Quem nunca ouviu dos avós, pais ou outros familiares que ficar “com pé no chão” faz mal? Que bebida muito gelada pode causar dor de garganta ou, ainda, que tomar chuva pode te deixar gripado? São muitas as crenças populares sobre saúde que compõem as conversas dos adultos com as crianças e são passadas de geração em geração até hoje. Mas será que isso tudo é verdade?
A resposta é: não! “Pegar friagem”, seja ficando descalço, dançando na chuva ou aproveitando um delicioso milkshake, não causa nenhum mal por si só. O que provoca gripe, resfriado e outras doenças respiratórias são os famosos vírus e bactérias. Esses microrganismos estão amplamente presentes na natureza e são capazes de entrar no nosso corpo e gerar uma infecção. Ainda bem que, graças à ciência, existem vacinas que nos protegem contra os tipos mais perigosos e evitam a disseminação de doenças.
No caso da dor de garganta, vale lembrar que ela pode ter diversas causas, não só infecções, mas também irritação devido à baixa umidade do ar e poluição, por exemplo. Se você está com a garganta dolorida por conta de uma inflamação, o líquido gelado pode até aliviar o problema, pois apresenta efeito anti-inflamatório (lembra que usamos gelo para aliviar dores musculares?). Porém, cuidado: se a dor de garganta é decorrente de uma infecção viral ou bacteriana, a bebida gelada pode intensificar a irritação – mas ela jamais vai causar nada sozinha.
O frio também não é, necessariamente, o seu inimigo. A simples exposição a baixas temperaturas não te faz ficar gripado ou resfriado. O que acontece é que essas doenças são mais comuns no inverno, porque é quando as pessoas ficam mais aglomeradas em locais fechados, favorecendo a transmissão de patógenos. Além disso, muitos vírus sobrevivem melhor no tempo frio e seco.
Para completar, as mucosas do nariz, garganta e olhos ficam ressecadas: a falta de secreções protetoras repletas de anticorpos facilita a passagem dos patógenos. E, como sabemos, não é só no frio que o ar pode ficar seco – no verão também, apesar de ser menos comum, por isso esse efeito também pode ser observado em épocas quentes. A orientação para evitar problemas respiratórios é hidratar-se bastante, manter os ambientes ventilados, lavar as mãos com frequência, aplicar soro fisiológico no nariz e nos olhos para evitar ressecamento e, quando possível, utilizar umidificadores de ar.
Também é recomendável evitar choque térmico – aquelas mudanças bruscas de temperatura que acontecem, por exemplo, quando saímos da casa quentinha para o frio da rua, ou do ambiente com ar-condicionado para o calor do quintal. Ao sofrer choque térmico, os cílios das nossas mucosas, “soldados” responsáveis por impedir a entrada de partículas indesejadas, ficam temporariamente paralisados. Assim, ficamos mais vulneráveis à entrada de algum microrganismo invasor.
Estou espirrando e tossindo, será que estou doente? Não necessariamente
O ressecamento causado pelo tempo seco pode deixar as vias aéreas irritadas, desencadeando espirros e tosse, mas isso nem sempre significa que há uma gripe ou resfriado. Espirro, tosse e coriza são reflexos de defesa do nosso organismo para manter as áreas respiratórias úmidas, e que costumam ser “ativados” quando estamos expostos ao frio ou ao ar muito seco. Isso pode acontecer mais com pessoas que possuem hipersensibilidade ao entrarem em contato com baixas temperaturas de repente.
Reportagem: Aline Tavares
Arte: Lorena Weinketz e Milena Martins/Comunicação Butantan