de maior gravidade e precisou de ventilação mecânica. Ambos se restabeleceram e passam bem.
Os pesquisadores salientaram que a vacinação com CoronaVac é eficaz. “Os casos da doença foram em sua maioria leves e não necessariamente se correlacionaram à falta de imunidade induzida pela vacina, sugerindo que outros fatores, a serem definidos em estudos futuros, poderiam levar à infecção sintomática após a vacinação com CoronaVac.”
*Este texto é uma colaboração do jornalista científico Peter Moon para o portal do Butantan