Um mês depois do início da Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza, que seguirá até o dia 31 de maio, somente 30% da população-alvo tomou a vacina – cerca de 20 milhões entre as 80 milhões de pessoas dos grupos prioritários, segundo dados do LocalizaSUS. Em 2022 e 2021, a cobertura ficou em 68% e 72%, enquanto atingia índices acima de 90% nos anos anteriores. A gripe provoca 1 bilhão de casos e 650 mil mortes por ano no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por se tratar de um vírus em constante mutação, se vacinar todos os anos é essencial para evitar as consequências graves da doença.
Na atual campanha, os estados brasileiros com menor cobertura vacinal do público-alvo são Acre (11%), Roraima (15%), Rondônia (17%) e Rio de Janeiro (18%). Em São Paulo, o índice de imunização está em 28%. Os estados com maiores taxas são Paraíba (40%), Amazonas (37%), Goiás e Ceará (ambos com 35%).
O vírus influenza pode infectar pessoas de todas as idades, mas tende a causar quadros mais graves em idosos, gestantes, crianças menores de cinco anos e indivíduos com doenças crônicas. As complicações respiratórias provocadas pela infecção podem levar à morte: nos últimos dois anos, o número de óbitos por gripe aumentou 78%, de acordo com o Ministério da Saúde.
Além de impactar a saúde individual e coletiva, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim) informa que pesquisas dos Estados Unidos demonstram que a gripe causa prejuízos econômicos na casa dos bilhões de dólares anuais, não apenas pelos custos com hospitalização, mas pela perda de vidas e pela queda de produtividade devido à falta ao trabalho.
Para a médica imunologista Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical, um dos motivos que ajudam a explicar a dificuldade para atingir as metas de vacinação nos últimos anos é que a percepção de risco da população em relação às doenças infecciosas de modo geral tem mudado, justamente porque os imunizantes ajudam a reduzir a transmissão. “O fato de já termos controlado muitas doenças faz com que as pessoas deixem de vê-las como um problema e acabem não se vacinando ou deixando a vacina para depois”, aponta.
Com isso, doenças já erradicadas no Brasil como a poliomielite, que causa paralisia infantil, correm o risco de voltar – houve uma queda na cobertura de 96,5% em 2012 para 67,6% em 2021. Já a vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba), por exemplo, registra índices abaixo do esperado desde 2017, o que explica os surtos de sarampo que vêm acontecendo nos últimos anos. Esse vírus é altamente contagioso e pode causar pneumonia e inflamação no cérebro em casos mais graves.
Para a médica infectologista Glória Brunetti, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, outro aspecto que contribui para a hesitação vacinal são as informações falsas que circulam pela internet. “Fake news mata. Durante a pandemia, eu ouvi muitas pessoas falarem ‘se eu soubesse da importância, eu teria tomado a vacina antes, em vez de tomar medicações sem comprovação científica’. E muitas vezes, infelizmente, as pessoas não chegam a ter tempo de mudar de opinião”, diz.
Vacina da gripe é segura
O imunizante contra influenza produzido pelo Instituto Butantan e disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS) é feito com o vírus fragmentado e inativado, ou seja, incapaz de causar doença. As cepas presentes na vacina são atualizadas todos os anos de acordo com as orientações da OMS, uma vez que os vírus influenza sofrem mutações frequentemente.
Os eventos adversos são leves e passageiros, podendo incluir dor, vermelhidão e inchaço no local da aplicação em 15% a 20% dos vacinados. De acordo com a SBim, manifestações sistêmicas são menos frequentes e reações anafiláticas são extremamente raras. Pode ocorrer febre, mal-estar e dor muscular em menos de 10% dos vacinados, de 6 a 12 horas após a vacinação, persistindo por um a dois dias. Isso geralmente acontece na primeira vez em que a vacina é administrada.
Pessoas com doenças febris e Covid-19 devem esperar a melhora para se vacinar. Em indivíduos com histórico de reação alérgica grave (anafilaxia) a ovo, a vacina deve ser administrada com supervisão médica e em ambiente adequado para tratar manifestações alérgicas. O imunizante é contraindicado para menores de 6 meses de idade e pessoas que já tiveram anafilaxia após tomarem a vacina.
Reportagem: Aline Tavares
Fotos: Renato Rodrigues/Comunicação Butantan